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Proposta escondida no Corinthians, lado B da Europa e recomeço no Santos: Matheus Cassini abre o jogo

Promessa no Timão, o meia passou por clubes de Itália e Croácia, mas não vingou. Matheus contou ao LANCE! os problemas pelos quais passou na Europa e as expectativas no Peixe

Matheus deixa a rivalidade de lado e  aposta no Santos B para subir para o time titular
imagem cameraIvan Storti
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Lance!
Santos (SP)
Dia 24/07/2017
23:26
Atualizado em 25/07/2017
08:00

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Ponte Preta, Corinthians, Zapresic, da Croácia, Parlemo e Siracusa, ambos da Itália. Esses foram os clubes pelos quais Matheus Cassini, atualmente no Santos B, passou até seus 21 anos. Ao LANCE!, o meia revelou os bastidores de sua saída do Corinthians, contou como chegou ao Siracusa por conta própria, sobre o arrependimento de ir para o Palermo e da gratidão a Tite e Osmar Loss, técnicos que ajudaram em sua formação.

Revelado na base do Timão, Matheus foi destaque na Copinha de 2015, vencida pelo time do Parque São Jorge, ano em que também foi convidado por Tite a fazer parte do time principal do Corinthians. Tudo parecia certo para o caminho do estrelato. Mas para a surpresa de todos, ele partiu para a Itália de encontro com o nada badalado Palermo, por 1,5 milhão de euros (cerca de R$ 5,1 milhões).

A surpresa não foi apenas para os torcedores, mas também para o jovem, que se define como inocente à época e aceitou a proposta, mas só entendeu a situação em janeiro deste ano, quando retornou ao Brasil.

- Eu descobri tudo que aconteceu quando eu voltei pro Brasil. Quando eu estava no Corinthians eu era muito inocente, não entendia nada de contrato, essas coisas. E quando eu voltei, eu entendi que chegaram propostas para meu empresário e ele não aceitou. E eu não sabia de nada. Estava acabando meu contrato com o empresário e o Corinthians fez uma proposta pra mim, mas para ele (empresário) não era interessante que eu ficasse lá e se ele não me vendesse, ele não teria retorno. Então ele escondeu as propostas que o Corinthians fez, para me vender e ganhar a porcentagem dele, que ele tinha mais do que a metade (da porcentagem), se não me engano. Depois que eu fui para o Palermo me largaram - recordou.

- Me arrependo de ter aceitado ir para o Palermo. Na hora que o pessoal quer ganhar dinheiro, é o "que chore a mãe dos outros, mas não a nossa". É difícil. Tem muita gente mau caráter que gosta de fazer esse tipo de coisa, esse é o mal de futebol. Mas são águas passados, agora estou no Santos, quero ser feliz e tenho certeza que serei - explicou.

Sem empresário, o menino teve que enfrentar os desafios do futebol europeu, tendo que se adaptar à cultura e ao idioma, o que julgou a parte mais difícil. E apesar dos perrengues, Matheus se recordou do dia em que pisou no estádio San Siro e dos ídolos de infância, sendo eles Totti, Gervinho e Felipe Mello, os quais enfrentou no exterior.

O grande problema foi sua saída do Palermo para a Croácia. Matheus estava sendo reconhecido pelo técnico, que dizia que utilizaria o garoto, mas em um certo momento perdeu espaço e passou a treinar separadamente. De repente, o treinador decidiu que ele seria emprestado. E Matheus resumiu:

- E eu não queria ir. Isso aconteceu do nada. Em um dia eu era muito valorizado e no outro eu sairia. Quando eu ligava para as pessoas que cuidavam de mim, ninguém me atendia. E eu tive que ir. Fiquei quatro meses treinando em volta do campo e isso pra mim também não era interessante - disse.

- Foi o diretor técnico do Palermo (que me emprestou), na época da Copinha ele foi ao Brasil, gostou de mim, pediu a contratação e me levou. E foi o mesmo que me emprestou depois. É o futebol, não tem explicação. Só quem passa isso na pele pode falar. A gente fica chateado. Passa muitas coisas na sua cabeça, você questiona seu valor. Há seis meses eu sai do Brasil como uma promessa, hoje estão me jogando pra lá. Tem que ter um psicológico forte, senão você sofre um baque - concluiu.

