Casares conta com Dani Alves, sonha com Muricy e se põe à disposição para discutir mudanças pré-eleição
Candidato à presidência do São Paulo na eleição de dezembro diz que Daniel Alves será líder de uma nova mentalidade, quer Muricy na diretoria e promete profissionalização
Julio Casares, candidato à presidência do São Paulo, vislumbra o clube com Muricy Ramalho como coordenador de futebol e Daniel Alves na condição de "líder de uma nova mentalidade" a partir de janeiro de 2021, mas se coloca à disposição para, se a atual diretoria achar prudente, discutir qualquer decisão que venha a ser tomada ainda em 2020 - a eleição será em dezembro.
A pouco mais de quatro meses do fim da era Leco, o São Paulo vê aumentar a pressão da torcida e de conselheiros sobre o técnico Fernando Diniz. Uma eventual troca de comando - que os dirigentes sustentam que não pretendem fazer - geraria um dilema: como buscar um novo treinador faltando tão pouco tempo para uma troca de gestão? E pior: com a temporada se encerrando apenas em fevereiro de 2021.
- Nós temos, infelizmente, um campeonato que vai virar o ano. Você tem complicadores nisso. Arrumar um técnico que aceite ficar só quatro meses seria um problema contratual da diretoria, assim como manter o Diniz seria uma decisão deles . Eu, como candidato e como são-paulino, estou à disposição se for convocado a conversar. Não posso ter nenhuma iniciativa nesse sentido, mas reitero que estou à disposição para discutir qualquer medida que vá impactar o futuro do São Paulo - disse Casares.
O candidato da coalizão "Juntos pelo São Paulo" detalhou os principais pontos de suas propostas nesta entrevista exclusiva. O LANCE! pretende fazer o mesmo com Roberto Natel após a divulgação de seu plano de gestão. O atual vice-presidente, rachado com Leco, foi escolhido no último sábado como candidato pela chapa "Resgate Tricolor" após superar Marco Aurélio Cunha e Sylvio de Barros em convenção entre conselheiros. As duas chapas se consideram de oposição ao atual presidente, que não pode se reeleger e não manifestou apoio a ninguém até agora.
LANCE!: Você dizia, antes da paralisação do futebol, que pretendia manter o Fernando Diniz como técnico do São Paulo em caso de vitória nas eleições. Após a eliminação no Paulistão e o início instável no Brasileirão, a ideia se mantém?
Julio Casares: Quando a gente fala de futebol, a gente procura falar de forma mais ampla. Nós pedimos para o Leco, há um ano e meio, uma reestruturação profunda na Barra Funda. Quantos técnicos e diretores de futebol o São Paulo teve nos últimos anos? Hoje, você tem um posicionamento estrutural que não está funcionando. Eu defendo uma reestruturação que passa pela parte médica, passa pelos critérios para contratar um atleta pensando no custo-benefício, na idade, pela análise da base, se tem um jogador preparado para aquela posição... É uma mudança de princípios, procedimento e filosofia. Se essa reestruturação não for feita, você vai acabar trocando técnico sempre, não tendo estabilidade. Quando falei do Fernando Diniz antes da pandemia era no sentido de estabilidade. Quando nós assumirmos, em 2021, nós vamos analisar o quadro. Hoje essa responsabilidade é do presidente e da diretoria atual.
No seu plano de gestão, está a criação do Comitê Avançado de Futebol, órgão criado para aumentar a assertividade das contratações. O que vai mudar efetivamente na estrutura do futebol e qual é a diferença objetiva deste órgão e o departamento de análise de desempenho que já existe?
Vai mudar tudo. Vamos ter um diretor-executivo, um gerente-executivo e um coordenador de futebol, além dos colaboradores voluntários, adjuntos, que podem ajudar. O Comitê Avançado de Futebol é um órgão auxiliar, não é um órgão executivo. Será um órgão treinado a tomar decisões rápidas, online. Nós vamos ter lá um representante da área de saúde, talvez tenhamos um ex-atleta lá, também teremos uma pessoa técnica em orçamento, porque é importante a avaliação do impacto financeiro da contratação. E vamos ter também a participação do diretor da base para fazer uma avaliação do futuro. Vale a pena contratar um jogador de 32 anos? Pode ser que sim. Mas temos que ter critério, saber que tipo de contrato se pode fazer, como investir, e quais jogadores da base estariam preparados. A análise de desempenho pode ter números técnicos, quantas vezes jogou, como é o atleta, mas o Comitê Avançado de Futebol vai municiar a gerência executiva desenhando a mentalidade vencedora do atleta. O coordenador de futebol vai fazer o meio de campo com a comissão técnica e, é claro, a gente tem um sonho que é trazer o Muricy. Nunca escondi isso. Quero reiterar que nunca falei com ele sobre isso, mas vai ser a minha primeira ligação depois da vitória. Eu tenho duas referências de um São Paulo vitorioso, que são o Muricy e o presidente Pimenta (José Eduardo Mesquita Pimenta, presidente na era Telê), que é meu coordenador de campanha. Quero poder apresentar os jogadores que chegarem com o Pimenta de um lado e o Muricy do outro, como referências do São Paulo vitorioso nos anos 1990 e 2000.
