O LANCE! começa, nesta terça-feira, 5, uma série de entrevistas com os candidatos à presidência do Santos Futebol Clube para o triênio 2018-2020. Todos responderam questões referentes aos mesmos tópicos de fundamental importância para o funcionamento do clube.
Seguindo o critério de publicação de ordem alfabética, Andres Enrique Rueda Garcia é o primeiro entrevistado da série.
Formado em matemática, o postulante tem experiência profissional em gestão e tecnologia em empresas paulistas e atualmente é proprietário de uma empresa do ramo da tecnologia. Decidiu, aos 61 anos, se candidatar à presidência do clube do coração após integrar o Comitê de Gestão do Peixe durante sete meses, a convite do atual presidente, Modesto Roma Júnior. Conselheiro em três ocasiões, integra o atual Conselho Deliberativo pois, na última eleição, foi um dos inscritos pela chapa de Fernando Silva, hoje um de seus apoiadores. Antes de fazer parte da diretoria, ficou conhecido por ser o empresário que emprestou ao clube cerca de R$ 1 milhão para a compra de 10% de Lucas Lima. Porém, não menciona em sua plataforma tal feito por considerá-lo apelativo. Seu candidato à vice-presidente é José Renato Quaresma, também ex-integrante do Comitê de Modesto. Confira as propostas e críticas feitas pelo candidato da Santástica União:
DISPONIBILIDADE PARA SE DEDICAR À ADMINISTRAÇÃO DO CLUBE
De segunda a segunda. Das 7h da manhã até a meia noite ou mais. Felizmente, tenho uma situação que me permite doar meu tempo e "know-how". Tenho filho formado e situação financeira estável. Um presidente do Santos tem que acordar e dormir com o Santos na cabeça.
LOCAL DE DESPACHO
A nossa casa é a Vila Belmiro. Tenho ideia de transformar nossa subsede (em São Paulo) em uma matriz. Quero levar o departamento de marketing para São Paulo. Agora, a gestão do clube é em Santos. Na Vila e no CT. Pretendo ter sala no CT. A proximidade do presidente é fundamental. Não é interagir ou mandar, mas o porco engorda sob olho do dono
LIGAÇÃO COM O CLUBE
Fui membro do Comitê de Gestão por sete meses e estou no quarto mandato de conselheiro.
MODELO DE ADMINISTRAÇÃO COM COMITÊ DE GESTÃO
O modelo é moderno e serve de referência a outros clubes. Agora, ele tem que ser praticado. Tem pontos a serem corrigidos, mas precisa ser seguido. O estatuto diz que o Santos não tem um presidente, tem presidente do Comitê de Gestão, que tem como obrigação ter decisões colegiadas e por voto. Isso não acontece em muitas vezes. O modelo é democrático, mas do jeito que está não condiz com o que deveria ser. Quem convida os membros é o presidente. Nisso, anula vantagens de ter decisões suprapartidárias. Acredito que o Comitê deveria ser eleito. Os nove nomes. As decisões deveriam ser colegiadas e com ata. Reunião formal e Comitê com decisão sobre assuntos do clube. Reunião tem que ser gravada e voto aberto. É importante saber o que cada um vota para sua base fiscalizar. Cada um ali está ligado a um grupo. Quando se obriga que a decisão seja pública, a base toda fiscaliza. Se isso tivesse ocorrido, a gente não teria tido o problema do Leandro Damião. Duvido que aquele Comitê de Gestão aprovasse a compra. Assim como duvido que a venda do Geuvânio tivesse acontecido. Foi uma venda feita à revelia do Comitê. Não é crítica. Isso está enraizado no futebol. Um presidente eleito parece que é dono do clube, é histórico e lembra a época dos coronéis. Estamos no século 21. Isso é do século passado. O mundo mudou e estamos ficando para trás quando se olha para outros centros. Estão nos passando.
"Um presidente eleito parece que é dono do clube, é histórico e lembra a época dos coronéis. Estamos no século 21. Isso é do século passado"
ORGANOGRAMA DO FUTEBOL
Normalmente, um treinador gosta de levar seu estafe. Acredito que o estafe técnico tem que ser do clube, ter uma comissão permanente. Essa estrutura de ter um diretor, uma gerência médica, outra de captação de informações, isso funciona. O que pretendemos mudar é o perfil do técnico. O que esperamos? Perfil de campeão, que tenha no sangue DNA ofensivo, como o perfil do clube. Nossa torcida não aceita só ganhar, quer ganhar com espetáculo. Isso diferencia o Santos. Um perfil que saiba trabalhar com base e sobretudo que entenda que o clube é um dos maiores do mundo com receita de time médio. Isso nos obriga a cometer o mínimo possível de erros. A nova comissão técnica tem que entender que o jogador é um ativo do clube. Toda contratação vai ser indicada pela equipe técnica, mas a decisão final é do clube como ativo. Nos dias de hoje tem treinador pedindo contratação de jogador com mais idade e contrato longo. Queremos eliminar esse tipo de problema. No nosso organograma tem o CEO, diretor financeiro e de futebol. Nosso CEO seria de mercado. A profissionalização do clube é total. Se você acredita que o clube tem que ser profissional, compare currículos entre chapas. Toda nossa estrutura vai ser profissional. Vamos ver qual área está carente e qual perfil precisamos para aquela área e qual a remuneração condizente com o mercado de Santos. Vamos ao mercado e bater currículo como qualquer empresa faz.