Matheus jogou no Zapresic, na Croácia e a readaptação foi difícil, quase impossível, segundo ele. Sem conseguir aprender o idioma, ele apostou no inglês e assim sobreviveu até o fim do contrato com o clube.

Ainda sem empresário, o jovem teve que se virar para encontrar um outro time, já que ele não queria seguir com os croatas, que sequer deixaram Matheus fazer a pré-temporada. O jeito foi conversar com o técnico do Palermo, com quem ele tinha contato e estava em um hotel, e pedir ajuda. Foi quando ele pôde escolhe escolher, mesmo sem querer, o Siracusa.

- Fui para o Siracusa e foi um baque forte. Não pela Série C, mas não tive nenhum apoio. Eu fui atrás para jogar. Faltavam seis dias para fechar a janela de transferência e eu não tinha clube. Eu fui no hotel em que estava o diretor do Palermo, um que substituiu o que pediu a minha contratação, porque não deixaram eu fazer a pré-temporada, mas eu tinha um contrato e não podia treinar. Eu fui falar com o diretor no hotel, contei o que estava acontecendo e pedi um time. Ai ele me deu três opções e eu escolhi. Consegui ir para o Siracusa por conta própria. Meu empresário me largou, ninguém me respondia, eu falei com o treinador, joguei no Siracusa e voltei pro Brasil - esclareceu.

Depois de se desiludir com a Europa, a ideia de Matheus era voltar para o Brasil. E ele voltou no início deste ano com contrato até o final do Campeonato Paulista com a Ponte Preta, em que terminou na segunda colocação. Após a competição, o meia foi sondado pelo Goiás e Oeste, mas escolheu o Santos B, com o qual tem contrato até o final deste ano com opção para renovar por mais três.

Depois de todos os desafios, o santista agora pode respirar e se acomodar na cidade de Santos, onde diz parecer estar aqui há muito tempo.

- Agora eu estou respirando melhor aqui no Santos. Me deram todo o apoio, já conhecia o Léo e o Kaique, que trabalharam comigo na base. Clima maravilhoso, a cidade é muito gostosa. Fazia tempo que eu não pegava uma praia, fui pegar uma praia, fiquei na Europa e já estava branco (risos). Estou muito feliz de estar aqui, desde o dia que cheguei, parecia que eu já estava aqui há muito tempo. Me deram todo o suporte que eu precisei, tanto dentro quanto fora de campo - concluiu.

Confira o bate bola com Matheus Cassini:

LANCE!: Como foi sua volta para o Brasil após a Europa?

Matheus Cassini:
Quando cheguei no Brasil já trabalhava com a Ponte Preta. Fizemos o Paulista, terminamos na vice colocação e depois que acabou meu contrato com a Ponte surgiram algumas equipes da série B, com o Goiás, o Oeste, e surgiu o projeto do Santos B. Eu não tive dúvida nenhuma, já que o Santos tem o histórico de revelar bons jogadores, eu não tive dúvida e acreditei no projeto e acredito que posso ter oportunidades na equipe de cima.

L!: Você era a promessa do Corinthians, atuou em time profissionais, tem um nome de peso e agora atuará pelo Santos B. Como você lida com esse processo?

M.C:
Eu acredito no meu potencial e meu contrato é com o Santos, não com o "Santos B". E todas as semanas nós integramos a equipe A. O projeto tem efeito, vocês são prova. Eu não encaro como 'me rebaixar', 'ah, você jogava no profissional e agora vai pro B' eu tenho potencial, A capacidade e o conhecimento de estar no time A.

L!: O Corinthians foi o clube que te revelou e está entre os principais rivais do Santos. Você acabou criando sentimento de torcedor ou apenas o leva com o clube que o revelou?

M.C.:
Foi o clube que me revelou, tenho todo o respeito e carinho, mas não torço. Entendo totalmente a rivalidade, mas hoje estou no Santos, respeito o Santos e é aqui que eu quero ser feliz.

L!: E o que te motivou a aceitar a proposta do Santos B?

M.C.: 
Primeiro que recusar uma proposta é... tem tanta gente que queria estar aqui. Não pensei duas vezes. Só depende de mim, eu estando bem fisicamente, as oportunidades virão e eu quero saber aproveitar.

