Dupla de gringos se apresenta no São Paulo por desafio com Ceni
Michael Beale, inglês, será auxiliar de campo. Charles Hembert, francês, supervisor de futebol. Ambos falaram pela primeira vez como funcionários do Tricolor
Rogério Ceni apresentou sua comissão técnica nesta quinta-feira, no CT da Barra Funda. O inglês Michael Beale, como já se sabia, será auxiliar de campo, enquanto o francês Charles Hembert atuará como supervisor de futebol. Os dois falaram pela primeira vez com a imprensa e explicaram as motivações para a aventura no futebol brasileiro. Em português.
- Eu falo um pouco de português e um pouco de inglês (risos). Estou muito feliz aqui com essa oportunidade. É um momento bom para os treinadores ingleses chegar a um grande clube. Respeito demais o Rogério. Aprendo todo dia português, mas futebol é futebol. No Liverpool e no Chelsea, treinei muitos estrangeiros, brasileiros, argentinos, italianos. E não tem problema. Charles me ajudará. Rogério fala muito bem inglês. Então é uma ótima oportunidade para mim e uma grande experiência para um inglês. Os melhores jogadores do mundo são brasileiros, sul-americanos - disse Beale, ainda com dificuldades com o novo idioma.
- Queria agradecer por essa oportunidade, pela maneira excepcional como fomos recebidos. Ao Rogério agradeço de ter confiado e acreditado no meu trabalho. Obviamente sem esquecer a diretoria, que teve a abertura de recrutar essa dupla de gringos (risos). Não é uma coisa muito comum no Brasil. O fato de ter vivido uma Copa do Mundo, uma Copa América, amistosos de seleções internacionais, dentro das delegações, me fez ver as coisas boas e não tão boas para condensar tudo isso. Tanto pelo ponto de vista das delegações quanto das organizações de torneios. Ganhei um balanço de tudo e agora quero levar isso ao São Paulo, mantendo as coisas boas daqui e trazendo ideias novas de organização para ajudar o Rogério - completou Hembert, que inicialmente também atuará em campo para auxiliar Beale no diálogo com os atletas.
Ceni ainda contou que o francês esteve com ele nas mesmas etapas do curso de formação de treinadores na Inglaterra e até no estágio com o argentino Jorge Sampaoli no Sevilla (ESP). Agora, ao lado do auxiliar inglês e de Pintado, a rotina é de preparar treinos e procurar por reforços com o restante da comissão técnica. A casa deles é o CT da Barra Funda, dia e noite.
- Chegamos ontem 7h30 e fomos embora 20h30. Talvez neste início, por não ter tanta experiência e ainda tentar desenvolver novos exercícios, pese mais. Temos reuniões e informações diárias, já montamos o campo para o treino da tarde. Pegamos informações de cada atleta para programar o treino, para ver quem precisa de mais trabalho com o Zé Mário (Campeiz, preparador físico). Em dezembro passei muitas horas com a análise de desempenho, e eles entendem demais de futebol. Foram muitas horas de vídeo. Agora fico dez, 11 horas aqui dentro. Faço parte de uma nova família. Quando acaba o dia, já preparamos o seguinte - contou o Mito.
Confira outros trechos da entrevista coletiva de Rogério Ceni:
Como está sendo a primeira semana de treinos?
A voz já está indo embora com os treinos e eu preciso me adaptar a isso logo. Os trabalhos têm sido bacanas. Trabalhamos com o sub-17 para iniciar a adaptação da língua pelo Beale, com a parceria com o Charles. Foi para entrosar nossa comissão. Foi muito prazeroso começar ontem (quarta-feira), um grupo de cara boa e à vontade. São dias chatos, que exigem muito da parte física, e à tarde já vamos para a parte técnica, dando contato com a bola. Viajamos nesta madrugada e no dia 7 começaremos treinos em dois períodos com bola nos dois. De tarde mais para preparação física, mas sempre com bola, que é mais interessante e menos desgastante psicologicamente.
Por que a prioridade a Foguete em relação a Auro?
Foguete é um jogador que, na equipe do Jardine, já fez o terceiro zagueiro na linha de três, é lateral e pode ser volante. Auro também gosto bastante, mas muito mais útil na linha de ataque do que na marcação. O vejo aberto na direita, como jogam Neres e Nem. Como as vagas no Paulistão são limitadas, isso atrapalha e espero que evoluam, fica difícil de ajustar o elenco além dos 28 neste primeiro semestre. Queria 29, com quatro goleiros contando o Lucas Perri, e que os 25 que estejam aqui possam jogar. Se eu tiver jogador aqui sem ser inscrito, como vai ter vontade de treinar? Como veio o Neilton, preenchemos mais as vagas no ataque e com o Foguete posso compor melhor as laterais, usando Buffarini nas duas.
Quando pretender dar sua cara ao time?
A minha cara é para tentar a ser dada desde ontem. O meu modo de trabalhar, de ver o jogo, de ver a vida. Acima da qualidade técnica, os valores e o caráter de cada jogador é muito importante. Atletas são importantes, mas as pessoas que estão atrás de cada um vale muito na formação do elenco. Espero profissionalismo e dedicação máximos. Trabalho sempre em função ao próximo jogo. Agora, Florida Cup, amistosos, mas é uma competição. Não estaremos prontos nem fisicamente, mas queremos a vitória. E aí no dia 5 começaremos o Paulista fora de casa contra o Audax atrás dos três pontos. Sem objetivos distantes.
Como pretende implantar essa modernização do trabalho?
Para a bola chegar na rede muita coisa precisa acontecer antes. Especialmente se for no gol do adversário. Tentamos fazer trabalhos setorizados, dividindo o grupo, propondo novas atividades, porque acredito que o interesse do atleta de aprender no treino é de igual valor ao de aprender no jogo. Nem entramos na parte tática, o que só deve acontecer no dia 12, com um jogo-treino. No dia 15, terá um contra o Boca Ratón, antes do primeiro jogo no dia 19. No dia 10 e 11 começaremos a parte tática e depois da Florida Cup a concentração será nisso. A parte física e tática será agora, depois o calendário fica muito exigente, com chance de ter 75 jogos no ano. O foco será a recuperação depois, então as novidades precisam vir agora. Tem decisão de Copa do Brasil e no meu primeiro ano com chance de eliminação em jogo único. Lembro de perder para Nacional em Manaus e reverter aqui. Agora não dá. Pegaremos o Moto Clube no Maranhão na segunda semana de fevereiro com uma única chance de passar, na casa do adversário. Então precisamos chegar lá na plenitude física e tática. O time precisa se adequar diante das condições de jogo, com linha de quatro ou três atrás, de quatro ou cinco no meio... É isso.