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Eleições no Conselho do São Paulo: Conheça as propostas de Olten Ayres de Abreu Júnior

Aliado de Julio Casares, Olten Ayres pertence ao 'Juntos pelo São Paulo' e concorre com Marcelo Marcucci Portugal Gouvêa ao cargo de presidente do Conselho Deliberativo 

Olten Ayres Jr. é advogado e tem longa atuação na política do São Paulo
Olten Ayres Jr. é advogado e tem longa atuação na política do São Paulo (Divulgação)

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No próximo sábado, o Conselho do São Paulo se reúne para definir o novo presidente da Diretoria, posição pleiteada por Julio Casares e Roberto Natel, e também o novo presidente do próprio Conselho Deliberativo do clube - responsável por fiscalizar a gestão e atuar no cumprimento do estatuto. O LANCE! entrevistou os dois candidatos à cadeira e publica o bate-papo com Olten Ayres Jr., do grupo 'Juntos pelo São Paulo'.

Formado em direito, Olten é sócio do clube do Morumbi desde a infância e tem forte ligação com a política do São Paulo, já que ofereceu seus serviços em várias oportunidades. Aliado de Julio Casares, o conselheiro defende reformas estruturais no estatuto do clube do Morumbi e um diálogo mais aberto com os torcedores do Tricolor. 

Olten, gostaria que você começasse nossa conversa falando sobre sua trajetória profissional e também sobre sua relação com o São Paulo. 
Comecei minha vida acadêmica na Escola Politécnica da Universidade de São Paulo, depois mudei para a Faculdade de Direito da Universidade de São Paulo, no Largo São Francisco. Dei sequência à profissão de advogado e estabeleci uma banca própria. Fui sócio de alguns escritórios aqui no Brasil. Em 2001, se não me falha a memória, acabou de juntando a um escritório de advocacia na Europa. Lá desenvolvi uma outra área da advocacia, que foi a área internacional, onde eu atuo basicamente dentro do território europeu defendendo interesses de empresas brasileiros e de brasileiros na Europa. Eu pratico quatro idiomas. Falo português, francês, inglês e espanhol com fluência, e o italiano sem fluência. Minha vida se resume a isso: sou advogado e continuo sendo.

Em 1959 quando eu nasci, o Morumbi ainda não existia, mas um dos meus primeiros presentes foi uma cadeira cativa que o meu pai havia adquirido previamente à inauguração do Morumbi. Acompanhei os grandes dirigentes do São Paulo que frequentavam a minha casa, como o Laudo Natel. Depois, em 1978, fui convidado a participar da primeira eleição ativamente no São Paulo na qualidade de escrutinador de uma das chapas que disputavam o pleito naquela ocasião. Desde então, acompanho o São Paulo bem de perto e sempre estive presente nas grandes decisões do clube. Em 1990, fui alçado à condição de diretor jurídico adjunto na gestão do Pimenta (José Eduardo Pimenta, presidente do São Paulo de 1990 a 1994). 

Posteriormente, disputei uma eleição na condição de candidato à presidência do Conselho e não fui exitoso. Na época, eu estava mudando para a Europa e me afastei da vida política do São Paulo, muito embora sempre estive presente na vida do clube, pois quando eu morava lá auxiliei o São Paulo em alguns de seus pleitos, quer no Tribunal Arbitral do Esporte e acompanhei alguns pleitos do clube junto à Fifa na organização do Mundial de Clubes, em 2005. Depois, em 2014, regressei ao país e ao São Paulo. Voltei a me candidatar ao posto de conselheiro e me elegi novamente. De lá para cá, exerci a função de presidente da Comissão Legislativa e, por muitas vezes, participei de vários debates de forma muito ativa no Conselho. O pleito mais importante, praticamente o capitaneando, foi a questão do fim dos conselheiros remunerados.

Você pertence ao 'Juntos pelo São Paulo', chapa de coalizão entre oito diferentes grupos políticos dentro do São Paulo. Gostaria que você explicasse como aconteceu a formação deste grupo e, principalmente, o que vocês defendem para o futuro do São Paulo.
Vimos a necessidade de proibir que os conselheiros ocupassem cargos remunerados no São Paulo, pois achávamos que essa possibilidade influenciava de maneira negativa o processo eleitoral. Nós apresentamos uma emenda ao estatuto e ela foi debatida dentro do Conselho. Nós precisávamos de um quórum qualificado e, em virtude disso, resolvemos fazer uma contabilidade eleitoral e víamos que não tínhamos condições de aprová-la. Então, começamos uma discussão, uma conversa, com alguns grupos ligados à situação. Nós, da oposição, e eles da situação. O principal ponto discutido na época foi que a emenda entrasse em vigência imediatamente. Eles, por uma questão administrativa, pediram um prazo maior. Acertada essa condição, essas conversas acabaram em outros temas relativos ao São Paulo e começamos a nos aproximar do ponto de vista do São Paulo Futebol Clube. Nós nunca deixamos de ser oposição, fomos oposição à atual gestão desde o seu início e continuamos sendo. O que aconteceu foi que nós verificamos que, a partir das nossas divergências, identificamos vários convergências. Nos unimos para o bem do São Paulo, independente de lado, oposição ou situação, e formamos a coalizão 'Juntos pelo São Paulo'.