L!: Seu contrato vai até o final do ano com a opção de renovar por mais três. Encara como um teste?

M.C.:
Tem gente que encara como teste, eu não encaro. Encaro como oportunidade de subir pro time de cima e de provar o meu valor para todos àqueles que desacreditaram de mim.

L!: Você foi convidado pelo Tite para fazer parte do time principal do Corinthians. Como era a relação de vocês?

M.C.:
O Tite foi na final da copinha, mandava vídeos para nós nos incentivando, e o que ele priorizava era o merecimento e o trabalho. Era muito justo, podia ser quem for, se eu cheguei ontem e eu merecesse jogar, eu jogava. Além disso, o respeito, a humildade, dentro de campo eu nem preciso falar muito, todos conhecem. É inexplicável trabalhar com ele. Só quem está com ele no dia a dia, sabe o sentimento.

L!: O Osmar Loss apostou em você na época. Depois que você voltou para o Brasil rolou algum contato sobre uma suposta volta para o Corinthians?

M.C.:
Sim, mas eu apenas agradeci pelo carinho. Ganhamos quase tudo na base juntos, temos uma parceria. Encaro ele como amigo, não como treinador. Mas nada sobre volta, apenas agradecendo. Se eu tivesse que ter voltado, não depende de mim. Não através de mim, eu não procurei ninguém, as propostas vieram e hoje eu estou no Santos.

L!: Mudando para o assunto campo, quando você subiu você tinha Jadson, hoje você tem o Lucas Lima. É nessa posição que você quer jogar?

M.C.:
Não só nessa, jogo pelas beiradas também. Sou meia e atacante. Posso fazer Lucas Lima, ponta direita e ponta esquerda. Não gosto de ficar parado no campo, gosto de participar da jogada e chegar na área. Posso desenvolver esses três papeis.

L!: Como foi entrar em campo no Santos? Foi o que você esperava?

M.C.:
Dentro de campo eu já esperava, muita alegria, companheirismo, respeito. Fora isso, as partes chatas que eu já estou acostumado. Mudando de casa, procurando apartamento, acaba fazendo parte da rotina, acaba sendo legal. Fora de campo tenho minha mulher, que me ajuda muito. Ela está comigo nas horas boas, nas horas ruins, só coisas positivas desde que cheguei aqui.

L!: Na Europa você conheceu apenas o lado B também?

M.C.: 
Eu conheci um pouco do glamour, quando cheguei no Palerma joguei no San Siro, pareci uma criança. Joguei contra times grandes, tinha ídolos meus de infância que joguei contra. Totti, Gervinho, Felipe Mello... Depois de seis meses fui pra Croácia,fui pra primeira divisão e é um futebol muito bom, o pessoal é muito talentoso.

L!: Quando você ficou sem empresário, como você viveu na Itália? Você estava sozinho? Como você enfrentou os problemas?

M.C.:Eu morava com a minha namorada na Italia, eu não trabalhava com meu empresário antigo, trabalhava com o Leo meu irmão e o Eduardo, eles moraram na Italia por minha causa. Eu estava muito chateado, porque tem muita gente que olha o futebol dentro do campo, mas nós somos seres humanos, também temos nossos perrengues. Graças a Deus eu tive o apoio da minha família de longe, da minha mulher e desses dois. Sou muito grato, senão eu já tinha desistido antes. O Edson, um grande amigo, também me ajudou muito. Se não fossem eles, eu voltaria antes. Tem que ser forte. Querendo ou não é a vida, um dia você tá bem, outro mal. E quando você está mal você tem que estar preparado. Não adianta no primeiro dia ruim abandonar a barca, assim você se afunda mais.

L!: Você está vendo o pessoal que jogou com você, o Maycon, o Arana... Você mantem contato com eles?

M.C.: Sim, fomos campeões na Copinha, no sub-17, no sub-20. Mantenho contato com eles. Pessoal muito humilde, não subiu pra cabeça. Subiram, tão com moral, mas com a mesma simplicidade. Vou encontrar eles logo logo. O Arana me marca, eu encontrei contra ele, me marcou, palhaço, fala besteira, fez gracinha dentro do campo. É um grande amigo. Gente boa, sem palavras. Espero encontrá-lo no Santos.

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