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Centroavante do São Paulo fala do preconceito que sofreu e de sua superação: ‘Não queria mais jogar’

Gláucia, contratação mais significativa do Tricolor para esta temporada do futebol feminino, contou ao LANCE! como superou as críticas por conta de sua forma física

Gláucia - São Paulo
Gláucia é o reforço mais badalado do São Paulo nesta janela de transferências (Foto: Reprodução/Twitter São Paulo)

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Na última terça-feira, o São Paulo apresentou seu elenco feminino para a temporada 2020 com novidades. A principal delas foi Gláucia, que atuava pelo Santos em 2019 e se destacou por ter sido eleita a melhor atacante do ano pela CBF, além disso ela marcou 19 gols e deu 18 assistências. No mercado da modalidade, a contratação é considerada como uma das mais badaladas da janela. Mas para chegar até aqui, a atleta superou problemas além do campo.

- Teve um jogo que eu saí, tinha feito gols, joguei super bem, mas aí eu entrei na minha rede social e  vi uma galera falando "vai para a Seleção" e outra "mas como, se ela está gorda?". Aquilo me machucou muito, eu estava dirigindo, mexeu muito com a minha cabeça. Foi aí que eu liguei para a Maurine, que foi uma das pessoas que mais me ajudou no ano passado, estava muito triste, não queria mais jogar, pensei em tomar remédio para emagrecer... E claro que isso acaba afetando - disse Gláucia em entrevista coletiva.

A centroavante ganhou peso após uma passagem para esquecer no futebol da Coreia do Sul, onde entrou em depressão por sentir falta do Brasil e não poder voltar. De lá para cá, sua parte física mudou bastante, mas conseguiu se adaptar às condições atuais de seu organismo. Pelos números da são-paulina, isso não tem atrapalhado em nada, a não ser pelo "haters" de rede social. A solução para se desligar disso foi a amiga Maurine, já citada acima.

- As pessoas cornetaram bastante, são bem maldosas, chamavam de "gorda, isso e aquilo". Então me superei bastante, não deixei isso entrar, mas algumas vezes deixava, aí eu tinha uma parceira muito alegre, que é a Maurine. Ela me ligava e falava para eu não ficar daquele jeito, isso me ajudou bastante, espero que isso não aconteça aqui no São Paulo, porque eu vim aqui só para ajudar.

- isso acontece com outras pessoas, não só comigo, porque vocês sabem da minha história, mas tem menina que é muito pior, que é agredida na rua "olha a gorda" ou "está magra demais", as pessoas têm que parar com isso, porque se a pessoa está vivendo bem, está se sentindo bem , por que vocês vão agredir? Acho que as pessoas têm que começar a colocar a mão na consciência, pensar nas coisas que falam, porque machuca bastante, me machucou muito no ano passado -  completou a atacante.

A temporada é nova, o clube é novo, mas Gláucia quer repetir os feitos de 2019 e ainda superá-los. Além de tentar ajudar o São Paulo na elite do Brasileirão, ela quer chegar à Seleção Brasileira. Para isso, a centroavante promete se esforçar nos treinamentos e manter sua maneira de jogar.

- Tudo o que está acontecendo a expectativa é grande, não só de vocês, mas minha também, do São Paulo também. Espero que seja melhor do que o ano passado, não vou mudar o meu jeito, não vou mudar como eu jogo, então tudo isso vai ser mérito dos meus treinamentos, espero que chegue numa forma que eu possa ser convocada e é isso que eu estou almejando. Falei que não era isso que eu pensava, mas a cobrança é grande, as pessoas me perguntavam o porquê de eu não estar na Seleção, então vou focar para que isso aconteça.

O São Paulo estreia no Brasileirão da Série A1 no dia 9 de fevereiro, contra o Cruzeiro, fora de casa. O confronto reedita a final da Série A2 do ano passado, em que o Tricolor saiu com o título. Para esta temporada, os dirigentes são-paulinos mantiveram 13 jogadoras no elenco, trouxeram oito reforços e subiram cinco jovens da base sob o comando de Lucas Piccinato.

