Uma guerreira. É assim que Rebeca Andrade, de apenas 17 anos, se define. E, antes de julgá-la apenas pela idade, não há quem ouse duvidar desse adjetivo. A pequena ginasta de 1,45m disputa hoje a final do individual geral na Olimpíada do Rio de Janeiro, e já avisa: “Sonhar é sempre possível”.
Nascida em Guarulhos (SP), filha de uma empregada doméstica e com mais sete irmãos, Rebeca lembra da infância que, em suas próprias palavras, foi muito difícil.
Seu início na ginástica, inclusive, aconteceu de forma casual. Segundo a jovem, por ser muito “espoleta”, sua tia decidiu levá-la ao Ginásio Bonifácio Cardoso, local em que trabalhava. Dessa forma, aos quatro anos, começou a carreira daquela que, hoje, é considerada uma das ginastas mais completas do mundo.
– Minha vida era bem difícil nessa época. Várias vezes vi minha mãe deixar de ir ao trabalho por não ter o dinheiro da condução. Ela era empregada doméstica, e trabalhava muito longe de casa. Nessa época, eu ia de bicicleta com meu irmão ao ginásio – disse Rebeca, ao L!, confidenciando que, além dela e da mãe Rosa, dividia a casa com seis irmãos.
'Passei por tanta coisa... Não só na minha família e na minha vida, mas na ginástica também. Foi muito difícil chegar aqui. Saber que as pessoas confiam em mim é muito bom' - Rebeca Andrade
Quando entra na área de competição, a jovem chama a atenção por sua personalidade. Incentivando as colegas, com jeitinho de adulta, ela só deixa a idade à mostra quando algum repórter a questiona de algo.
Nesse momento, a timidez toma conta, as respostas são curtas, e a voz fina deixa claro que, apesar de tudo que já viveu, Rebeca ainda é jovem.
– Teve uma época que morei com a minha tia, porque minha mãe estava grávida do meu irmão e eu não tinha quem me levasse para os treinos... Depois, morei com a coordenadora do ginásio, com minha treinadora, viajei para Curitiba... Aconteceu muita coisa (risos). Já morei em tantos lugares... Espera... Nossa, tem muitas casas. Só em Guarulhos acho que foram umas quatro, porque não tínhamos casa própria. Depois, no Rio, mais umas três – diz a ginasta, com dificuldades para acertar o número de locais em que viveu.
Rebeca avançou à decisão como a terceira melhor entre as classificadas, e sonha com um pódio logo em sua primeira disputa olímpica.
Apelidada de “Daiane dos Santos 2”, a jovem quer ir longe. E, após a dura vida, nada melhor do que a consagração da ginasta. Aliás, como você se sente mesmo, Rebeca?
– Me sinto uma vencedora, uma guerreira. É muito importante para mim, independentemente do resultado do individual geral. Passei por tanta coisa... Não só na minha família e na minha vida, mas na ginástica também. Foi muito difícil chegar aqui. Saber que as pessoas confiam em mim é muito bom.
A cada dia, Rebeca prova que superar obstáculos, na vida ou no tablado, é sua especialidade. Entre as melhores do mundo, a ginasta reserva um pensamento especial para a decisão. Como ela mesma disse: “Sonhar sempre é possível”.
BATE-BOLA - Com Rebeca Andrade - Ginasta brasileira
LANCE! - Como você se sente sendo esperança de medalha para o país?
Rebeca Andrade - É muito legal e, ao mesmo tempo, difícil, porque as pessoas esperam muito de nós. O lado bom é que tentarei sempre dar o meu melhor por eles. Depois do tanto que eu treinei para me classificar para a final no individual geral, me sinto pronta.
L! - Por que começou na ginástica?
RA - Minha tia que perguntou para minha mãe se poderia me levar ao ginásio que ela trabalhava, porque eu era muito espoleta, ficava dando estrelinha, pulando de árvore em árvore... Parecia um molequinho. Quando fui para o ginásio, fiquei encantada, porque tudo que eu gostava de fazer, podia fazer lá dentro. Aí eles me apelidaram de Daiane dos Santos 2, e eu fiquei me sentindo, porque eu gostava muito dela (risos).
L! - Dá para sonhar com o pódio?
RA - Sonho muito com isso. Mas, se não vier, não vou me decepcionar, são coisas que acontecem. Mas estou conseguindo dormir de noite (risos).