Você já decidiu quem serão os membros deste Comitê e da diretoria de futebol. Raí e Pássaro podem permanecer como diretor e gerente?
Eu não entro na discussão de nomes, a não ser o do Muricy, que eu já tinha revelado. Claro que vai depender do entendimento com ele, mas queremos tê-lo. Se ele não vier, temos o plano B, o C e o D. E os nomes do Comitê também temos, mas não queremos adiantar por serem pessoas de mercado. E claro que respeitamos o Raí e o Pássaro, não vamos fazer nenhum julgamento antecipado, até porque não nos cabe. Eles têm uma missão muito difícil de ajeitar esse time, superar esse momento. Respeito muito o Raí, que é um cara correto, um ídolo, uma pessoa de grande caráter.
As mudanças serão feitas em janeiro ou após a temporada, em fevereiro?
Em janeiro. Nós já estamos trabalhando nisso, essa é a vantagem de ter um plano de gestão amplamente desenvolvido, discutido por dez meses. Esperamos, na hora um do dia 1º de janeiro, começar todos os procedimentos, no futebol e em todas as áreas. Financeiro, marketing, futebol, estádio. Vamos ter que fazer tudo simultaneamente, não há outro caminho. Meu compromisso é com a profissionalização. Eu não vou lotear cargo e quero que os conselheiros entendam. Toda colaboração voluntária sempre foi bem-vinda e ajudou o São Paulo, teremos câmaras setoriais em que eles poderão colaborar, mas os executivos serão do mercado e já estou conversando com pessoas para o financeiro e para o marketing. Para o futebol temos alguns nomes que estamos avaliando. Na hora um, temos que virar a chave.
O assunto Daniel Alves engloba futebol, marketing e financeiro. Ele é o principal jogador do time, mas o clube não conseguiu executar até o momento o projeto de marketing que traria receitas para pagá-lo. Como resolver essa questão? Você concorda com o grupo que pede a saída dele?
Primeiro quero deixar claro: contamos com o Daniel Alves. Claro que houve um descompasso na contratação dele na questão do marketing, e não estou responsabilizando a pessoa do marketing. Isso foi uma combinação errada entre futebol e marketing. Como atleta, como líder, não existe a menor possibilidade de não contar com o Daniel. O Daniel vai ser o nosso grande aliado nessa transformação, vai ser o grande líder de uma nova mentalidade. Não que não tenha hoje uma mentalidade vencedora (no elenco), mas queremos iniciar um novo momento, uma nova filosofia. Conto com o Daniel e teremos, no marketing, uma forma de tentar atenuar o descompasso que houve. O Daniel foi apresentando em agosto de 2019, longe da pandemia, e o que tinham nos dito é que existia um grupo de publicitários por trás. Até hoje não vi esse projeto. Eu não sei se o marketing participou disso no momento um, teria que se ouvir o diretor do marketing, mas isso é uma questão deles. Se eu vou trazer um jogador que tenha algum apelo de marketing, eu tenho que conversar com o marketing antes. Tudo deve ser discutido com o marketing, ele deve ser parte integrante de uma linha racional. Não que o marketing estará no Comitê Avançado de Futebol, mas tem que ser ouvido.
O que fazer para o marketing do São Paulo gerar mais receita do que atualmente?
