Em depoimento, Lucas Braga se declara ao Santos: ‘Transformou a minha vida’
No aniversário de 110 anos do Peixe, o atacante dá depoimento sobre a virada na sua vida após a contratação pelo Santos
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Meu nome é Lucas Braga, tenho 25 anos e sou nascido em São Paulo. Como todo garoto de periferia, sempre tive vontade de ser jogador de futebol. Mas até esse sonho se concretizar, a vida deu muitas voltas. Sempre tive muitas dificuldades. Por ser nascido em São Paulo, que é o berço do futebol - todo jovem quer ser jogador, mas não tem clube suficiente. A cada 10 meninos, 11 querem ser atletas. A concorrência era muito grande. Eu tive que sair do meu estado para fazer testes em outros clubes, para ver se a porta se abriria para mim.
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Durante toda essa minha perseverança, as coisas só foram acontecer aos 22 anos de idade, quando fui para o J Malucelli, clube do Paraná. Hoje ele não existe mais, acabou tendo problemas judiciais e fechou as portas. Precisei enfrentar o desemprego por quatro meses e cheguei a pensar que, aos 22 anos, poderia não dar certo.
Mas foi em um jogo da terceira divisão do Campeonato Paranaense, com apenas 25 pagantes no estádio que as coisas começaram a mudar para mim. Eu recebi o contado de um empresário, Miguel Calluf Neto, que assistia ao jogo. Hoje, ele é um amigo e continua cuidando da minha carreira.
“Você está aqui disputando a terceira divisão, eu vejo que você tem qualidade para estar num nível melhor”.
Eu tinha vontade de responder que a minha situação era crítica, não tinha perspectiva nenhuma. Mas, depois de um vídeo meu que ele disparou para clubes, uma oportunidade apareceu.
O Luverdense procurou meu empresário e eu precisei me mudar para o Mato Grosso para disputar a Série C do Brasileirão e a Copa do Brasil. Eu pulava de alegria. Essa oportunidade apareceu tão tarde para mim, mas era o meu sonho.
E foi justamente pela Copa do Brasil que eu pude reencontrar o meu clube do coração. O Santos sempre marcou a vida da minha família de uma forma muito bonita. Eu te conto o porquê: o meu avô e minha mãe sempre foram santistas, então, eu peguei esse amor pelo clube desde pequeno. Eu tive uma curta passagem entre meus 8 e 9 anos na escolinha de futebol no Santos, e esse amor aumentou ainda mais. Nessa escolinha nós fazíamos algumas excursões até a Vila para assistir os jogos. Em uma dessas visitas eu entrei com os atletas. Então, quando vamos falar de mim, o Santos logo entra na minha vida. São dois caminhos iguais.
Quando chegou o duelo entre Santos e Luverdense, acabamos sendo eliminados. Perdemos fora, mas ganhamos em Mato Grosso. Isso foi muito especial para mim, ter pisado na Vila, um estádio por onde passaram grandes nomes. Foi um sonho que, mais tarde, ganharia novos capítulos.
Seis meses depois, diretores do Peixe entraram em contato comigo. Nós assinamos um pré-contrato e eu me apresentaria no meio do ano em 2019. Cheguei ao Sub-23, fui emprestado duas vezes para Cuiabá e Inter de Limeira, e logo depois, o Cuca me deu uma oportunidade no elenco profissional. As coisas demoraram para acontecer. Mas quando aconteceu, foi tudo muito rápido. Da terceira divisão para jogar Série A do Brasileirão.
O Santos transformou minha vida a partir dali.
Eu vinha de uma realidade que, Graças a Deus, não passávamos fome, nunca faltou nada em casa. Mas também não tínhamos aquela vida de o que queria, tinha. Depois que eu cheguei ao Santos, tudo mudou. Os meus pais moram em São Paulo com minha avó e com minha irmã de 18 anos. Eu moro aqui em Santos com minha esposa e meu filho Arthur, de 2 meses. Eu procuro sempre ajudar no que for preciso em casa. Eu tenho uma gratidão eterna. Se não fosse a ajuda deles, talvez eu não teria conseguido chegar aqui.
E quando eu penso nessas mudanças, eu vejo que foram duas realidades muito opostas. Estar na arquibancada torcendo e estar ali, jogando. Para mim a ficha ainda não caiu. Toda vez que eu vou ao treinamento, vejo minha camisa pendurada com meu nome, entro em campo e tenho a visão do estádio todo, passa pela minha cabeça que, até pouco tempo, eu estava na arquibancada. Com o tempo, eu posso dizer que me acostumei um pouco mais. Mas quando alguém pergunta, é inexplicável.
O Santos desde pequeno era uma referência. Para mim quando se fala em futebol, o primeiro time que vem na minha cabeça é o Santos Futebol Clube. Por tudo que representou e tudo que representa na minha vida desde muito novo.
Eu quero gravar meu nome no clube. Acho que, para isso acontecer, falta um título. Seria sensacional. Eu já participei de momentos importantes como a semifinal contra o Boca, o gol que evitou o rebaixamento no Paulista. É um momento desagradável, mas seria algo inédito e não podíamos deixar acontecer.
Muitas pessoas falam que eu sou um torcedor em campo. E eu concordo. Em jogo ou outro, a situação pode não dar certo tecnicamente, mas vontade e raça nunca faltaram nas 114 vezes que entrei em campo.
Só posso agradecer e parabenizar por tudo, Peixão. São anos de história, títulos e referência no futebol mundial. Eu sei da sua grandeza. Que venham muitas outras alegrias, mas dessa vez, com o Lucas, aquele que é torcedor, dentro de campo.
Lucas Braga, em depoimento ao LANCE!/DIÁRIO DO PEIXE.
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