Depois de barrar Ronaldinho Gaúcho no Atlético-MG e Fred no Fluminense, Levir Culpi já tomou a primeira medida drástica no Santos: bateu de frente com a religião, um dos tabus dentro do clube no momento. A decisão do treinador foi proibir a entrada de pastores em dia de concentração para a realização de cultos.
Apesar de ter sido contratado para "chacoalhar a roseira", como disse o presidente Modesto Roma Júnior, o treinador esclarece que tal atitude faz parte das regras do ambiente de trabalho e que nada foi feito a pedido da diretoria.
- Aqui é local de trabalho. Se abrir para religião, tem que abrir para todas, muçulmana, tudo. Aqui se faz futebol. Saiu do portão, vamos frequentar qualquer igreja - explica, em entrevista ao LANCE!.
Como em qualquer lugar, o tabu não é um só. Renovação de Lucas Lima é algo que nenhum jogador quer comentar, muito menos o próprio camisa 10, que ainda não respondeu à proposta de renovação Peixe e também foi sondado pelo Barcelona (ESP).
Apesar de não querer influenciar na decisão do meia, o treinador tem medo que a dúvida influencie no rendimento do camisa 10.
Tudo isso passou a ser problema de Levir Culpi há um mês, desde que foi apresentado como técnico do Santos. Com mais cinco meses de trabalho pela frente, o comandante já sabe os problemas que vêm pela frente. Com um contrato curto, ele ainda terá que lidar com o período de eleição presidencial, que acontece no começo de dezembro. Nada com o qual ele não tenha convivido antes.
- O Santos está parecido com o Fluminense no ano passado. Teremos eleição. Então pronto. Vira o caos!
Confira esses e outros assuntos na entrevista exclusiva com Levir Culpi.
LANCE!: Você proibiu os cultos religiosos durante as concentrações. Por quê?
Levir Culpi: Não é bem assim. Se vai viajar e faz uma oração no ônibus, acho legal. Junta todo mundo. O que não quero é que venha padre aqui, pai de santo, Caboclo Mexerica. Aqui é local de trabalho. Se abrir para religião, tem que abrir para todas. Muçulmana, tudo. Aqui se faz futebol. Saiu do portão, vamos frequentar qualquer igreja. Mas não gosto de marcar. Nem sabia se isso acontecia em concentração aqui. Mas se vier pastor ou padre aqui, não vai entrar. Podemos ir na igreja, na casa, mas não quero que venha aqui.
Uma das suas pretensões é acabar com a concentração em dia de jogos em casa. Dá para colocar isso em prática no Santos?
É bem possível que acabe. Os jogadores daqui não são diferentes dos jogadores do Atlético-MG (equipe que Levir comandou em 2014). A maioria é gente boa. Precisamos cuidar da minoria. E a maioria tem que sair vencedora.
A concentração era 19h. Pediram para mim para ser às 22h e dormir. Por que não? Claro que dá.
Desde a sua chegada, a renovação do Lucas Lima é um dos assuntos mais comentados no Santos. Já conversou com ele a respeito?
Não teria essa arrogância de chegar para o Lucas Lima e pedir para permanecer. É uma responsabilidade e decisão que pertence a ele. O torcedor do Santos quer que ele fique, eu também gostaria, mas quem tem que decidir isso é só o Lucas. Ele com a família dele. Se ele vier pedir um conselho, posso até falar alguma coisa. Mas falaria com receio, porque a possibilidade de eu errar é grande.
Não teme que essa dúvida atrapalhe o jogador em campo?
Isso eu tenho medo. Para analisar a situação do Lucas Lima, tem que se colocar no lugar dele. As pessoas não fazem isso. Imagina receber um telefonema do Barcelona. Vai ou não vai? É uma decisão muito pessoal, muito forte, mudança radical, é a vida! Tem que respeitar o cara. Procuro deixar à vontade. Isso balança.
Logo que saiu do Fluminense você fez um texto criticando a decisão e disse que era um dos clubes que mais demitia. Agora, no Santos, seu contrato é de seis meses em um ano eleitoral. Encara como um trabalho de risco?
Desde a assinatura do contrato! Quando assina o contrato, já é de risco. A cultura é essa no Brasil. Mas pode mudar, não a curto prazo. É a mesma coisa que o pessoal que quer que o futebol aqui seja igual na Espanha. Não se vira a página assim. O Brasil é esculhambado de norte a sul. Demora para mudar. É preciso uma catástrofe como aconteceu com o Japão. O Japão teve que se meter na Segunda Guerra Mundial. Bateram no fundo do poço e recomeçaram. Uma tragédia talvez faça o Brasil tomar um rumo diferente.
Quando foi contratado, o que analisou que precisava ser feito no Santos além do campo para que as coisas melhorassem?
Não consigo fazer esse tipo de conserto no Santos. O Santos está parecido com o Fluminense no ano passado. Teremos eleição. Então pronto. Vira o caos. É das pessoas, não tem jeito. Quem quer entrar tem que desestabilizar quem está aqui. Senão, não entram. É política, não futebol. E a política não é limpa. Ainda mais no Brasil.
Uma das suas reclamações é a falta de tempo para trabalhar, mas conseguiu vencer dois clássicos. O que conseguiu fazer nesse tempo?
Pouco. Não vejo muita mudança no time. O elenco é bom, tem base. Mas eu acho que precisamos melhorar para ser campeão. É um nível acima desse momento em que estamos. O que procuro fazer é com que eles entendam o que está acontecendo para poder mudar. A visão que tenho da bola parada. Você vê de uma maneira, posso ver de outra. Quero que eles entendam que podemos melhorar algumas coisas. Com o auxílio do vídeo, posso mostrar uma série de jogadas que se repetem e dizer por que se repetem. Mas com pouco treinamento. Discuto futebol com eles e tento melhorar.
O Santos pode ter um caminho só com equipes brasileiras na Libertadores. Isso é bom ou ruim?
É desgastante, mas altamente emocional. Jogos de ponta, que exigem 100%. É o desgaste completo, mas pode ser a glória. Isso que é o legal do futebol