COMISSÃO TÉCNICA FIXA
Nomes eu não gosto de falar ainda. O que a diretoria de futebol vai ter é organograma com departamentos, divisões e standard de funcionários. Por exemplo, um encarregado de patrimônio, auxiliares de patrimônio e o encarregado ser engenheiro e ter três anos de experiência. Todas as funções serão preenchidas desta maneira. Nossa proposta é, após o organograma completo, apresentar ao Conselho quantos funcionários serão necessários e mostrar quanto custa para eles aprovarem. Hoje, nossos funcionários não tem plano de carreira, não sabem o que espera no futuro, se vão ser promovidos. A ideia é que o quadro seja liberado para o Conselho.
CATEGORIAS DE BASE
Tem que rever os processos internos. Não faz tempo que fomos vítimas de uma denúncia que apontava corrupção na base. Até hoje ninguém sabe o que mudou. Vemos brigas do clube com escolinhas. Há alguns dias levei um susto quando vi na internet uma escolinha do Santos anunciando peneira de outro clube. É o clube brigando com as franquias. Esse é o nosso tentáculo para captar talentos e levar ao clube. Mas quando se vê denúncias de problemas para fazer testes, é porque a coisa está errada. Precisamos remodelar com processos auditáveis. O Santos não tem uma auditoria interna, que é o xerife da empresa, que manda mais que o presidente, que abre gavetas. Que evitam desonestidades. A base é a coroa do Santos. É onde se tem mecanismos de receitas adicionais que nos coloque no mesmo patamar de receita dos outros clubes. Temos que buscar na formação de craques este equilíbrio de competitividade. Imaginamos a base com estrutura que forme jogadores e cidadãos. Não podemos esquecer que de 100 meninos, às vezes 98 voltam para o mercado. E o clube tem obrigação social de preparar eles para o mundo. Queremos uma estrutura em que o clube possa utilizar eles. Investimos e temos que colher frutos. Tem que ajudar a ganhar títulos para depois ser vendido. A nossa fábrica não pode parar de gerar talentos.
"O Santos não tem uma auditoria interna, que é o xerife da empresa, que manda mais que o presidente, que abre gavetas. Que evitam desonestidades"
SANTOS B
No meu entendimento, essa categoria deveria ser a vértice final da pirâmide, onde o jogador deveria fazer um estágio. Não temos notícias certas, mas se fala que o quadro do Santos B gira em torno de 46 jogadores. Não tem sentido. Se a base tivesse 300 jogadores, não teria problema, porque é um funil que se filtra quem joga ou não. Muito se fala do Vitor Bueno, mas parece que ficou semanas no sub-23, tem um goleiros de 30 e poucos anos. Como tudo, vamos ter que sentar, reformular e ver o sentido de ter ou não a categoria. E achar as melhores alternativas para cada caso. No modelo atual, o Santos B não tem sentido. Mas fazer um convênio com uma cidade da Áustria, por exemplo, que cede alojamento e para onde podemos levar esse excesso de jogadores em formação, poderia levar esse time para jogar campeonato no país local, que é uma maneira de expor a marca lá fora. Se esse jogador desponta, pode vender esse jogador com preço de Europa para Europa. que é maior do que quando vai da América para Europa.
RELAÇÃO COM TORCIDA
Nossa torcida não está diminuindo. Aumentou. Isso já é um ponto positivo. Na verdade, a torcida se afastou do clube e não é de agora. É vergonhoso jogar para 4 mil pessoas. E era assim até com o Pelé. Tem que trazer o torcedor junto ao clube. Quando se analisa um pouco, tem técnicas de ouvir seu cliente e saber o que ele quer. O sócio é cliente e dono do clube. Hoje, o sócio é mal tratado. Tem dificuldade para tudo, para entrar no estádio, ir ao banheiro, pagar boleto. Não é um jeito de tratar o dono. A gente pretende através de patrocínios dividir os jogos entre Vila e São Paulo e interior. E facilitar o transporte de uma praça para outro. Por que não posso dar transporte para o sócio adimplente de Santos ir a São Paulo? E vice e versa. Para atender bem o sócio, não vejo problema onerar o clube. O valor é pequeno e pode arranjar um patrocinador para custear isso. Se reduzir os gastos desnecessários, se paga essa conta. Prefiro estádio cheio do que uma renda insignificante. O transporte seria gratuito.