Olten, você citou a reforma que impossibilitou que conselheiros ocupassem cargos remunerados no São Paulo. Como presidente do Conselho Deliberativo você defende outras reformas estatutárias no São Paulo?
Nós defendemos várias reformas. Nós pretendemos desde o primeiro momento estabelecer diversas comissões, buscarmos auxílio profissional até mesmo, se necessário fora do São Paulo, para reestruturar o estatuto e - principalmente - reestruturar a legitimidade do poder no São Paulo. Discute-se muito isoladamente se a eleição tem que ser direta, se a eleição tem que ter a participação do sócio-torcedor, se a eleição de conselheiros vitalícios deve ser estendida. Há várias discussões sobre esse tema e nós achamos que ele não pode ser discutido pontual e isoladamente. Nossa ideia é promover um estudo e uma discussão dentro do Conselho para que a gente possa ter um modelo que dê mais condição, mais possibilidade do poder dentro do São Paulo ser mais legítimo e mais transparente. Esse é um ponto que para nós é muito importante. Há diversos outros temas que poderíamos discutir, mas eu gostaria de tocar nesse tema e na reforma do Conselho de Administração. Nós acreditamos que esse Conselho, tendo como presidente o Conselho do Executivo acumulando essa função gera uma sobreposição de funções e, mais do que tudo, um conflito de interesses. Além disso, outras coisas que achamos que devem ser alteradas no Conselho de Administração são os temas sobre os quais o Conselho deve tratar. Hoje, o Conselho é cerceado em grande parte no que tange à questões ligadas ao futebol, sendo que não me parece interessante para um clube de futebol ter um Conselho de Administração que tem bastante limitação para atuar nessa área.

Quais medidas práticas você acredita que o Conselho Deliberativo deve adotar para ser mais transparente?
Primeira coisa é mostrar o Conselho para a comunidade são-paulina. O Conselho do São Paulo tem nomes de valor, tem conselheiros com experiências - quer na ótica profissional, quer na ótica esportiva - bastante interessantes para o clube. Temos campeões, temos profissionais de primeiras ordem. Nosso propósito é extrair do conselheiro o que há de melhor dentro dele para o interesse do São Paulo, porém precisamos mostrar isso para a comunidade são-paulina. E como nós pretendemos fazer? Pretendemos transmitir as sessões do Conselho através de canais de internet ao vivo.

O segundo ponto é estabelecer reuniões trimestrais, onde todos os conselhos do São Paulo (Fiscal, Administração, Deliberativo e Diretoria) se reúnam para discutirmos, de maneira dinâmica e presente, as questões das contas da administração do que deve ou do que não deve ser feito com o São Paulo. Para não chegarmos ao final do ano e analisarmos apenas números que já aconteceram. Nós temos que analisar pontos presentes. Considerando que o futebol é o carro-chefe do São Paulo, afinal somos um time de futebol, tentaremos ampliar as reuniões do Conselho de seis para dez ou doze anuais. Sendo que, sempre, intercalada com uma reunião de natureza ordinária administrativa haverá uma reunião exclusivamente dedicada ao futebol, onde poderemos discutir com as pessoas envolvidas com o futebol pontos importantes. Estas reuniões serão transmitidas para o torcedor. Pretendemos estabelecer uma live entre conselheiros, associados e torcedores onde possa se discutir temas específicos que merecem ser debatidos, onde a comunidade são-paulina possa pedir a conselheiro o encaminhamento da discussão de um determinado tema.

Teremos também um canal aberto para o associado que é o 'Fale com o Conselheiro', onde o associado poderá transmitir ao conselheiro no qual votou, no qual ele confia, o que ele acha que deve ser debatido em favor do São Paulo. Isso será levado ao plenário. A pauta do Conselho é aberta, embora seja gerenciada pelo presidente do Conselho, ela será aberta à comunidade são-paulina. Temas que nós (membros do Conselho Deliberativo) talvez não estejamos alertas sejam introduzidos. Importante dizer que tudo será feito com a maior e total transparência.

O que mais te motiva a concorrer ao cargo de presidente do Conselho Deliberativo?
O que mais me motiva é tentar mudar a situação que o São Paulo vive hoje em dia. Para isso, eu vejo que o Conselho é o carro-chefe das reformas estruturais. Tenho certeza que o Casares será um grande presidente, mas precisamos perpetuar essas bases dentro do São Paulo. Só vamos conseguir isso se fizermos uma reforma na estrutura do São Paulo. Assim, o que mais me motiva é encaminhar reformas que tornem perene a boa administração - quer no futebol, quer na boa administração financeira/administrativa.

