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Policiais e ‘imperador’ esperam pelo Santos na Copa do Brasil

Galvez, adversário do Peixe, foi formado pela polícia do Acre e jogadores recebem ordens para evitar problemas extracampo. "Tentamos impor essa disciplina militar, diz dirigente

Equipe do Galvez na Copa do Brasil
imagem cameraTime do Galvez posa para foto antes da partida contra o Rio Branco, na primeira fase (Divulgação)
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Lance!
São Paulo (SP)
Dia 10/05/2016
02:33
Atualizado em 10/05/2016
15:11

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A Banda do Imperador está acostumada a tocar para 200 pessoas. Começam quando entram em campo o soldado Monteiro, o cabo Dieneton e  o sargento Xavier. É observada pelo major Franco, major Sergio Roberto e cabo Simões. O repertório tem músicas de carnaval e marchas militares. É uma das atrações do Galvez Esporte Clube, adversário do Santos nesta quarta, pela segunda fase da Copa do Brasil.

O time pertence à Polícia Militar do Acre. O presidente é o coronel Júlio Cesar dos Santos, comandante-geral da PM do Estado. As 200 testemunhas são o público que geralmente assiste aos jogos no campeonato local. Contra o Santos, em Rio Branco, são esperados oito mil pagantes.

- Vai ser, com folgas, o maior público de nossa história. Mesmo com o horário desfavorável. No nosso fuso aqui será às 17h30 - afirma o major Edener Franco, diretor de futebol e financeiro do clube.

O time não é composto apenas por militares. Pelo contrário, eles representam a minoria. São apenas três: o lateral Chumbo (o soldado Monteiro), o volante Deneton e o lateral-esquerdo Xavier. Não apenas eles, mas todos no elenco são vigiados pelos superiores na “vida civil”. Porque a imagem do elenco, na visão dos dirigentes, é a própria reputação da polícia.

- Nós somos um clube militar. Claro. Um clube que sai de dentro da caserna. Existe essa preocupação na hora de contratar atletas. Jogador nosso não pode ser visto bebendo em público, dirigir sem documentação, ter caso de violência doméstica... É inadmissível. A gente tenta impor essa disciplina militar, uma forma mais correta de viver a vida - defende o cabo Pablo Simões, auxiliar-técnico e diretor.

O Galvez tem cinco anos de existência. Na federação local, assumiu a vaga que era do Tiradentes. Antes de enfrentar o Santos, eliminou o Rio Branco, a equipe mais tradicional do Acre., na primeira fase.  Orgulho para o futebol local seria o mesmo de todo time pequeno que enfrenta um grande nas fases preliminares da Copa do Brasil: não ser derrotado por dois ou mais gols de diferença em casa e conseguir viajar para a partida de volta.

- Para nós, seria a glória. Um resultado incrível - o volante Deneton.

Seria um prêmio para o grupo de jogadores que tem como salário máximo R$ 2 mil mensais. O orçamento anual do Galvez é de R$ 300 mil e é o segundo time com mais dinheiro no Acre. Também uma satisfação para os policiais que ajustam a escala de trabalho para conseguir administrar ou jogar pelo clube criado para tentar melhorar a imagem da corporação em Rio Branco.

- O policial é visto muitas vezes como truculento, o braço repressivo da sociedade. O Galvez é uma forma de melhorar a imagem da Polícia - opina o diretor de futebol.

Todos os diretores entrevistados pelo LANCE! usam a expressão “guardadas as devidas proporções” para citar a inspiração para a criação do Galvez. Nelson Mandela, ao assumir a presidência da África do Sul, usou o rúgbi e o Mundial da modalidade que aconteceria no país em 1995 para unir brancos e negros.

- Foi a inspiração, mas em muito menor escala. Guardadas as devidas proporções, usamos o esporte para integrar a polícia na sociedade - confessa o cabo Simões.

"O policial é visto muitas vezes como truculento, o braço repressivo da sociedade. O Galvez é uma forma de melhorar a imagem da Polícia

O Galvez acredita que o futuro será de vitórias. No ano passado, o time foi campeão estadual em todas as categorias de base. A avaliação é que a escolinha do clube, mantida pela Polícia Militar, pode render frutos. Sempre respeitando o princípio de “respeito, disciplina e planejamento.” A equipe sub-20 esteve na última Copa São Paulo e os garotos passaram o Réveillon no aeroporto para viajar à capital paulista.

- Vale também para nós, diretores. Se nós prometemos que vamos pagar R$ 5 mil no próximo dia 10, temos de cumprir. Porque a nossa promessa é a promessa da polícia. Temos uma reputação em jogo e não podemos brincar com isso - afirma o major Edener.

A única brincadeira permitida é a Banda do Imperador e não está no repertório e sim, no nome. Os amazonenses zombavam dos acreanos dizendo que o Estado era tão estranho que tinha um imperador. O Galvez resolveu assumir isso.

- Mas não era imperador. Era presidente - corrige Simões.

O nome do clube é homenagem ao espanhol Luiz Rodríguez Galvéz de Arias, que proclamou a República do Acre no final do século XIX e governou o “país” entre 1899 e 1900 para se rebelar do plano do governo brasileiro de arrendar a exploração da borracha por empresários bolivianos. Ele criou a frase mais famosa de um “acriano”, que está na entrada da Assembléia Legislativa do Estado: “se a pátria não nos quer, criamos outra. Viva o Estado Independente do Acre!”.

Um zebra contra o Santos, campeão paulista, despertaria muitos outros “vivas” entre os torcedores do Estados. Principalmente entre os policiais, com a trilha sonora da Banda do Imperador.

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