A primeira coisa é que vou trazer uma pessoa do mercado. São-paulino e com know-how no que faz. O marketing tem que ter uma atuação institucional e comercial. Ao mesmo tempo que embala o produto institucionalmente, com vídeos, com ações dentro da linha da marca, ele precisa ter uma equipe de vendas que tenta a todo momento negociar desde uma placa no estádio até o patrocínio da camisa. Nós precisamos recuperar a credibilidade. Nós vamos ter um diretor de mercado e um grupo de executivos. Eu tenho vários amigos do mercado, com grande penetração em agências de publicidade, que têm amor ao São Paulo e querem doar esse amor. Esses caras vão voltar. O GESP (Grupo de Executivos São-paulinos), que eu criei e funcionou, vai voltar. Nós lançamos camisa, criamos o Morumbi Concept Hall, o Pernalonga vestiu a camisa, vendemos grama, o Batismo Tricolor, os DVDs dos títulos brasileiros... A cada semana você tinha uma novidade.
Por que essas ações se perderam? Estão muito atreladas a conquistas?
O São Paulo precisa aprovar um plano diretor. Mesmo que não tenha força jurídica, mas que tenha um reconhecimento do Conselho para que aqueles projetos vencedores continuem. Se o projeto é positivo, não é porque mudou o presidente que você deixa para lá. O Batismo Tricolor é extraordinário, mas ele foi enfraquecido. A parceria com a Warner foi interrompida porque faltou um plano diretor. Havíamos crescido 20% ao ano, o Pernalonga vestiu a camisa do São Paulo, tinha um apelo muito legal com as crianças. Para a gente conseguir que o Pernalonga vestisse a camisa do São Paulo foi um drama de seis meses até convencer os americanos de que isso era bom. O erro foi do sistema. O licenciamento com uma grande empresa como a Warner é muito melhor do que com uma empresa da qual você não tem controle nenhum das atividades. Claro que quando o time ganha sempre ajuda, mas quando cheguei no marketing do São Paulo, em 2002, estávamos há muito tempo longe da Libertadores e conseguimos retomar a credibilidade, tivemos grandes patrocínios, grandes cases. É resgatar isso, claro que com uma visão mais atual.
Uma das novidades que você pretende implantar é o departamento de inovação, algo que outros clubes têm feito com relativo sucesso. Quais serão as atribuições dele?
O departamento de inovação é uma ideia moderna. Eu já tenho também o nome do diretor, que é um profissional de grande impacto na área, um dos mais reconhecidos nessa área digital, de informação. São-paulino, faço questão de dizer. Vamos começar com e-sports, uma modalidade que oferece muito dinheiro a nível internacional. Eu já tenho um protocolo, com especialistas, que vou anunciar em breve, em que o São Paulo vai ter sua marca no e-sports. Esse diretor vai trabalhar na modernização de produtos, como o aplicativo, na melhora da venda de ingressos, que infelizmente tem muita coisa que não funciona, nas informações para a gestão decidir, inclusive ajudando na criação do novo projeto de sócio-torcedor. Não é uma plataforma de TI. O modelo não foi espelhado em clube A ou B, é o modelo das grandes empresas. O diretor de inovação é diretor de inteligência, de mercado, de futuro, para a expansão da marca e para gerar maior receita.
Qual é a ideia para o projeto sócio-torcedor ser resgatado?
O sócio-torcedor à distância vai ficar ligado às Embaixadas e tem que ter um preço diferenciado, porque ele usufrui de poucos benefícios. Vai ter um capítulo para o sócio à distância. A reformatação do sócio-torcedor propõe relatórios bimestrais comprovando que o dinheiro líquido do sócio vá exclusivamente para o futebol. A diretoria de inovação vai permitir que a gente consiga interagir mais com o sócio-torcedor. Claro que ele vai ter os benefícios, mas vai entender também que é uma pessoa que está ajudando a reconstruir o São Paulo, então ele vai poder ajudar além da mensalidade do sócio-torcedor. Pode ser por meio de um título de capitalização ou de uma outra ação que estamos desenvolvendo e não posso anunciar. O sócio-torcedor tem que ser bem atendido, tem que ter certeza que o dinheiro dele vai para o futebol, não para outras áreas.
Outra fonte de receita que parece sub-aproveitada no São Paulo é o Morumbi. O que você pretende para o estádio? É possível cogitar uma reforma estrutural?
Quando se fala em mudança estrutural, é importante o torcedor entender que hoje temos uma dívida de meio bilhão que pode aumentar até dezembro, então não vou assumir nunca que uma reforma virá dos cofres do São Paulo. Se empresas privadas investirem podemos pensar em cobertura, em mudança estrutural, mas o nosso primeiro passo será trazer receitas com ativação do Morumbi do jeito que ele está.
E como fazer isso?
