O narrador, os jogadores e os torcedores: diferentes óticas sobre o milésimo gol de Pelé
Na data que marca os 52 anos de feito histórico do Rei, o LANCE! entrevistou diversas testemunhas da partida disputada no Maracanã
Um momento histórico é contado muitas vezes ao longo do tempo. O fato é o mesmo, mas as óticas diferentes. Vidas que se cruzam até chegarem em um instante em comum. Marco. Como foi o dia 19 de novembro de 1969, data em que ocorreu o milésimo gol do Rei do Futebol, Pelé.
E como em todo espetáculo, o futebol também tem os seus atores e construção, dos protagonistas da bola até o pipoqueiro da arquibancada, passando pelos jornalistas e o público, principal motivador do evento. São diferentes óticas sobre o mesmo minuto, segundo, que ficam eternizados, como aquela noite de quarta-feira no estádio do Maracanã.
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Em campo, além de Pelé, outros 21 jogadores, entre eles Edu, lendário ponta-esquerda santista, que naquela partida era o camisa 9, centroavante do Peixe.
Fora os atletas que jogavam, os bancos de reservas contavam com os seus suplentes, como Valdir Appel, goleiro vascaíno que estava na retaguarda do argentino Andrada, imortalizado como o ‘Arqueiro do Rei’.
Já nas cabines de imprensa, Walter Dias era o único narrador oriundo de Santos.
Enquanto nas arquibancadas, divididas entre mandantes e visitantes, a torcedora alvinegra Mariza Brígido Mendes estava ao lado direito das tribunas, no espaço reservado à torcida santista, enquanto o cruz-maltino Roberto de Almeida sentava-se no setor à esquerda, destinado aos vascaínos.
Para relembrar o momento, que completa 52 anos, o LANCE! ouviu o narrador, os jogadores e os torcedores:
O JOGO COMEÇOU ANTES DO MARACA
No dia 19 de setembro de 1969, Pelé marcou o único gol santista no empate em 1 a 1 contra o Zeljesnicar, da extinta Iugoslávia, na cidade de Saravejo. Foi o gol 990 da carreira do Rei, e a partir dali começou uma pressão, advinda da contagem regressiva para o milésimo do Atleta do Século, como relembra Edu.
– O milésimo gol começou, na realidade, quando passaram a falar que faltavam dez gols para atingir o milésimo. Jogo a jogo, ele (Pelé) foi marcando e ficou aquela contagem regressiva. Oito, sete… e aquilo vai. Às vezes, tínhamos condições de fazer o gol, mas procurávamos condições para ele fazer, porque ele estava buscando – disse o ex-jogador ao LANCE!
Mas havia quem acreditasse que o Rei não quisesse bater o pênalti, e até mesmo os que torciam para que o gol mil fosse marcado de outra forma ou em outro lugar.
Naquela época, as rádios de Santos tinham poucas condições de acompanharem o clube fora de São Paulo, principalmente longe da Região Nordeste. Pela rádio Atlântica, Ernani Franco era o principal narrador do dial santista à época, mas a sua emissora não conseguiu ir ao Rio de Janeiro cobrir o jogo que marcou o milésimo gol de Edson Arantes do Nascimento. Incumbência que coube a Walter Dias, que na ocasião irradiava pela Cacique e teve a impressão que Pelé estava relutante em cobrar a penalidade que resultou a marca imortal.
- Haja vista que ele (Pelé) fez o gol de pênalti. Ele que tantos gols maravilhosos fez na carreira, poderia ter saído o milésimo em uma bola em movimento, mas foi uma bola parada, em cobrança de pênalti que, na minha opinião, acho que ele não queria bater – relembra Walter.
Torcedora fanática do Peixe, a advogada aposentada Mariza Brígido, hoje com 79 anos, estava em um grupo de torcedores que não queria que Pelé cobrasse o pênalti justamente porque sonhava com aquele tento sendo marcado com bola rolando.
- Quando foi marcado o pênalti, nós torcíamos muito para que o Pelé não quisesse cobrar. Eu achava que o gol mil teria que sair de outra jogada, não em cobrança de pênalti. Deu para notarmos que ele (Pelé) estava um tanto quanto relutante – disse a torcedora, que ainda complementa.
- Eu, na minha opinião, tinha em mente que seria muito melhor e mais bonito ele (Pelé) marcar o gol mil em uma jogada onde driblasse tudo, mas da mesma forma ficamos felizes. Eu ainda mais, porque o Andrada tentou falação antes do jogo dizendo que nele o Pelé não marcaria o gol mil.