TORCIDA ORGANIZADA
O clube tem uma postura de brigar com todo mundo. Brigamos com Damião, com CBF, Federação Paulista, mídia, com sócio, torcedor, fornecedor... Uma empresa não vai para frente sem diálogo e sem sentar à mesa. Temos que conversar com todos que tenham relação com o clube. Nossa obrigação é defender os interesses do clube. Não será diferente com torcidas organizadas.
ESTÁDIO
Nossa ideia é que a proporção seja de 50% dos jogos na Vila e o restante em São Paulo ou interior. A Vila é a nossa casa, mas se queremos atrair torcedor, temos que dar conforto. Prometer arena é uma mentira. O clube não tem situação financeira de prometer isso. Perdemos o período da Copa do Mundo. Alguns embarcaram e estão em situação financeira que não é condizente com o estádio. Nosso compromisso é dar acessibilidade e voltar com que o estádio seja Alçapão. Tem que negociar com os donos de cativas. Tem que sentar com cada dono e negociar do tipo, se não vier ao jogo e permitir que eu venda ingresso, o dono fica livre da manutenção. Seria um bem para o clube. Vila tem que ser reformada e dar comodidade. Queremos tirar os camarotes térreos também.
Eu falei de jogarmos em São Paulo. O Pacaembu está em processo de licitação. Teríamos que negociar com a empresa que assumir. Hoje, o Santos é mais importante para o Pacaembu do que o contrário. Qualquer um que administre o Pacaembu, vai depender muito do Santos. Principalmente agora. E o Santos tem alternativas. O Santos tem que jogar onde sua torcida está. Nossos jogos já foram com casa cheia no Morumbi. Na casa de um rival com casa cheia. Adoraria ser obrigado a fazer isso, porque estaríamos com casa cheia.
PROGRAMA DE SÓCIOS
Vamos honrar todos os contratos. Não faremos caça às bruxas. Não vou entrar no mérito da licitação, a questão é que a Redegol é a responsável pelo programa e pelo acesso ao estádio. O que me estranha no clube não é nessa relação, é que com todos os torcedores há fragilidade contratual. Era sabido que a Redegol não tem experiência? Tem que ter algumas salvaguardas no contrato do tipo: se houver problemas, a empresa pode ser multada e dar ao clube direito de rescindir. Isso é comum no mercado de empresar. No Santos nunca há punição ao torcedor e tem contratos de longo prazo. A Kappa tem contrato pra fazer o design da camisa. Não adianta criticar o passado. Nossa postura é sentar com os fornecedores e discutir a situação de cada um. Se você pegar os programas de trabalho de todos os candidatos, verá que as propostas de programas de sócio são todas iguais. Há três eleições é assim. Ninguém põe em prática.
CHÁCARA NICOLAU MORAN, EM SÃO BERNARDO
Tem um valor sentimental grande para o clube. Nosso grande esquadrão ficou lá concentrado. Mas há problemas. Tem um valor venal baixo. Há problema climático que às 14h já tem neblina, tem problema de segurança. Se desfazer dela não é um caminho.Eventualmente podemos fazer convênios com entidades que tirassem proveito do espaço e preservasse nossa memória.
MARKETING
Primeiro temos que conceituar o que é marketing e comercial. Existe essa falta de entendimento no clube. Tem que ter uma equipe preocupada em conhecer nosso público e que produtos ele tem interesse. Marketing tem que ter preocupação com a valorização da marca nacional e internacional. Tem que ter uma área comercial para monetizar produtos, valores e patrocínios. Não adianta bater na porta da empresa. Toda empresa tem uma agência com agenda completa e definida onde vai ser investido. Até o meio do ano tudo isso é definido. As agências estão em São Paulo, por isso temos que estar lá. Quem coloca patrocínio em grandes empresas são as agências. Dificilmente uma empresa vai colocar dinheiro em algo fora de contexto
FINANÇAS E DÍVIDA EM TORNO DE R$ 300 MILHÕES
Os números estão desatualizados. A primeira coisa é adequar despesa com receita. Não pode gastar mais do que arrecada. A conta não fecha nunca. Tem que estancar essa equação e equacionar o que fazer com a dívida. No programa de trabalho de todo mundo tem isso. Não tem como ser diferente.
DIREITOS DE TRANSMISSÃO E ACORDO COM ESPORTE INTERATIVO
Temos que procurar os interesses do Santos Futebol Clube. No momento da assinatura do contrato com o Esporte Interativo, o Santos teve um bônus de R$ 40 milhões. Para o clube foi interessante para dar um alerta ao mercado. O que questiono é a falta de conversa. Tem que sentar com todo mundo e conseguir a maior vantagem para o clube. Receita com televisionamento é uma das principais.
