Declarações de Ceni e cobrança interna por resultados aumentam pressão sobre diretoria do São Paulo
Conforme apurado pelo LANCE!, conselheiros cobram resultados da gestão Casares. Expressão abatida de Ceni e declaração após derrota também geraram desconforto
Após a derrota de virada para o Palmeiras, o LANCE! apurou que o São Paulo vive um clima de forte pressão interna. Um dos pontos que mais chamou a atenção para isso foi a postura de Rogério Ceni durante a coletiva de imprensa após o clássico.
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Com um semblante triste após o resultado negativo no estádio do Morumbi, o treinador se mostrou abatido e revoltado com o ocorrido no jogo. Em diversos momentos da entrevista, citou a diretoria, e chegou a assumir, inclusive, que a responsabilidade do clássico de quinta-feira, também contra a equipe alviverde, seria dela.
Com as suas declarações, Ceni deixou implícito que a Copa do Brasil, aparentemente, não é seu maior foco nesta temporada. Com sete jogadores contundidos no elenco, o treinador mostrou temer mais lesões caso escale a força máxima.
- Quarta-feira (22) a gente vê o que é possível fazer para termos um bom jogo (na quinta). O que a direção topar, tem que botar tudo, vamos botar tudo. Aí depois nós vemos o que dá para fazer mais à frente. Mas não depende só de mim, pode ter certeza - disse.
Um conjunto de fatores estaria criando um clima tenso nos bastidores do clube. O interesse da diretoria na classificação para as próximas etapas da Copa do Brasil, com foco também no título inédito, se deve a um fator principal: a premiação milionária.
O vencedor da competição pode embolsar um total de R$ 80 milhões nesta temporada - o que ajudaria muito o Tricolor, que enfrenta uma dívida de aproximadamente R$ 650 milhões.
Conforme apurou o LANCE!, conselheiros estão cobrando resultados da gestão Julio Casares. E por consequência, do trabalho de Rogério Ceni.
Essa necessidade do treinador em pensar nas lesões e nos atletas escancara mais uma crise - a do departamento médico. Meses após reuniões do conselho a respeito, ainda não houve o cumprimento de promessas feitas em relação às melhorias no departamento médico.
Na última semana, vieram à tona polêmicas envolvendo Turíbio Leite de Barros, ex-fisiologista do São Paulo. Em setembro de 2021, o presidente Julio Casares teria citado uma suposta parceria com o médico - ele daria novos equipamentos para integrar o Centro de Treinador do Tricolor.
– O Dr. Turíbio acaba de nos premiar com equipamentos de última geração. Esse é o são-paulino que serve para o São Paulo. Nós vamos avançar não só no Reffis, mas no núcleo da ciência e alta performance. Em dezembro, o São Paulo implantará essa evolução - disse o presidente na ocasião.
Quase um ano depois, os equipamentos nunca chegaram. Turíbio se manifestou somente na última semana, por um áudio que se espalhou nas redes sociais.
- O que eu posso dizer é o seguinte. Sempre tive a melhor das intenções para levar os equipamentos. Não ia precisar dispor de recursos. Só existia um comodato para ser pago depois de um ano, inclusive seriam repostos os equipamentos novos. Todos que eu consegui eram trocas de propriedade de marketing: camisa assinada, entrada em camarote para alguns clubes, mídia social do clube. Iam ser equipamentos de última geração. As razões para não serem aceitas vou esperar que a própria imprensa investigue. Não tenho como falar porque vão ficar me massacrando. Aí seria uma luta desleal entre eu e o São Paulo - disse o médico no áudio.
O São Paulo não se manifestou publicamente sobre este caso. Já Casares, durante o evento da última sexta-feira (17) em comemoração aos 30 anos da conquista da Copa Libertadores de 1992, desmentiu a história do médico e deu sua versão.
- Tudo o que acontece vai para o compliance. O negócio não era bom. Não era bom para o São Paulo. O DEM, grupo que foi montado tecnicamente, não aprovou. Eu não vi a necessidade desses equipamentos. Agora a forma que ele colocou naturalmente ele vai ser interpelado. O jurídico vai ser acionado, se tem mais pessoas como ele afirmou, ele vai na Justiça falar. Ainda não entramos com o pedido, mas isso é bom até para ele mesmo. Para o bem dele, para ele poder se explicar. Eu evito falar porque respeito ele. Mas é importante porque se coloca nas redes sociais - disse o presidente do São Paulo.
Postura após derrota na segunda é questionada internamente
Não foi somente esse ponto mencionado por Ceni na coletiva que pegou mal para os conselheiros. Outra informação apurada pela reportagem é de afirmação de que "todos teriam ficado quietos no vestiário após o resultado" não soou bem.
- Não falei com os jogadores (após a partida), fiquei no meu vestiário. Eles também só rezaram, não tinha clima para falar. Agora é cada um esfriar a cabeça. Tem dia que é melhor você não falar nada, cada um ir para sua casa e amanhã com mais calma faremos uma análise mais fria de tudo o que aconteceu - disse o treinador.
O clássico desta quinta-feira (23) acontecerá no estádio do Morumbi. O resultado pode ser um bom indicativo sobre essa pressão interna, e até mesmo, sobre o futuro de Ceni no São Paulo.
Porém, o treinador não tem risco de demissão até os confrontos ante o Universidad Católica, pelas oitavas de final da Copa Sul-Americana. O jogo de ida acontece no próximo dia 30, no Chile. E a competição continental é vista pela diretoria como um atalho para garantir a vaga na Copa Libertadores do ano que vem.