O Morumbi Concept Hall hoje tem várias unidades que atraem o público fora do dia do jogo, então ele já garante uma receita, mas não adianta você ter restaurantes, buffet e academia e não ter ativação. O Morumbi precisa ter um pensamento mercadológico para que grandes empresas façam lançamentos de produtos lá, façam seminários e simpósios lá dentro. Hoje os restaurantes têm uma boa frequência, eu ainda tenho um sonho de levar um cinema lá para dentro. Tentei com o Cinemark há algum tempo, mas tivemos problemas de acústica. Ainda acho que podemos buscar parceiros para ter duas ou três salas de cinema. E com isso você leva dinamismo, receita e eventos, mas temos que ter ativação. Podemos ter shows menores, com um quarto do campo utilizado, não só os grandes shows. Vamos ter que ter alguém contratado, junto ao gerente do estádio, que é uma pessoa competente que está lá, junto ao diretor de estádio, que pense na ativação de produtos dentro do Morumbi. Esse cara vai ter um salário e bônus quando atingir a meta.
O seu plano de gestão prevê a criação de um Comitê Financeiro. Como isso vai funcionar?
O nosso diretor financeiro virá do mercado, também são-paulino, com grande rodagem. O Comitê Financeiro será uma câmara setorial, vai trazer pessoas experientes que temos dentro do São Paulo e também pessoas do mercado que querem ajudar. Tenho dois nomes de pessoas que querem ajudar, não colocando dinheiro, mas fazendo uma radiografia e um encaminhamento dessas renegociações. Quero deixar claro que o São Paulo vai honrar todos os seus compromissos, isso faz parte da história do São Paulo. Vamos sentar com cada credor e alongar tudo para médio e longo prazo.
Você também fala muito em "compliance". Como isso se aplicará no clube?
As normas de compliance estão dentro do pilar da governança. Governança é estabelecer regras de conduta, processos e travas no sentido de proteger a instituição. Se tem um conselheiro colaborando, por mais que seja abnegado, ele não pode participar de um negócio do São Paulo. Um executivo que recebe a condição de fazer uma viagem porque está negociando com uma empresa tem esse impeditivo, ele tem que agradecer pelo convite dessa viagem e dizer que não pode pelas normas de compliance. Nós vamos, no primeiro dia da gestão, assinar essas normas de compliance, publicá-las no site e colocá-las internamente. As pessoas têm que entender que o conselheiro vai ajudar como abnegado nas câmaras setoriais, mas que teremos regras rígidas.
Muito se fala sobre a necessidade de democratizar o São Paulo, que hoje elege seu presidente com votos apenas de conselheiros, na contramão de clubes que abriram o processo para sócios e até sócios-torcedores. Isso será debatido?
Compromisso com democratização todos nós temos, e o fato de apresentarmos nosso plano de gestão em uma live já indicou esse caminho. Tudo será discutido. O sócio-torcedor votar acho que depende de um processo, não sei se votar direto para presidente ou se em uma prévia para evitar algumas possibilidades. Por exemplo, um ex-jogador, um grande ídolo que nunca administrou sequer uma padaria, pode ganhar uma eleição com esse voto popular. Outra preocupação é que figuras político-partidárias possam entrar no São Paulo com essa modalidade de votação. Tudo será discutido. Não tenho dúvida que o Olten Ayres (candidato da chapa à presidência do Conselho) vai se preocupar com isso, inclusive colocando no escopo a participação mais efetiva do sócio.
Os clubes que se propuseram a fazer uma reestruturação financeira recentemente tiveram dificuldades esportivas antes de voltarem à boa fase. O São Paulo não pode se dar ao luxo de continuar na fila. Dá para conciliar as duas coisas?
Dá para fazer, com verdade, transparência, informando o torcedor. Vamos ter que ter investimentos certeiros para ter um time competitivo. Se você acerta na contratação, não precisa fazer seis, sete ou oito. Pode fazer contratações pontuais, por metade do valor, e agregar jogadores com espírito competitivo ao elenco, somando com atletas da base. O fundamental é ter mentalidade vencedora. Tem elencos com folhas de pagamento muito inferiores à nossa com resultados melhores nos últimos anos. Eu não vou fugir dessa missão, que para mim é a mais difícil do clube desde a construção do Morumbi. Que o torcedor tenha esperança. O que eu posso fazer por isso é uma campanha com propostas. Você não vai me ver baixando o nível, falando de candidato A, B ou C. Procuro nem falar o nome, apenas falar de propostas. O Juntos pelo São Paulo é aberto a todos que queiram ajudar a reconstruir o São Paulo.