Lugano recebe a 5 do São Paulo e fala em gratidão: ‘Aqui é meu lugar’
Zagueiro reencontrou o mesmo número usado na primeira passagem pelo Tricolor e promete: 'Não posso virar costas para esse povo. Tenho que entregar tudo o que sou'
Sete meses após a venda do volante Souza para o Fenerbahçe (TUR), a camisa 5 do São Paulo tem novo dono. Nesta segunda-feira, no CT da Barra Funda, o uruguaio Diego Lugano recebeu o manto com o qual conquistou a América e o mundo em 2005 das mãos do presidente Carlos Augusto de Barros e Silva e iniciou oficialmente sua segunda passagem pelo Tricolor, nove anos e meio após a saída para o mesmo Fenerbahçe, em agosto de 2006.
- Sinto alegria, emoção e uma linda responsabilidade em voltar a vestir o manto sagrado. A vontade é a mesma de anos atrás, o sentimento nunca mudou e nem vai. Gratidão ao São Paulo, à torcida, aos dirigentes. Hoje estamos aqui para o último período de minha carreira esportiva. Espero dar muitas alegrias. Ser eu mesmo e dar o melhor ao time - prometeu, antes de prosseguir:
- Hoje o São Paulo atravessa uma fase de transição, com alguns anos complicados. Até Rogério entendeu que eu posso colaborar com essa transição, não posso ficar de costas para esse povo. Essa dia ficou mais que claro que aqui é meu lugar, tenho que entregar tudo o que sou.
Lugano ainda aproveitou para explicar como foram as conversas com o técnico Edgardo Bauza, um dos entusiastas de sua contratação junto ao Cerro Porteño (PAR). O veterano celebrou a chance de encerrar a carreira no Morumbi e ainda poder ficar perto da família que vive no Uruguai. Mas se engana quem pensa que o ídolo viverá apenas como líder no elenco são-paulino.
- Com Bauza, falei obviamente sobre minha situação, minhas ambições, meus desejos. Às vezes, o jogador perde mais do que a parte física, perde ambição. Meus últimos anos foram complicados, com muitas lesões, principalmente na época da Copa do Mundo (de 2014). Até tive contatos para voltar, mas acreditei que não suportaria o calendário assassino do Brasil. No último ano, consegui nível físico e técnico para voltar, então não vim para passear, venho para corresponder a quem confia em mim - prometeu.
Desde a última quarta-feira, Lugano faz trabalhos físicos no Reffis para ganhar massa muscular e compensar a falta de peso detectada nas primeiras avaliações médicas. O uruguaio tenta não colocar nenhum prazo para a estreia na temporada e pede que não seja tratado como estrela no elenco tricolor.
- Não quero jogar todo jogo, e nem acho que o time precisa de mim tanto. Quero jogar com os moleques bons que o time tem, sou mais um e vou estar à disposição. Estou fazendo um trabalho de reequilíbrio muscular, preciso por toda a cobrança, por minha idade. Infelizmente, perdemos tempo na negociação. Não sei quando vou estar pronto. A comissão técnica é que determinará. Acho que já na próxima semana vou a campo, mas jogo é o treinador que sabe - avisou o ídolo celeste.
Confira outros trechos da entrevista coletiva de Lugano:
DO PARAGUAI AO SÃO PAULO
Estar na América do Sul era por questões familiares. No Cerro, eu estava perto do Uruguai e jogava no maior clube do Paraguai, então foi bom. Meu desejo é jogar como zagueiro, acho que é a posição onde posso dar mais ao elenco. Eu vim para ser mais um do elenco e estar à disposição do técnico. Se ele quiser me colocar de goleiro, eu vou.
CONDIÇÃO FÍSICA
O torcedor sabe que com 35 anos não é mais 23. O torcedor sabe o que pode esperar de mim hoje e vão entender. Sou extremamente competitivo e por isso estou aqui. Poderia estar muito mais tranquilo, mas estou aqui porque quero desafio. Sempre fui muito profissional, sempre me cuidei muito. Isso de ganhar peso é relativo. Estou um pouco abaixo, mas preciso fazer um trabalho de reequilíbrio muscular, algo de rotina para qualquer jogador, principalmente no São Paulo, com um departamento médico tão bom.
APOSENTADORIA NO SÃO PAULO E NO URUGUAI
Obviamente quero encerrar a carreira aqui, mas vamos no dia a dia, com responsabilidade e ilusão, quero aproveitar cada detalhe, sofrer com cada derrota, vibrar com vitórias. Espero que seja aqui meu último jogo, mas vamos com calma. Eu já fui muito feliz na seleção, deixo para os meninos, mas se o Uruguai me chama, é claro que dou a cara a tapa e vou brigar como sempre fiz. Nessas horas, o racional fica um pouco de lado.
MOTIVAÇÃO
O elenco tem muita qualidade e não tem campeonato mais equilibrado do que o Brasileirão e, se em meio à tanta confusão no clube ano passado, se classificou para a Libertadores, dá para ver que o time é bom. Estou muito ansioso para fazer parte desse elenco e conseguir grandes objetivos. Quando você veste essa camisa, os objetivos vão lá em cima. Em 2003 também cheguei aqui e vi um time que não ganhava, mas o São Paulo é elite, profissionalismo, modelo no Brasil. Muitos copiam. Lembro que Rogério Ceni falou ano passado que o São Paulo precisa seguir crescendo. Vou dar o que posso. Confio no elenco, na diretoria, na instituição, não vim aqui para inflar meu ego.
LÍDER
O grupo escolhe o líder. Eu venho para ser mais um e transmitir minha experiência e vontade. Ser capitão de um clube e seleção é diferente. Você tem mais vivência no clube, mas tem um país por trás da seleção. Você tem que manter a linha de conduta, de comportamento, não há margem de erro. Quando eu vim ao Brasil há 13 anos muitas coisas mudaram. Há 13 anos, ninguém falou bom dia para mim. Você não pode se achar tão baixo como uma derrota e nem tão grande como uma vitória.
RODRIGO CAIO E LUCÃO
Se eles estão jogando, é porque tem muita qualidade. Lucão, Rodrigo, tem nível de Seleção Brasileira, se posso ajudá-los, vou assumir a responsabilidade, a cobrança, proteger eles. Mas acredito que não precisem, porque têm qualidade e personalidade suficiente. Vou aprender com eles também. Quero uma relação de igualdade.