Mayra Aguiar levantou as arquibancadas da Arena Carioca 2 e garantiu a terceira medalha brasileira na Rio-2016. Foi a segunda láurea conquistada pelo judô. A segunda de uma mulher brasileira nestes Jogos. Façanhas que colocam o esporte feminino do Brasil ainda mais em evidência.
Antes do resultado, a também judoca Rafaela Silva havia conquistado o ouro no começo desta semana. Com isso, as disputas femininas brasileiras continuam como protagonistas do esporte nacional, já que elas conquistaram cinco dos sete últimos primeiros lugares do país. Isso contando as edições de Pequim-2008, Londres-2012 e a do Rio (veja mais abaixo).
O empoderamento feminino entrou no radar desta Olimpíada ainda na Cerimônia de Abertura, com uma parte dela dedicado ao tema. Depois, o sucesso começou com as atletas.
O handebol feminino abriu os Jogos para as brasileiras. Ganharam das norueguesas, campeãs olímpicas e o público se empolgou com elas. Um pouco antes da abertura, Marta & Cia já tinham caído nas graças do público. A ponto de os mais críticos pedirem a troca de Marta por Neymar, estrela do futebol masculino.
Mas apesar do sucesso dentro das competições, fora delas as reclamações continuam. Premiações, estrutura... são muitas as queixas das esportistas. A equiparação de investimento para homens e mulheres, por exemplo, é algo raro.
– No judô, a equipe feminina já vem tendo mais recursos e oportunidades do que a masculina. Estamos aos poucos conquistando o espaço onde já deveríamos estar há muito tempo – afirmou a judoca Rafaela Silva, em entrevista ao L! durante evento na Casa da Família P&G.
Na atual delegação brasileira, são 256 homens e 209 mulheres, ou seja 45% são do sexo feminino. E além do feito desta quinta-feira, Mayra conseguiu fazer mais história: é a primeira brasileira a conseguir medalhas em duas edições olímpicas em disputas individuais. E tudo isso com apenas 25 anos.
– Tenho muito caminho pela frente. Agora tem Tóquio-2020. É uma satisfação para o atleta conquistar uma medalha olímpica. Pensei que não fosse sentir esse gosto de novo – disse Mayra.
As mulheres mandam no esporte!
ÚLTIMOS OUROS DO BRASIL
Rio-2016
Rafaela Silva (judô)
Londres-2012
Sarah Menezes (judô), Arthur Zanetti (ginástica artística) e vôlei feminino.
Pequim-2008
Maurren Maggi (salto em distância), Cesar Cielo (natação) e vôlei feminino.
BATE-BOLA
Rafaela Silva, judoca do Brasil ao L!
O que uma conquista olímpica da Mayra representa para você?
Quando comecei a praticar judô, quem me chamou a atenção foi a Mayra Aguiar. Ela foi muito importante. Era uma atleta bem jovem, e eu, que não conhecia ninguém ali no time, ficada observando o esforço dela ao lutar. Fui campeã olímpica antes do meu ídolo, que é a Mayra. Com toda essa correria de dar entrevistas, fiquei na torcida para que ela conseguisse a medalha tão sonhada.
Como vê o momento do esporte para as mulheres no Brasil?
A conquista do nosso espaço na Seleção é muito importante. Não só eu, como a Mayra, a Suelen e outras. No Brasil, nas mídias. Porque antes, éramos um pouco esquecidas pelas pessoas, por não termos resultados tão bons. Mas, agora, deixamos de aparecer por pena, e sim por mérito das vitórias que nós conquistamos.
O que muda para as mulheres com o resultado de vocês no judô?
No judô, hoje a equipe feminina já vem tendo mais recursos e oportunidades do que a masculina. Estamos aos poucos conquistando o espaço onde já deveríamos estar há muito tempo.
Acredita na manutenção deste investimento?
Na Seleção feminina, temos praticamente a mesma idade. Há bastante atletas jovens, e pretendemos nos manter reunidas com o mesmo nível de preparação após os Jogos para levar o Brasil a Tóquio.
O que vai fazer agora?
Vou curtir bastante minha medalha. Estou bem feliz com o resultado. Mas não pode ficar só na curtição, pois pretendo disputar a Olimpíada de Tóquio e ainda tem competição em 2016. É descansar um pouco, mas voltar à rotina normal ainda neste ano.
COM A PALAVRA
Protagonismo na Rio-2016 dá visibilidade
Efeeministas
Coletivo feminista da Escola de Educação Física e Esporte da USP
O protagonismo do Time Brasil na Rio-2016 em diversos esportes dá visibilidade a algumas questões ligadas à luta feminista. No jogo de futebol do Canadá contra a Austrália, os homens gritavam da arquibancada para a goleira: “linda!”. No mesmo jogo, sempre que algumas mulheres eram colocadas no telão, recebiam assobios e comentários ligados a sua aparência. Em outra partida, quando a jogadora Majory Nyaunwe entrou em quadra, os homens davam risada e comparavam-na ao (rapper) Sabotage (...) A luta pelo reconhecimento da mulher para além de sua aparência e pelo direito de exercer a sua sexualidade livremente continuará.
Quando se “luta como mulher”, você é forte como as judocas Rafaela, Mariana e Mayra. Quando “joga futebol como mulher”, significa que você joga tão bem como a Marta, por exemplo.