Confira outros trechos da entrevista com a atacante Gláucia:

ELOGIOS E DESEMPENHO NOS TREINOS
Para mim é gratificante saber o quanto eu sou bem vista, as coisas que aconteceram no ano passado, depois de ter voltada de uma Coreia bem desaparecida, então tudo isso que está acontecendo não é mérito só meu, mas da equipe que eu estava atuando. E sobre os chapéus eu já estou bem à vontade, só não fiz o gol, mas isso deixa para o jogo, se não vou acabar com a amizade com as coleguinhas (risos).

SENTIMENTO COMO GRANDE REFORÇO E SUBSTITUIR CRISTIANE
Olha, tem muita menina boa aqui, eu vou ralar para jogar. Na verdade eu não levo isso como peso, acredito que com tudo o que eu fiz no ano passado, a expectativa é grande para este ano, vou levar as coisas de forma natural. A Cristiane o currículo dela fala por si só. Não é uma troca, um peso, estou sendo eu, então espero que o São Paulo não me veja como um troca de Cristiane por Gláucia, mas sim como um grande reforço, como uma grande expectativa, porque me valorizaram bastante, que é o mais importante para mim.

PRESSÃO POR JOGAR EM UM GIGANTE COMO O SÃO PAULO?
Eu não levo como pressão, porque jogar no Santos também é uma pressão enorme, por ser Sereias da Vila, tudo isso já um símbolo muito grande, não peguei isso, também tive uma aposta muito grande da Emily (Lima, ex-treinadora do Peixe), ela apostou, mesmo sem eu estar tão bem fisicamente, então não levo como pressão, deixo isso para vocês falarem.

"HATERS" DURANTE PASSAGEM PELO SANTOS
Acho que não foi nem torcedor do Santos, foi torcedor de fora mesmo, tanto que quando apareci no Brasileiro, estava na Seleção com as meninas, muitos falam, mas poucos estão vendo o que eu estou fazendo, aí falaram "tem menina que corre por ela". Não gente, não é assim, acho que as pessoas têm que parar de falar da vida dos outros e cuidar mais de si próprio, porque todos têm defeitos e todos têm o que melhorar.

POR QUE DEIXOU O SANTOS?
Jogar no São Paulo é uma grandeza enorme, tinha muita são-paulina pedindo para eu vir para cá. A decisão foi para mudar de ciclo, eu fui para o Santos por causa da Emily, uma treinadora muito importante na minha carreira, me fez jogar muito. Não desmereço quem está lá agora, que é o Gui (Guilherme Giudice), gosto muito dele, mas levei em conta a valorização que o São Paulo deu para mim, principalmente financeira. O clube procurou meu empresário, então o que aconteceu não foi "você vai largar o Santos para ir para o São Paulo", na verdade foi que eu senti uma valorização muito grande do São Paulo, jogar em São Paulo, jogar o Paulista, o Santos queria renovar, mas eu queria mudar de ciclo.

QUAL É A SUA EXPECTATIVA PESSOAL PARA ESTE ANO NO SÃO PAULO?
Minha expectativa não muda muito do que eu venho fazendo todo ano. Centroavante tem que fazer gol? Tem que fazer gol, mas eu não levo isso assim, acredito que se o São Paulo puder vencer com um passe meu, com um gol meu ou ajudando na parte defensiva, isso vai ser o mais importante. Claro que, individualmente, eu penso bastante, porque eu quero chegar no topo de novo. Não dá para chegar no topo e não se manter, é uma coisa que eu penso bastante, sentada na minha cama, converso comigo mesma, é uma coisa que eu planejo bastante fazer este ano. Espero que a expectativa de todos seja concretizada, com grande futebol e não mudar muito do que eu faço.

ESTRUTURA QUE O SÃO PAULO OFERECE PARA O FUTEBOL FEMININO
​Para quem chegou nas finais do ano passado com essa estrutura, não tem o que falar. Acredito que todos têm o que melhorar, você vai encontrar defeitos em todos os times, seja no São Paulo, seja no Corinthians, todos vão ter algo para melhorar. Então acredito que o São Paulo tenha o que melhorar, mas a gente não tem que focar só nisso, temos que focar no que o São Paulo fez no ano passado. O clube fez um ano muito bom e são nessas coisas que eu estou focando, claro que isso caiu na mídia e todo mundo quer que melhore, acho que tem que melhorar, mas as coisas estão caminhando, foi o primeiro ano no ano passado e as coisas vão melhorar, eu acredito.

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