Mas Edu, que estava em campo na partida, enxerga por outra ótica: a de que o destino foi perfeito na marcação do pênalti em questão.
- Ele é o Rei do Futebol e o homem lá de cima falou que ele era o comandante do futebol, ele que comandava isso. O gol do pênalti parou tudo, na minha opinião. Se sai em uma jogada normal, muita gente não iria ver. Deu o pênalti e parou. Se você vai no banheiro você pensa: opa, espera aí. Vai comprar alguma coisa, espera. O cara tá vendendo sorvete e para de vender, sai da frente. Foi coisa de Deus – pontuou o ex-atacante do Peixe.
O GOL 999 E O QUASE 1000
Nos dois meses entre os gols 990 e mil de Pelé, houve 13 jogos com Pelé em campo, alguns desses especialmente marcantes.
No dia 15 de outubro, o camisa 10 marcou quatro gols na goleada por 6 a 2 sobre a Portuguesa de Desportos, mas os episódios entre o 999º e milésimo tento foram os mais emblemáticos.
No dia 14 de novembro de 1969, o Peixe encarou o Botafogo da Paraíba, em João Pessoa. Antes da partida, o técnico do Peixe, Antoninho Fernandes, escalou o goleiro reserva Jair Esteves e sacou o titular Aguinaldo, com o pretexto de que caso Pelé, que tinha 998 gols na carreira, balançasse as redes, iria para o gol para não anotar o segundo na capital paraibana. E foi o que aconteceu, contrariando até políticos locais que se movimentaram para que o grande feito na cidade nordestina.
Na sequência, o Santos encarou o Bahia, em Salvador, com Pelé passando em branco porque o zagueiro adversário tirou uma bola em cima da linha, sendo, inclusive, vaiado pelos seus próprios torcedores, como relembra Edu.
- E teve o jogo na Bahia, que tabelamos, ele (Pelé) tocou para mim, eu toquei pra ele, ele driblou o goleiro e tocou, a bola estava entrando e o zagueiro salvou. E eu nunca tinha visto um zagueiro salvar o gol e ser vaiado.
OS DIAS ANTES DO JOGO MARCANTE
Com Pelé passando em branco na Bahia, coube a preparação para o duelo contra o Vasco, no Maracanã, três dias depois.
Logo após o jogo contra os baianos, Walter Dias se mobilizou para estar presente no Maior do Mundo. Com o respaldo da direção da rádio em que trabalhava, coube a ele e o repórter Leonardo Augusto (in memoriam) correrem em busca de patrocinadores que viabilizassem financeiramente a transmissão e os custos de viagem da dupla à capital carioca.
Em um trabalho árduo, os jornalistas conseguiram cinco anunciantes e contaram com a ajuda da rádio Cacique que abriu mão dos recebíveis.
O trajeto para o Rio de Janeiro começou cedo, no carro do repórter.
- O jogo do rio foi uma odisseia para nós da rádio. Porque o Santos vinha jogar com o Vasco no Rio, e eu cheguei na direção da rádio e falei que gostaria de transmitir o jogo. Eles disseram que se eu vendesse poderia fazer. Tinha que pagar a linha (telefônica) e as despesas da viagem. E vendemos. O jogo foi em uma quarta, então começamos a trabalhar bem antes. O Santos jogou em Salvador e vimos na tabela que o jogo seguinte era no Rio. Não dava para ir de avião, aí sugeri ir de ônibus, mas o Leonardo quis iir com o carro dele, ele tinha um “Fusquinha”. Fomos para o Rio em bate e volta. Saímos às 7 horas da manhã e chegamos às 5 da tarde diireto para o Maracanã. Tínhamos a preocupação de linha (telefônica). O jogo era às 9 horas (da noite) – relembra Walter Dias.
Enquanto isso, o destino havia sido bom para Mariza, que era casada com um carioca erradicado em Santos, mas que tinha familiares no Rio de Janeiro. Mais um fator que corroborou com a presença da torcedora no Maracanã no dia marcante foi o fato do esposo ser funcionário da Petrobrás e precisar ir até a sede da empresa, que fica na cidade fluminense, justamente nos dias que antecederam o jogo. Foi unir o útil ao agradável: trabalho, visita familiar e presença nas arquibancadas do Maraca para ver o milésimo gol do Rei.
