Maicon bate até no irmão e pede ’60 mil malucos no Morumbi’ na Copa
Em entrevista ao LANCE!, zagueiro lembra que não aliviou nem para o irmão, diz que não gosta de atacante que faz firula e fala em 'nova era no São Paulo' contra o Atlético-MG
Maicon é um zagueiro que bate até no irmão. Bate mesmo, acredite. O zagueiro do São Paulo, xodó da torcida, é irmão do atacante Maurides, revelado pelo Internacional e atualmente emprestado ao Arouca, de Portugal. Pelo Porto, Maicon não aliviou, venceu um e perdeu outro “clássico em família”. Mas essa seriedade com a qual encara os jogos é sempre a mesma, faz parte de seu ser.
– Não gosto de ficar de conversinha dentro de campo, de risadinha, se eu puder ir pra arrebentar o adversário, que não seja desleal... Eu tive oportunidade de jogar contra o meu irmão e falei para minha mãe: “Mãe, se tiver dividida com meu irmão, vou dividir como se fosse um jogador qualquer”. Não tem irmão dentro de campo. Costumo dizer que dentro de campo não tenho amigos, tenho apenas companheiros de profissão – afirmou o zagueiro, em entrevista ao LANCE! antes do treino de terça.
É esse espírito do zagueiro, aguerrido, mas não desleal, que a torcida espera do São Paulo que começa a decidir nesta quarta-feira, às 21h45, contra o Atlético-MG, no Morumbi, uma vaga nas semifinais da Libertadores. Contra um time que ficou marcado nos últimos anos por fazer milagres e nunca desistir, raça é quesito que não pode faltar.
O mineiro Maicon falou de seu gosto pela liderança, de como o Atlético-MG costuma cruzar seu caminho (chegou a negociar com o Galo antes de assinar com o São Paulo), da preocupação de afastar o rótulo de chacota dos rivais e que não gosta quando o adversário fica passando o pé em cima da bola. Recado para Robinho? Certo é que ele está otimista para a decisão em que espera “60 mil malucos” gritando no Morumbi. Te cuida, Galo!
– Será o início de uma nova era no São Paulo – decretou.
Acompanhe abaixo o bate-papo com o zagueiro são-paulino:
No último jogo você sofreu uma amigdalite. Agora, está 100%?
Estou 100%. A preparação foi tranquila. Defensivamente, o Bauza tentou fazer a gente ficar fechadinho ali, não dar espaços para os bons jogadores, Robinho, Pratto. São jogadores importantes, se a gente der espaço.... Com os atacantes também nos ajudando, para que a gente possa sair com a vitória e nos tranquilizar em Belo Horizonte.
A zaga do Atlético-MG tem sido criticada. Dá se para aproveitar disso nesta partida?
Se for parar pra pensar, um mês atrás a gente estava sendo muito criticado no setor defensivo, por estar dando alguns gols bobos, algumas brechas. A gente vai pressionar lá em cima. Tanto o Erazo quanto o Leonardo Silva são excelentes zagueiros, o Bauza vai tentar um esquema para a gente perfurar a defesa do Atlético. Libertadores é totalmente diferente, já fomos eliminados por eles. Espero que agora comece o início de uma rivalidade na Libertadores, mas que a gente possa sair com a classificação.
Você tem alguma rivalidade com o Atlético-MG?
Não, eu joguei no Cruzeiro, mas não. Sou profissional, estou defendendo um grande clube que é o São Paulo. Claro que quando você entra em campo o seu adversário já é o maior rival, independentemente se é o São Paulo. Vamos entrar com tudo, principalmente eu vou entrar com tudo para que a gente possa dar alegrias para o torcedor do São Paulo e meus companheiros também.
Mas, de uma forma ou de outra, o Galo sempre aparece no seu caminho. Antes do São Paulo, você negociou com eles, não foi?
Engraçado, eu tive umas conversas, tive para acertar com o Galo, que é uma grande equipe, que tem uma torcida linda. Quando eu jogava no Cruzeiro tinha uma admiração enorme pela torcida do Galo. E não vai ser diferente. É claro que quando recebi a ligação do São Paulo, vi ali uma chance única. Não falando que o Galo é melhor que o São Paulo, o São Paulo é melhor que o Galo, mas para meu perfil se encaixaria melhor o São Paulo e em questões de segundos, decidi pelo São Paulo. Não me arrependo, se tivesse de tomar amanhã de novo, aceitaria o São Paulo. Nada contra o Galo, é uma grande equipe, grandes torcedores, mas o São Paulo naquele momento se encaixaria mais no meu perfil. E nesse momento vejo que fiz a escolha certa e estou muito feliz aqui.
