Ao final de Santos x Bahia na quarta-feira (17), parte da torcida alvinegra presente nas arquibancadas da Vila Belmiro cantou: "Não é mole, não, ganhar dos 'Porcos' é mais que obrigação". Torcedor tem todo direito de se manifestar, mas tratar o clássico deste sábado (20), contra o Palmeiras, como caso de vitória obrigatória do Peixe pode ser um erro de expectativa.
Os últimos anos difíceis chancelam a sensação de frequente preocupação dos santistas. Porém, o momento atual é o mais consistente da temporada: são três partidas sem derrotas, uma vitória convincente diante do Bahia (pelo Brasileirão) e posição confortável no Campeonato Brasileiro. Além disso, a equipe tem sofrido menos gols: desde o fim do Paulistão, o Alvinegro foi vazado em quatro de 13 partidas disputadas.
Ou seja, o trabalho do técnico Odair Hellmann está em evolução. Mesmo assim, a realidade do Santos não é, nem de perto, a do rival paulista, segundo colocado do Brasileirão.
OS DOIS LADOS DA MOEDA
O técnico Abel Ferreira completará três anos no comando do Palmeiras, que manteve a base do time desde a chegada do treinador, tem forte padrão tático e conquistou oito títulos no período. O clube vive situação financeira controlada e pode se dar ao luxo de, por exemplo, comprar um jogador formado em suas categorias de base por um valor mais alto do que quando foi vendido — Artur foi negociado com o RB Bragantino por cerca de R$ 28 milhões e recontratado por cifras que giram em torno de R$ 44 milhões em 2023.
Agora vamos ao outro lado: desde 2021, quando Andres Rueda assumiu a presidência do Santos, o clube contratou seis técnicos — Ariel Holan, Fernando Diniz, Fábio Carille, Fabián Bustos, Lisca e Odair Hellmann. Além disso, foram cinco executivos de futebol que trabalharam no Peixe durante o período: Felipe Ximenes, André Mazzuco, Edu Dracena, Newton Drummond e Paulo Roberto Falcão.
Também há um abismo em relação aos faturamentos. Em 2022, o Palmeiras obteve R$ 856 milhões em receitas. Enquanto isso, tentando colocar as dívidas em dia e convivendo com punições da Fifa, o Santos arrecadou R$ 341,9 milhões, segundo levantamento da Sports Value. São mais de R$ 500 milhões de diferença.
Embora sejam dois gigantes do futebol brasileiro, os rivais vivem praticamente em mundos diferentes. Pensando em questões técnicas, reflita: qual jogador titular do Alvinegro Praiano teria espaço entre os 11 iniciais do Palmeiras? O meia Lucas Lima, por exemplo, deixou a equipe da capital paulista após seguidos empréstimos e falta de espaço. Quando retornou ao Peixe, assumiu titularidade incontestável.
O duelo entre os clubes vale pelo Brasileirão, mas o Santos 'não disputa' o torneio com o Palmeiras, que certamente lutará pelo título. No fundo, quem tem a 'obrigação' de vencer o clássico é o Alviverde. Aceitar este cenário e cair na realidade pode ser produtivo para o clube do Rei Pelé, que pode vencer o clássico, sim, mas não é a situação mais provável de acontecer.