- Nós (Mariza e marido) não tínhamos problemas de gastar indo para o hotel, porque eu ia para a casa da minha sogra. O meu marido conseguiu conciliar que teria que ir para a sede da Petrobrás. Escolhemos aquela data para matar dois coelhos com uma cajadada só. Fomos para o Rio no sábado e ficamos lá. O meu marido foi trabalhar na Petrobrás segunda e terça. Na quarta-feira fomos para o jogo com um grupo de parentes nosso que era do Rio. A maior parte torcida para o Flamengo e naquele jogo foram torcer para o Santos – relembra Mariza.
E até vascaínos foram ao Maracanã naquele 19 de novembro para ver o gol mil de Pelé. Torcedor cruz-maltino, Roberto de Almeida era recém-casado com uma fã do Fluminense. Morador da Barra da Tijuca, nas proximidades do estádio onde o Rei entrou para a história, o aposentado, a época engenheiro mecânico, chegou a sua casa após um dia de trabalho decidido a assistir a partida. Ainda que a ideia tenha sido de última hora, o torcedor do Vasco chegou ao Maraca junto com o apito inicial do árbitro pernambucano Manoel Amaro de Lima.
- Cheguei em casa, tinha ido trabalhar, e falei para a minha primeira esposa que queria ir ao Maracanã, porque o Pelé iria marcar o gol. Ele era Vasco e guardaria o gol para o Vasco. Ela nem gostava muito de futebol, era Fluminense, mas disse para irmos. Chegamos no Maracanã o jogo estava até começando – recorda Roberto.
Não havia clima de rivalidade e até mesmo a nação cruz-maltina presente no Maracanã ansiava pelo milésimo tento de Pelé.
- O mais interessante é que ele (Pelé) fez o milésimo gol no Vasco, sendo que ele disse ser vascaíno – relata o atacante Edu.
- Ele (Pelé) ia bater o pênalti. O Rio era o palco, o palco do futebol, não só brasileiro, mas mundial. O cara que não jogou no Maracanã, não jogou em lugar nenhum, não tem história. O Brasil é o único país que esteve em todas as Copas. E ele queria fazer o gol no Maracanã – acrescenta
- O Pelé tinha vindo jogar com o Vasco. O Vasco fez um time com o Santos que tinha ele, Jair da Rosa Pinto, e ele declarou que era Vasco, então criou uma ligação – pontua Roberto de Almeida.
A ânsia do milésimo gol de Pelé acontecer no estádio Maracanã naquele 19 de novembro era tanta que até o massagista vascaíno, chamado Marinho, estava preparado para o feito acontecer, algo que relembra o arqueiro reserva do clube carioca, Valdir Appel.
- Tem um fato cômico interessante: tinha mais gente do que a torcida torcendo pelo gol contra (o Vasco). No banco de reservas, o nosso massagista tinha debaixo do ombro reservada uma camisa do Pelé com o número mil e o símbolo do Vasco. Essa camisa é colocada logo após da comemoração do milésimo, quando o Pelé é carregado, Tem o Pelé com a camisa do Vasco com o número mil, ele sai, vai embora, desce o túnel com a camisa do Vasco pendurada nas costas – recorda o goleiro.
ANDRADA NÃO QUERIA JOGAR
E por pouco Valdir Appel não foi o ‘Arqueiro do Rei’, rótulo eternamente fincado em Andrada (in memoriam), goleiro titular que sofreu o gol mil de Pelé. Isso porque o argentino quis simular uma lesão na véspera da partida, o que foi fruto de brincadeiras internas dos companheiros de clube.
- Na véspera do jogo, treinamos em São Januário. Eu fazia abdominais e ele (Andrada) começou a gemer, dizendo que tinha sentido o tornozelo. Fomos para a concentração e os próprios jogadores sacanearam o Andrada. Na concentração, a brincadeira ocorreu o tempo todo dizendo que ele estava pipocando, não querendo jogar – relembra Appel.
O esclarecimento sobre o motivo no qual Andrada esboçou fugir da partida histórica, foi a rivalidade entre Brasil e Argentina, o que só foi revelado pelo arqueiro argentino em meados de 2008, quase 40 anos depois, em um encontro
- Ele disse que por ser argentino tinha medo de falhar e o público dizer que tinha que ser um gringo filho da mãe para tomar a vaga dele, mas como o gol foi de pênalti a culpa não era dele – recorda Valdir.
Com a bola rolando, Andrada foi um dos melhores atletas em campo, fazendo defesas impressionantes principalmente na etapa inicial, mas sendo vazado na penalidade na qual chega a tocar na bola e por muito pouco não pratica a defesa.