É curioso porque o Galo vem melhor nos últimos anos e o São Paulo em momentos de turbulência. O que pesou mais nessa decisão?
Nos últimos anos, o Galo tem sido campeão de tudo, claro que alguns jogadores teriam optado pelo Galo pelo histórico de títulos nos últimos anos. Mas quando recebi a ligação do São Paulo, consultei a minha esposa, minha família, os amigos, meus pais, e todos tiveram de acordo que o São Paulo seria a melhor opção para mim. O São Paulo é uma vitrine bem maior, não poderia negar, é um grande clube, onde passaram grandes jogadores. Claro que nos últimos anos não tem conquistado títulos, mas eu vim para mudar isso. Foi um desafio para mim, um clube que em qualquer competição briga por título. Uma hora vai mudar, espero que seja já, espero levantar uma taça de campeão no São Paulo, da Libertadores, se for possível. Vamos dar o nosso melhor para ser o primeiro passo da semifinal.
O que te faz ter a certeza de que foi a escolha certa?
Estou feliz. A alegria. Quando um jogador joga com alegria, quando você chega em casa e pergunta para sua mulher, seus filhos, se está feliz com a cidade, o clube. Até mesmo o apoio da torcida, que tem sido imenso, eu não esperava tanto apoio assim em tão pouco tempo. Essas coisas, juntando tudo, vira aquela bola de neve para o bem, que nos deixa feliz, motivados para treinar. Esses quesitos.
Seu contrato termina em 30 de junho e, embora você já tenha dito que quer ficar, pode ajudar o time a se classificar para a semifinal da Libertadores e não jogar. Como seria isso?
Complicado, mas não fico pensando nisso. Na hora certa, se a gente passar, a diretoria do São Paulo e do Porto vão entrar em consenso aí, para eu poder disputar e, se Deus quiser, levantar a taça de campeão.
O Porto foi atrás do Felipe, do Corinthians. Isso pode ajudar?
Não sei até que ponto pode ajudar, atrapalhar. Meu empresário que vai ver a melhor opção para mim, já deixei bem claro que minha vontade é de permanecer no São Paulo, já deixei bem claro para a diretoria do São Paulo, todos sabem, mas não depende só de mim. Se dependesse de mim, amanhã estaria assinando o contrato de renovação. Vamos um passo de cada vez, para quando chegar a hora assinar um contrato de renovação. T enho certeza de que no fim ambos estarão felizes.
Você acredita que ainda não é capitão do time por isso?
Não, o treinador escolhe o capitão que ele vê que se encaixa na liderança. Claro que eu tento ajudar, costumo dizer que não tem só um líder. Mas quem coloca a faixa é o Bauza, de acordo com o que ele acha que pode ajudar a equipe. Eu não me preocupo com faixa de capitão ou com qualquer coisa relacionada a isso. Eu procuro ajudar, o importante é que estamos bem servidos de capitáes. Hudson, Denis, Michel, Ganso, o Wesley.
Foi capitão no Porto.
Fui, há quatro anos. Uma bagagem um pouco maior. Tenho o espírito de liderança muito forte, também gosto. Quando renovei com o Porto, falei que gostaria de ser capitão, não para aparecer, mas porque gosto, pelo espírito de liderança que tenho dentro e fora. Procuro sempre ajudar meus companheiros, e acho que capitão tem de ter essa característica. Cara que põe a cara pra bater, que briga pelos companheiros, que sabe dialogar. Que ajuda. Se um dia eu for capitão do São Paulo, pode ter certeza que vai estar bem servido.
Cogita pedir para ser capitão se renovar?
Não, isso eu deixo para a diretoria, para o professor Bauza. Quem eles acharem melhor, vão colocar como capitão. Estamos bem servidos de capitáres, tanto o Michel, quanto o Denis, agora o Hudson.
Nos últimos anos, o torcedor sofreu muito nas mãos dos rivais, clássicos. E o Robinho foi um dos personagens que participaram desse período, pelo Santos. Não pode deixar o rival “deitar” muito?
