O São Paulo aprovou esta semana a criação de um fundo de investimento em direitos creditórios (FIDC) para levantar R$ 240 milhões, com o objetivo de reestruturar suas dívidas com instituições financeiras. O clube firmou parceria com as gestoras Galapagos e Outfield para conduzir a operação, que tem como meta reduzir o custo financeiro e estender os prazos de pagamento.
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– Do ponto de vista da operação, o que o São Paulo está fazendo é um marco, porque o mercado financeiro é muito restritivo em relação ao futebol, justamente pela falta de credibilidade. E se o São Paulo conseguir se provar um clube confiável, o mercado financeiro vai abrir uma porta para olhar o futebol de outra forma. Então eu enxergo com muito bons olhos essa possibilidade, porque é um setor muito mal financiado. E se for bem financiado, ele pode crescer mais do que tem crescido ultimamente – elogia César Grafietti, economista, consultor de gestão e finanças do esporte e sócio da consultoria Convocados.
Esse fundo será alimentado por recebíveis como direitos de transmissão, patrocínios, naming rights e outras receitas do clube. Com isso, o São Paulo poderá antecipar esses valores e convertê-los em capital de forma ágil, facilitando a gestão financeira no curto prazo.
– O fundo é o instrumento que precisávamos para que o clube possa começar a sanar as dívidas atualmente existentes e que dificultam e atrapalham o fluxo de caixa, com juros altos e vencimento de curto prazo. A partir da sua implementação, conseguiremos reduzir o custo e preparar o clube para o seu centenário com uma gestão mais sustentável, o que possibilitará maior capacidade de competir com adversários com mais poder financeiro. Teremos um choque de gestão e, já vamos implementar também um comitê orçamentário para acompanhar o fluxo do São Paulo – disse o presidente do São Paulo, Julio Casares, em nota oficial.
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Contudo, a operação impõe algumas restrições ao clube. E este é um motivo que tem deixado a torcida tricolor preocupada.
O São Paulo deverá seguir limites rígidos de gastos, como a proibição de investir mais de 50% da receita bruta anual ou R$ 350 milhões no futebol, além de um teto salarial para a administração que não poderá ultrapassar 4% da receita ou R$ 25 milhões anuais.
– O dinheiro faz diferença no futebol, mas o dinheiro sem gestão… Uma boa gestão com menos dinheiro pode ser eficiente e aí podemos usar o exemplo do Fortaleza. Já há algum tempo mostra uma gestão bastante eficiente dentro do campo, tem tido bons resultados, com uma folha de pagamento de 40% em relação à folha do São Paulo. Aí você busca uma gestão eficiente em outras áreas, no social, no esporte olímpico, enfim, em outras áreas que talvez não sejam core do clube – pontua Grafietti.
A criação do fundo também fará com que o clube tenha restrições para contrair novas dívidas superiores a R$ 10 milhões por trimestre, que dependerão da aprovação do comitê de crédito do fundo. Qualquer movimentação envolvendo antecipação de receitas futuras também necessitará de autorização do fundo.
O prazo para quitação do montante será até dezembro de 2028, com taxas de juros e administração incluídas na operação. Como garantias, o clube cede receitas provenientes de patrocínios, licenciamentos, sócio-torcedor, direitos de transmissão e eventuais vendas de jogadores.
– Assim, eu acho que, se a coisa andar da forma que se espera, em dois anos, o clube já vai estar muito mais aliviado do ponto de vista do fluxo de caixa. Já vai estar podendo aproveitar essa melhora da credibilidade, o mercado vai conseguir enxergar o clube como um clube confiável. À medida que as cláusulas estão sendo atendidas, que o clube trabalhou na direção correta, você pode aumentar essa operação, você pode trazer outros recebíveis e captar mais recursos. Isso pode ajudar a alongar outros passivos, melhorar a gestão financeira, inclusive, pode eventualmente, assim, fazer com que você pague algum dinheiro para fazer investimentos que o clube quiser fazer – projeta o economista.