– Cara, tenho um monte de boca para alimentar lá em casa. Vou ralar muito para levar esse ouro de qualquer jeito. Nem que seja na porrada!
Sempre autêntico, sem papas na língua, longe do padrão do politicamente correto. Talvez eu nem precisasse dizer que a frase é do líbero Serginho Escadinha. Hoje, às 22h15, contra a Rússia, ele busca a quarta final olímpica da carreira.
O jeitão único de ser faz com que ele se apegue pouco aos números, aos recordes. Em quase toda entrevista ele dá um jeito de citar mesmo os três filhos, as peladas de futebol com os amigos em Pirituba, zona norte de SP, ou os cavalos, uma paixão incondicional. Lembrar-se das raízes é o combustível que move o líbero de 40 anos. E invariavelmente com bom humor e irreverência.
– Não dá para enfrentar os caras (russos) na porrada, pois eles são mais fortes do que a gente. Temos de jogar um voleibol bem pensado. Não tem outro jeito.
Escadinha é o último representante ainda em atividade na Seleção da geração campeã olímpica em 2004, em Atenas. No Maracanãzinho, encontra ex-companheiros agora como comentaristas: Nalbert, Giba, Dante, Ricardinho... Até agora, o camisa 10 da Seleção tem aproveitamento de 100% nesta fase do torneio. Em 2004, vitória sobre os EUA por 3 a 0. Em Pequim e Londres, triunfos sobre a Itália. Ao fazer um balanço das campanhas que culminaram com um ouro e duas pratas, ele vê a atual como a mais complicada:
– Tivemos duas derrotas (EUA e Itália). Aí precisávamos tirar a França, que era favorita ao título. Viu o jogo com a Argentina como foi? Acho que os problemas deram uma calejada no pessoal aqui.
Calejado deste a infância, para ele fica mais fácil se superar.
COM A PALAVRA
Ricardinho
Levantador, ouro em Atenas e prata em Londres
Quando vejo o Escada tenho mais vontade de estar lá dentro de quadra e não aqui como comentarista. Ele é de 1975, da minha geração, somos de São Paulo... É um cara lutador, todo mundo sabe disso, não preciso repetir. O conheci quando ainda era ponta do São Caetano. Na Seleção nós vivemos grandes momentos, tivemos poucas derrotas. Ele era um cara que costumava dar a palavra de força para o grupo. Não eram conselhos, mas histórias que ele viu ou viveu de perto. Falava pouco, mas aparecia principalmente nas reuniões que o time mais precisava, nas derrotas. Escada é uma figura fantástica fora de quadra e um baita jogador. A emoção de vê-lo jogar ainda é sensacional. Você vê quase toda aquela geração parando, um já careca, outro com cabelo
branco. E ele firme e forte em quadra.