Você e o Casares são da mesma chapa, ele concorrendo à presidência da diretoria e você à presidência do Conselho Deliberativo. Caso ambos sejam eleitos, como fazer com que a diretoria e o Conselho trabalhem de forma independente, porém conjunta para atender os interesses do São Paulo?

O Conselho sempre será autônomo. Uma postura de alinhamento não significa renúncia à autonomia. Nós pretendemos garantir governabilidade à gestão do São Paulo, e garantir governabilidade não significa se alinhar com todas as decisões. Não iremos nos opor apenas para nos opor. Não traremos o debate político para as questões administrativas e estruturais. Acho que esse é um ponto muito importante. O São Paulo precisa de governabilidade. Isto não nos tira a autonomia. O Conselho não pretende se imiscuir na administração do dia a dia do São Paulo. Não iremos sugerir diretores, não vamos participar da administração. A autonomia será total e, tenho certeza, não é uma questão do presidente do São Paulo, do presidente do Conselho do São Paulo. É uma questão dos são-paulinos, e uma questão especificamente do Conselho. Afinal, como bem descreve o estatuto, o Conselho é o representante do associado do São Paulo e, por fim, de toda a comunidade são-paulina dentro do clube.

Pessoalmente, como conselheiro e torcedor do São Paulo, como você avalia a gestão do presidente Leco?

Se analisarmos os resultados da gestão Leco, quer no plano esportivo, quer no plano financeiro, não foram satisfatórios. Então, a minha análise é que foi uma gestão que não foi satisfatória para a vida do São Paulo.

Um dos atuais problemas do São Paulo é o déficit financeiro. Como você acredita que o Conselho possa trabalhar para fiscalizar e, de certa forma, pressionar a diretoria para que a dívida do clube se torne uma bola de neve?

Essa pergunta é muito importante e, no atual momento, é de extrema importância que a comunidade são-paulina entenda. Quando eu lhe disse que trimestralmente nós faremos reuniões entre todos os conselhos e a diretoria sobre temas administrativos e financeiros, a ideia é que essas reuniões acompanhem tudo o que está acontecendo para que possamos, eventualmente, sugerir, bloquear ou incentivar algumas medidas que estejam sendo tomadas nessa área para que, futuramente, não tenhamos que ter discussões mais agudas sobre problemas financeiros.

Do outro lado, o Conselho terá uma dinâmica onde todos os temas que forem levados sobre questões financeiras provocarão, imediatamente, convocação de reuniões extraordinárias para que não deixemos para depois essa discussão importante. A ideia é que contrato de naturezas financeiras, contratos que tiverem que ser apreciados pelo Conselho, não aguardem as reuniões planejadas para que isso aconteça.

Olten, gostaria de voltar para a questão do sistema eleitoral do clube. Você já falou como pretende levá-lo ao Conselho, mas esse é um tema muito importante e recorrente para a torcida do São Paulo. Qual é o seu posicionamento pessoal sobre a ideia de que o sócio-torcedor tenha direito a voto para a escolha do presidente do São Paulo? E como você acredita que o clube possa trabalhar essa questão para dar voz ao torcedor?

Primeiro, gostaria de ressaltar de uma maneira clara que toda reivindicação da comunidade são-paulina é bem-vinda. Se eventualmente eu vier a ser o presidente do Conselho Deliberativo, não pretendo influenciar o resultado das discussões. Minha ideia é fazer com o que o Conselho e os associados e, eventualmente os torcedores, tomem as decisões. Pretendo encaminhar e, de alguma maneira, mediar discussões. Portanto, se de alguma forma, eu me pronunciar sobre o tema A ou B vou estar prejudicando um eventual estudo. É claro que dentro dos estudos e análises da estrutura de poder do São Paulo há a reivindicação legítima do sócio-torcedor participar das eleições. Essa é uma reivindicação que será profundamente analisada e, sem dúvida alguma, fará parte dos estudos que promoveremos.

Além das reformas citadas ao longo da nossa conversa, você acredita que o São Paulo precisa de alguma outra mudança estrutural? Me refiro, por exemplo, ao número de diretorias e ao número de cargos dentro do clube.

De alguma forma, essa é uma questão que pode passar pelo Conselho. É o estatuto que é fruto de discussões do Conselho, que discute o número de diretorias. Só para esclarecer, hoje nós temos dentro do São Paulo uma faixa de três a nove diretores - sendo o presidente o responsável pela nomeação deles. Como eu te disse, acredito que o Conselho deva ter autonomia em relação. Portanto, não pretendo me colocar em questões que sejam da alçada do presidente-executivo. Se ele vai querer utilizar três ou nove diretorias. Agora, nós vamos encaminhar uma discussão sobre se o número de diretorias previsto no estatuto é adequado para a vida administrativa do São Paulo. Não quero fugir da pergunta, mas é uma questão de princípio, e por isso não quero me pronunciar para não correr o risco de influenciar nas decisões. Gostaria que essa discussão fluísse de uma maneira ampla e todas as opiniões viessem sem que haja um direcionamento.

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