Em meio à crise, presidente da Portuguesa renuncia ao cargo
Jorge Manuel Marques Gonçalves era alvo do Conselho da Lusa, que queria o impeachment do agora ex-presidente. Gonçalves publicou uma carta aberta aos torcedores
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Jorge Manuel Marques Gonçalves renunciou nesta quarta-feira ao cargo de presidente da Portuguesa. Há um ano e meio no cargo, Gonçalves tinha mandato até o fim deste ano e vinha sendo alvo de investigações no Conselho Deliberativo da Lusa, que queria o impeachment do agora ex-presidente. O clube vive uma crise administrativa: o vice Manuel Tomé também renunciou, assim como outros diretores. No ano passado, Ilídio Lico deixou a presidência da Portuguesa também ao renunciar.
O clube soltou uma nota oficial informando que "na vacância do cargo de presidente e vice-presidente, quem assume a direção, até que novas eleições sejam convocadas e realizadas, é o presidente do Conselho Deliberativo, Dr. Leandro Teixeira Duarte."
A Lusa vive também uma crise em campo. A equipe é a 13ª colocada na Série A2 do Campeonato Paulista e corre risco de rebaixamento para a Terceira Divisão do Estadual. Na última semana, torcedores invadiram um treino para protestar e propuseram um amistoso entre torcida e jogadores. Confira a carta aberta de Gonçalves:
"São Paulo, 30 de março de 2016
Carta aberta aos torcedores da Portuguesa
Venho, por meio desta carta, comunicar aos funcionários, associados, conselheiros e, especialmente, torcedores da Associação Portuguesa de Desportos, minha renúncia ao cargo de Presidente do Clube.
Tomei esta decisão antes da reunião do Conselho Deliberativo desta terça-feira, e preferi não comparecer à mesma para evitar constranger os diretores que estariam ali presentes.
Estava claro que a forma de convocação para esta reunião, fora dos prazos estatutários e dirigida a poucos conselheiros, tinha o objetivo de direcionar as decisões e precipitar minha saída.
Quando assumi o desafio de presidir a Portuguesa, há um ano, convidei pessoas de minha confiança e de competência comprovada para administrar o Clube. Por sermos um grupo pequeno, unimos forças com outras correntes políticas de forma a criar um planejamento para os 20 meses seguintes.
Traçamos metas para todos departamentos e conseguimos, em 12 meses, avanços significativos em diversas áreas. Estruturamos o departamento de Futebol e especialmente o Centro de Treinamento, que agora tem hotel para concentração dos atletas. Modernizamos o Marketing e as Comunicações, angariando receitas fundamentais e ampliando os canais de contato com o torcedor e com a imprensa, entre eles o programa de sócio-torcedor, que foi totalmente remodelado.
Profissionalizamos a área jurídica e contratamos assessoria especializada para acompanhar as diversas questões trabalhistas e tributárias, o que nos protegeu de repetir erros do passado. Reduzimos e otimizamos o quadro de funcionários, de acordo com as reais necessidades do Clube. Promovemos mais eventos, além daqueles já tradicionais, de modo a movimentar a área social e gerar receita.
Além dessas e de outras medidas, buscamos manter uma relação transparente com nosso torcedor, para resgatar a identificação e o orgulho ferido depois de tantos anos de notícias ruins.
Em alguns momentos, atingimos esse objetivo parcialmente, mas na maioria do tempo encontramos obstáculos enormes. Lutamos contra problemas antigos e atuais, internos e externos, com todas nossas forças.
Tive ao meu lado diretores íntegros e que enfrentaram, junto comigo, a desconfiança e a má vontade de boa parte daqueles que se julgam os grandes homens da Portuguesa. Por outro lado percebi, ainda que tardiamente, as mesmas atitudes traiçoeiras dentro da nossa própria diretoria.
Entendi, finalmente, que jamais seríamos aceitos. Não nos encaixamos nos parâmetros vigentes, em que o sobrenome correto ou determinadas relações pessoais definem seu destino político no Clube. Brigamos o quanto pudemos, mas esgotamos nossas forças. A Portuguesa, infelizmente, continua dominada pelas mesmas atitudes que a levaram a este estágio.
Enquanto nos aproximamos de um momento crucial, em que avançam as negociações para que nosso patrimônio imobiliário seja requalificado, interesses pessoais escusos ressurgem com força.
O mau rendimento dentro de campo criou o cenário desejado por alguns, e a falta de escrúpulos afetou a vida particular de dirigentes reconhecidamente honestos e trabalhadores, vítimas de vandalismo e ameaças. Entre inimigos conhecidos e ocultos, tornou-se impossível manter nosso projeto.
Gostaria de agradecer o apoio vindo dos associados e torcedores, que entenderam nossa mensagem e neste momento, compreensivelmente, estão revoltados e magoados com os resultados da equipe de futebol.
Agradeço principalmente aos funcionários, que mesmo com dificuldades e salários atrasados, e apesar dos homens da Portuguesa, trabalham com dignidade para manter o Clube funcionando. Vi exemplos de entrega e desprendimento que levarei por toda a vida.
Espero que esta decisão pacifique o Clube e que, com a minha saída, aquelas pessoas que não ajudaram, ou mesmo que tentaram colocar obstáculos, se sintam confortáveis para finalmente ajudar – pelo bem da Portuguesa.
Todos conhecem pessoas sérias e competentes que se afastaram do Canindé. Esta passagem pela presidência serviu para compreender melhor o que expulsou e segue a expulsar essas pessoas. A Portuguesa parece ter donos que, mesmo após apequenarem o Clube continuamente nos últimos anos, seguem se dedicando a dividir, rejeitando e inviabilizando qualquer tentativa de modernização e profissionalização.
Espero um dia ver essa Lusa moderna, e tenho certeza que isso só irá acontecer se nossa torcida e nossa coletividade estiverem sempre atentas e vigilantes em relação aos interesses do Clube.
Jorge Manuel Marques Gonçalves
Presidente"
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