- Chegou no Maracanã, no aquecimento, ele (Andrada) pediu para fazer o teste e disse que iria jogar. Pleo que ele aprontou no primeiro tempo, o que fez de defensas incríveis, eu achei que o milésimo não aconteceria. E aconteceu por causa do pênalti, que o Pelé cobrou muito bem e foi indefensável – contra Valdir Appel.
Para o titular da meta vascaína, o sofrimento do momento contrastava com o privilégio que o reserva acredita que qualquer outro arqueiro teria em sido o algoz do milésimo gol de Edson Arantes do Nascimento.
- Depois daquele gol contra, Andrada teve que a vida inteira explicar, ouvir, enfim. Qualquer um que tomasse o milésimo gol teria tido o privilégio de ter tomado. Com ele não foi diferente. Ele já era bom goleiro, considerado um dos melhores do Vasco, e hoje está consagrado e eternizado também por isso (gol mil de Pelé). Eu (se estivesse no gol) iria perguntar qual era o canto que ele (Pelé) iria bater (o pênalti) para eu ir para o outro (lado), vai que ele dá uma zebra e eu pegasse. Ia deixar ele fazer mais um, porque vai que ele tivesse errado a contagem, precisaria ter a segurança de ter tomado o milésimo - trata Appel com muito bom humor sobre a possibilidade de ter atuado como titular naquele 19 de novembro de 1969.
FOI PÊNALTI?
De acordo com Edu, Pelé estava apreensivo para marcar o milésimo gol contra o Vasco, ainda mais quando os cruz-maltines saem na frente, com gol do atacante Benetti, aos 17 minutos de jogo.
Andrada, como dito por Valdir Appel, fazia uma partida e o zagueiro Renê colocava o Rei no bolso, até ir com tanta sede ao pote que marcou um gol contra, que deu o empate ao Peixe no início do segundo tempo.
- Maracanã lotado, coisa maravilhosa e nós apreensivo. Tanto que antes da jogada do gol, do pênalti, eu tinha feito uma jogada na linha de fundo, porque o Abel voltava e eu caia por ali, e eu fui, cruzei e quando ele (Pelé) ia fazer o gol, o Renê antecipou e fez o gol contra. E ele (Pelé) querendo fazer o gol de qualquer maneira, porque não aguentava mais, porque era a imprensa do mundo todo. Aonde íamos, era aquele monte querendo filmar aquele gol mil. E nesse dia, no Maracanã, eu cruzei e o Renê fez o gol contra – recorda Edu.
A marca da cal foi apontada próximo aos 40 minutos do segundo tempo, em um lance sofrido pelo próprio Rei, ao receber um passe de Clodoaldo. Entre os entrevistados, apenas o ponta-esquerda, que naquele jogou atuou como centroavante, afirmou de forma categórica que a penalidade havia sido bem marcada a favor do Santos. Era, no entanto, Edu, o personagem escudado pela reportagem que mais próximo estava do pênalti sofrido por Pelé.
Enquanto os demais estavam nas arquibancadas ou tribuna de imprensa do Maracanã e no banco de reservas do estádio Jornalista Mário Filho, o ex-atleta se figurava dentro da área esperando a trama para dar a assistência ao gol mil, caso o tento saísse com a bola rolando.
- Foi pênalti. O Valdir (Appel) não podia ver. Walter Dias também não. Mariza não. Só quem tá ali dentro. Ele tinha uma jogada, e quando o Clodoaldo tocou para ele, que ele arrancou, deu o balanço o adversário deu a lavanca, e quem tá em cima as vezes não vê. E eu tava ao lado, com a 9, esperando uma tabela. Quando o Clodoaldo lançou para ele, ele veio em velocidade – relembra Edu.
- Todo mundo jura que não foi pênalti, mas era todo mundo interessado em entrar para a história naquele momento. O pênalti foi marcado com o objetivo de consagrar o árbitro da partida, o bandeirinha, que não apitou falta, o impedimento. Havia um clima para que o gol mil acontecesse, mas todos os jogadores do Vasco estavam empenhados para que isso não acontecesse – conta Valdir Appel.
- Lá na hora a gene não achou muito pênalti não, mas é que o carioca queria tanto que o Pelé marcasse o gol mil lá no Maracanã, em terras cariocas, que o pessoal todo vibrou com aquele pênalti – relata Mariza.
O MUNDO PAROU, A BOLA TAMBÉM
Dizem que o Planeta Terra é redondo para girar como uma bola em campo, mas certamente a órbita terrestre parou o seu sistema de rotação em torno do sol por volta das 22h30 do dia 19 de novembro de 1969.
Quando o árbitro Manoel Amaro de Lima aponta o pênalti, a história se fazia história a ponto de fazer Vossa Majestade literalmente tremer.