Clássico é feito com um só objetivo: ganhar. E eu não admito uma derrota num clássico. Para mim todos os jogos são importantes, mas o clássico é um dos jogos mais importantes. Claro que eu não gosto de perder um clássico, nem um jogo e muito menos as vezes em que jogadores ficam brincando, passando o pé por cima da bola. O que tento passar para a equipe é jogar sempre sério, principalmente nos clássicos. Não dá espaço para o adversário, entrar com tudo, mostrar sua identidade do início ao fim. Porque tenho certeza de que se o São Paulo entrar com a pegada que vem vindo nos últimos jogos, o River no primeiro tempo, o Toluca em casa, a gente tem tudo para ganhar todos os clássicos que vem pela frente. E não só os clássicos. Depende da gente mudar essa história. Claro que não só a torcida, como os jogadores ficam chateados por não ganhar clássico. E quero fazer parte dessa nova era.
Perder, sim, passar vergonha, não. É isso?
Passar vergonha, não. Claro que não aceito derrota. Não está na minha mente, nem durmo quando perco. Clássico então nem se fala. Clássico foi feito para vencer. Para a gente não virar motivo de chacota. Claro que quando você passa cinco, seis, sete sem vencer, você vira motivo de chacota. Espero que nos próximos a gente possa sair por cima.
Sete eliminações para Brasileiros em Libertadores seria... (Maicon interrompe)
Seria. Não vai ser. Espero que não seja, amanhã (hoje) vamos começar uma nova era no São Paulo, uma nova postura, para que esse tabu seja quebrado e a gente consiga ultrapassar o Atlético-MG.
Você é um jogador durão?
Eu procuro, como se diz na brincadeira, colocar um medo no adversário. Como falo, zagueiro meigo a gente não respeita. Então procuro ser zagueiro duro, de choque, para que os adversários tenham respeito. Não precisa ter medo, mas respeito. Isso na minha posição é importante.
Com o Pratto vai ser difícil porque ele faz o mesmo? Ou prefere atacante meigo?
Prefiro adversário que dê combate. Mas estou preparado para todo tipo de adversário, espero estar à altura para superar o Pratto, o Robinho e todos os atacantes do Atlético-MG.
Você tem treinado cobranças de falta. Está pronto para assumir esse posto?
Com certeza, tenho treinado bastante, Wesley, Michel, temos tentado aprimorar um pouco mais diariamente, para chegar no jogo e fazer gol. Claro, que dependendo da circunstância do jogo, se o posicionamento é melhor para o companheiro, vou deixar bater. Mas claro que se tiver uma oportunidade, espero converter, ou o Wesley, o Ganso.
No campo você disse que não tem amigo. No Morumbi, você vai ter 60 mil amigos?
Com certeza. Espero ter 60 mil malucos, não amigos. Que a torcida grite, xingue se for preciso. Que a torcida aplauda. Espero 60 mil malucos, não 60 mil amigos, para nos incentivar e conseguir a vitória para nós e para eles também.
A torcida tem feito a diferença?
Tem, com certeza. É uma torcida que tem nos ajudado bastante, nos dá confiança, motivação, ânimo, fôlego a mais para correr por eles e nós mesmo.
A vitória começa no ônibus passando pela torcida na entrada do Morumbi?
Com certeza, ali você já começa a sentir. São coisas que no Porto não tinha passado. Fiquei muito feliz quando pela primeira vez vi a torcida com aquela manifestação enorme, nos apoiando, nos aplaudindo, espero que desta vez seja ainda maior do que foi nos outros jogos.
Defina o técnico Edgardo Bauza.
É um líder. Cara com muita experiência, de Libertadores principalmente, já foi duas vezes campeão. Não é muito de conversa, mas passa uma confiança enorme. Tem personalidade, que é muito importante. A partir do momento que ele deixa um Ganso, camisa 10, melhor jogador do time, no banco, mostra que não veio para brincar. reinador de muita vontade e experiência.
Ele pode ser importante para o futebol brasileiro?
Ele não só vai ser, como ele já está sendo importante. Somos a única equipe paulista na Libertadores. O começo foi complicado, um pouco duvidoso, mas ele junto com a gente demos a volta por cima, e ele tem mostrado porque o São Paulo apostou nele.