Vitamina da avó, presente de Cuca e fé inabalável: Jailson conta suas histórias
Prestes a completar 500 dias sem perder um jogo, goleiro fala ao LANCE! sobre a relação com a avó, o elo com Cuca, a lesão que assustou a torcida do Palmeiras e sua boa fase
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Jailson não sabe o que é perder um jogo há 499 dias. Neste período, ele participou de 26 partidas, ficou na reserva, voltou a ser titular, sofreu uma rara lesão no quadril, reconquistou a vaga entre os 11... Tudo isso sem tirar o sorriso do rosto.
- Não posso reclamar de nada, muito pelo contrário. Sempre agradeço por estar no clube que amo e podendo fazer o meu trabalho - disse o goleiro, que só tinha clubes menores no currículo quando chegou ao Palestra Itália, em 2014, cercado de desconfiança por ser reserva no Ceará.
Essa trajetória improvável tem alguns ingredientes curiosos, como beterraba, cenoura, ovo de codorna... Não entendeu? Jailson explica:
A vitamina 'mágica'
Beterraba, cenoura e ovo de codorna são alguns dos componentes de uma vitamina que dona Nascife, a avó de Jailson, preparava para ele durante a infância.
- Ela sempre fazia essa vitamina especial, só ela sabia fazer. Cresci tomando e deu certo (risos) - recorda-se o goleiro, que já está com 36 anos, mas é tratado pela avó materna com o mesmo carinho de quando tinha 13.
Foi com essa idade que seus pais se separaram e ele passou a morar com a avó. Nascife, que era empregada doméstica, usava o dinheiro de sua condução para pagar o transporte do neto até os treinos do Joseense, primeiro clube dele, em 2000.
- Minha avó é uma das pessoas que mais amo no mundo. Com certeza foi fundamental por todo o apoio que me deu, pela minha criação. Serei sempre grato a ela.
A fé move montanhas
Jailson herdou da avó a devoção por Nossa Senhora Aparecida. Mesmo nos momentos difíceis - que não foram poucos ao longo da trajetória como atleta - ele nunca deixou de ter fé.
Quem poderia imaginar que um goleiro de 33 anos, com passagens por Joseense, Campinense-PB, Ituano, Guaratinguetá, Juventude, Oeste e Ceará, seria contratado pelo Palmeiras no ano do centenário do clube? Palmeirense na infância, Jailson nunca perdeu a fé.
- Eu mais agradeço do que faço promessas. Sou muito devoto de Nossa Senhora, então estou sempre rezando e agradecendo por tudo - diz o goleiro, que tem uma imagem da santa tatuada no braço esquerdo.
O elo com Cuca
O sonho de ser jogador do Palmeiras se concretizou no fim de 2014, mas ainda restavam algumas pedras no caminho de Jailson. Um ano depois de ser contratado, com apenas dois amistosos e um jogo oficial pelo clube, ele sofreu uma grave lesão no tendão do pé direito e precisou passar por cirurgia. Ele perseverou, voltou aos treinos, mas seguia na reserva de Fernando Prass. Até que surgiu um outro devoto de Nossa Senhora em seu caminho.
Com Prass convocado para a Olimpíada - e posteriormente machucado - e Vagner falhando na missão de substituí-lo, o técnico Cuca decidiu dar uma chance a Jailson no jogo contra o Vitória, na última rodada do primeiro turno do Brasileirão de 2016. Ali, a história começou a mudar de vez: foram 19 jogos com ele no gol naquele campeonato e nenhuma derrota. Palmeiras campeão. Sua única derrota naquele ano - e em toda a passagem pelo clube - foi para o Grêmio, por 2 a 1, pela Copa do Brasil.
- Sou muito grato ao Cuca. Ele é um profissional com quem aprendi e cresci muito. Bem antes do nosso título brasileiro, ele me deu uma imagem de Nossa Senhora Aparecida de presente - conta Jailson.
O goleiro voltou à condição de reserva no início de 2017, com Eduardo Baptista no comando, e só retomou a titularidade após a volta de Cuca. Mas aí surgiu mais um percalço a ser superado: uma rara lesão no quadril, sofrida durante a disputa de pênaltis que eliminou o Palmeiras da Libertadores, contra o Barcelona de Guayaquil (ECU). Detalhe: no tempo regulamentar, o Verdão ganhou, mantendo a série invicta de Jailson.
Medo de parar?
Jailson estava em tratamento quando o boato de que a lesão no quadril poderia interromper sua carreira ganhou força na internet. A torcida se assustou e as redes sociais do goleiro ficaram lotadas de mensagens de incentivo, mas a aposentadoria nunca passou por sua cabeça.
- Isso nunca passou pela minha cabeça, em nenhum momento. Fiquei triste pela lesão, mas sabia que ia trabalhar forte e voltar aos gramados. Graças a Deus foi o que aconteceu - relembra Jailson.
A possibilidade de parar, na verdade, nunca existiu. A raridade da lesão fez com que o clube consultasse especialistas de fora para saber qual era o melhor método de tratamento, mas os médicos sempre tiveram a certeza de que seria possível recuperá-lo. E foi, tanto que Roger Machado gostou de seus treinos durante a pré-temporada e o escolheu para ser titular neste início de 2018, mesmo com Prass e Weverton como concorrentes.
- Eu coloquei na cabeça que começaria o ano jogando. Trabalhei forte mesmo nas férias e busquei voltar o melhor possível para fazer uma grande pré-temporada e alcançar o meu espaço na equipe. Sempre acreditei em mim e fico feliz de poder estar ajudando a equipe junto com meus companheiros - ressalta Jailson, que tem ótimo ambiente com os concorrentes.
- Eles são grandes goleiros, experientes. Não só eles, como o Fuzato (jovem promovido da base). Todos se ajudam ali, apoiam um ao outro para que possamos estar evoluindo sempre.
A mãe corintiana
Maria Antonia, mãe de Jailson, sempre foi corintiana fanática. O carinho pelo rival do Palmeiras continua, tanto que ela ficou feliz da vida quando o filho a levou para ver os jogadores alvinegros de perto após um Dérbi, mas agora ela também veste verde.
- Claro que sim! Dei camisa pra ela, ela usa sempre agora quando jogo, fica nervosa. Já é praticamente uma palmeirense - sorri o "Invictus", como é chamado na Academia de Futebol.
Vem recorde aí?
Os 26 jogos seguidos sem perder já colocam Jailson como dono da maior invencibilidade de um goleiro do Palmeiras neste século, mas ainda estão longe das 42 partidas que Emerson Leão passou sem saber o que era derrota entre 1971 e 1972. Esta é a maior sequência invicta de um jogador da posição no Palmeiras. Neste sábado, às 19h, contra o Mirassol, Jailson pode chegar ao 27º jogo na condição de imbatível.
- É maravilhoso e fruto de muito trabalho. Espero ficar ainda muito tempo sem perder. Se for assim, significa que o Palmeiras vai estar sempre ganhando. Mas toda a equipe tem mérito nisso. Eu não entro lá sozinho. Então vamos seguir trabalhando forte para mantermos os bons resultados na temporada.
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