Quando um semideus se torna um ser humano de convivência, o ver relutar se torna um momento ímpar. E Edu pode conferir um raro feito como esse instante antes de Pelé converter o pênalti que culminaria em seu milésimo gol.
Todos os jogadores santistas se reuniram no círculo central. Havia combinado uma festa para a conversão do tiro livre, celebração esta que não veio a acontecer por conta da invasão de campo posterior ao momento marcante, Pelé olhou para trás e não viu os seus companheiros próximos a grande área. E as pernas que eram tão leves que quase que levitavam em campo passaram a tremer.
Um papo rápido com o capitão Carlos Alberto Torres para ganhar encorajamento e ali partiu o Rei para um feito emblemático.
- Foi uma das primeiras vezes que eu vi o Pelé nervoso. Tínhamos combinados que todos ficariam no meio-campo e quando ele fizesse o gol todos iriam comemorar. Mas a imprensa, os jornalistas não deram chances. Quando ele fez o gol, já tinha jornalista e fotógrafo que parecia estar dentro do gol, esperando, e não deu para fazer a comemoração que queríamos. Mas quando ele pegou a bola para pegar o pênalti, ele olhou para trás e não nos viu e deve ter pensado onde estávamos, mas estávamos todos do meio-campo esperando. Foi quando eu reparei que ele sentiu a coisa. Carlos Alberto falou vai, bate e faz e acaba esse problema – lembra Edu.
- Saiu o pênalti no Maracanã e os jogadores foram para o meio-campo. O capitão era o Carlos Alberto, e achoque naquela conversa que ele teve com o Pelé deve ter falado pra bater logo para acabar com aquela história. Porque cansava. Ele foi lé, bateu e quase que o Andrada pegou – conta Walter Dias.
Com a Terra parada, o oxigênio não circulou. E que todos tenham prendido a respiração. O mundo voltou ao normal quando a finalização do Rei rompeu a linha fatal. Foi uma festa. Os jornalistas e fotógrafos invadiram o campo, a celebração no meio-campo foi cancelada, Pelé foi carregado nos ombros pelo goleiro Aguinaldo, deu uma volta no Maracanã, saudou a torcida e o jogo parou por aproximadamente 20 minutos. Quando recomeçou, já sem Pelé, que deu lugar a Jair Bala, a partida ficou morna, insossa e os cinco minutos finais daquele 2 a 1, de virada, do Peixe sobre o Vasco foi meramente protocolar.
- Não pode ficar mais de 15 minutos parado, ficou quase 20. Depois voltou normalmente, mas sem… o público também. Até para nós ficou meio assim bem tranquilo. Porque ia fazer o que? O cara do jogo não está. Depois do milésimo ele saiu, foi substituído. Não lembro quem entrou, mas não tinha mais condições dele ficar em campo. Maracanã todo gritando o nome dele. Até hoje é emocionante para nós, quando passa lances eu me emociono, imagine para ele. Fazer mil gols não é fácil. Não acredito que outros tenham feito. Mil gols não é fácil – recorda, emocionado, Edu.
A COMEMORAÇÃO PÓS-GOL MIL
Quem reservou ninguém sabe, mas o Canecão, um dos principais espaços para show do Rio de Janeiro, estava alocado para o elenco santista ir após o jogo contra o Vasco.
Um dos dois maiores nomes da Música Popular Brasileira estavam presentes e se apresentaram: Jair Rodrigues e Wilson Simonal.
Simonal, inclusive, gravava um filme a época e vinha acompanhando Santos com a sua equipe de filmagem para registrar o aguardado milésimo gol de Pelé.
- E eu nunca vou me esquecer que o Simonal estava fazendo um filme e todos os lugares que íamos ele levava a equipe dele para filmar – relata Edu, que também conta sobre a festa de comemoração do gol mil de Pelé.
- Festa do Canecão, fomos pra lá, show bonito, legal. Fomos só nós e aquele pessoal que era convidado. Não sei quem programou a festa, Foi a maior alegria para nós, que estávamos ali, estar ao lado do cara que fez mil gols e do melhor do mundo, não vai ter nada igual. Pode colocar mil juntos e não vai dar.
E o gênio tem dessas. Fazer de algo que, para ele, é natural, se tornar genial. Gols Pelé fazia de torto e a direito. Mas o Rei do Futebol tornou um em específico ansiado, aguardado esperado como se fora diferente de todos os outros. Especial. Porque era. Como cada um tento anotado por alguém tão especial para o futebol quanto Edson Arantes do Nascimento.