– Dormi apenas quatro horas e a ficha ainda não caiu.
A frase de Rafaela Silva, em coletiva realizada ontem pela manhã retrata bem o sonho sem fim que a judoca de 24 anos vive. A primeira medalha dourada brasileira na Rio-2016 ultrapassou limites de orgulho pelo país todo. Mas foi no núcleo do Instituto Reação em Jacarepaguá, onde a menina dourada foi fabricada, que acordou com o maior sorrido do mundo.
O LANCE! esteve no espaço, que se mudou para uma universidade há cerca de um ano (antes ficava em uma academia próxima a casa de Rafaela), que foi o palco de treinos decisivos antes dos Jogos. E de muitas histórias de uma menina que vivia na Cidade de Deus, cresceu ali dentro e ganhou o mundo.
–Cada um de nós tem um pouquinho desse orgulho. Acho que o maior orgulho e causador de tudo isso é o Geraldo Bernardes. Ele sempre disse pra ela: "Rafaela, vou colocar você nas Olimpíadas". Isso eu escutei há 16 anos, ela tinha exatamente 8 para 9 anos. E esse potencial dela foi crescendo, crescendo, crescendo e hoje ela tá aí– afirmou Rosana Gracio Ribeiro, secretária do Instituto Reação e responsável pela inscrição de Rafaela no projeto.
Os futuros judocas, não só do núcleo onde Rafaela Silva treina, foram até Jacarepaguá para absorver desde já a energia dos vencedores.
– Senti orgulho porque ela veio da mesma situação que eu. Ela superou tudo o que aconteceu na vida dela. Porque senão lá na Cidade de Deus ela seria uma criança propícia para as drogas, o tráfico e outras coisas ruins do mundo. Ela até hoje me orgulha muito porque me cativa a continuar no Judô, a imaginar o meu futuro lá no pódio com uma medalha no peito – declarou Abel Júnior, de 12 anos, faixa azul do núcleo Rocinha.
O DNA Silva deverá se prerpetuar nos tatames não só pelo sucesso de Rafaela. A sobrinha Ana Clara, de 11 anos, já treina no mesmo local onde a tia iniciou os primeiros golpes:
—Eu comecei antigamente, quando era pequena. Aí eu dei uma pausa e depois voltei no ano passado. E a minha tia me influenciou muito porque eu queria continuar... como a minha mãe e a minha tia, eu quero continuar isso – afirmou a jovem, que esteve na Arena Carioca 2 torcendo pela tia.
As 300 crianças que treinam no Instituto Reação Núcleo Cidade de Deus sonham em um dia ter a mesma glória de Rafaela Silva. Sem dúvida estão no local certo e desde já são vencedores, como a menina de ouro do Brasil.