Não serei leviano de dizer como foi a tratativa. Mas o simples fato de fechar com o Esporte Interativo não pode comprometer a relação com outra televisão. Poderia ter sido feita uma concorrência. Se fizer um modelo transparante, ninguém pode ficar bravo. Quem pagar mais, leva. Não há motivo para rusgas. Globo, Esporte Interativo e Santos são empresas sérias. A Globo paga o Santos melhor. São R$ 80 milhões por dois jogos no ano. Não interessa isso ao clube, queremos ser vistos, formar torcida nova, valorizar patrocínios.
MATERIAL ESPORTIVO E ACORDO COM A UMBRO
Podemos não gostar da decisão tão próxima do pleito eleitoral, mas é direito do executivo. É uma confissão de erro da produção de material próprio. Qualidade ruim e preço alto. No apagar das luzes se muda. Temos informações que não foi uma negociação boa para o clube, os valores ficam aquém do que as empresas pagam a outros clubes.
"E a decisão da minha saída foi na venda do Geuvânio. Ficamos negociando por sete horas. Ao final da reunião, o Santos decidiu vender por 16 milhões de euros mais 1 milhão que um empresário abriu mão e no outro dia de manhã vejo que ele tinha sido vendido por 11 milhões de euros e que tinha sido paga comissão a empresários"
PECULIARIDADES
Por que saiu do Comitê de Gestão?
Primeiro, o estatuto reza que as decisões sejam colegiadas. Sentei e não ajudei a decidir, fui informado do que aconteceu na semana passada. Vi que tinha esse problema. Acabou a época de um mandar e o resto obedecer. Teve outros casos. O clube trabalhava muito com pessoas jurídicas. Sei que isso não traz vantagens a uma empresa. Tive discussões internas para acabar com essas figuras. Naquele período houve uma demanda judicial de um funcionários que ganhava R$ 10 mil e ganhou R$ 1 milhão. E a decisão da minha saída foi na venda do Geuvânio. Ficamos negociando por sete horas. Ao final da reunião, o Santos decidiu vender por 16 milhões de euros mais 1 milhão que um empresário abriu mão e no outro dia de manhã vejo que ele tinha sido vendido por 11 milhões de euros e que tinha sido paga comissão a empresários.
O presidencialismo me incomoda. O Santos não tem presidente, o estatuto prega um Comitê de Gestão com nove elementos de mesmo peso e decisões colegiadas. Isso (presidencialismo) é nefasto a qualquer empresa. Mesmo na minha empresa, que sou dono, não uso desse artifício porque é burro. A chance de se cometer erros pensando sozinho é maior do que se ouvir seus pares.
Compra do Lucas Lima
Acho apelativo (falar sobre isso em eleição). Aquilo foi feito de coração. Eu não conhecia o Modesto. Fomos apresentados na reunião do Conselho. Se não fizéssemos o pagamento até o dia seguinte e o jogador poderia voltar ao Internacional. O Santos não tinha dinheiro e eu tinha acabado de vender uma propriedade. E eu pude ajudar o clube. Mas não queria que acontecesse como foi com a Doyen, que o dinheiro de um empréstimo foi usado em fluxo de caixa. Paguei direto ao Internacional, como pessoa física, declarei no imposto de renda. Foi contrato de mútuo com o clube e o santos honrou com o pagamento.
Fazer do clube uma sociedade anônima
Não propomos transformar o Santos em uma sociedade anônima. Queremos implementar uma cultura de que o sócio é dono do clube. Isso não é claro para o sócio hoje. No nosso modelo, implantar políticas de S/A é a governança política. Hoje o clube não tem organograma e auditoria interna que qualquer empresa tem. Não tem meritocracia para contratar funcionários. O alto nível é contratado através de conchavos políticos em troca de apoio. Essas políticas e costumes não representam o que qualquer empresa deve ter. Quando se fala em uma sociedade anônima é isso, preparar o clube para ter modelos de gestão e fiscalização. Quando um dirigente comete erro em uma empresa, um erro não idôneo, não é só reprovar as contas, pode levar cadeia. Precisamos entender isso no futebol brasileiro pois falta isso em cartola, cadeia por irregularidade cometida.
CONSIDERAÇÕES FINAIS
O sócio é dono do clube e tem que encarar o Comitê de Gestão como funcionários dele. É um desvio de comportamento que acontece até na política do país. Todos sabem o que precisa ser feito. O sócio tem que estar tranquilo e colocar no executivo quem acredita que pode colocar em prática. Espero que o sócio entenda a real situação do clube e pense muito até o dia 9 de dezembro.
Confira na terça-feira a entrevista exclusiva com o candidato José Carlos Peres, da chapa Somos Todos Santos.