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Marcinho explica xingamento a torcedor e diz: ‘Não vou me esconder’

Atacante do São Paulo, que está entre os que mais chutam, cruzam e dão passe para finalização no BR, aceita reserva se for a solução para o clube sair da zona de rebaixamento

Tatuagem é uma homenagem ao irmão de Marcinho, falecido aos oito anos de idade
William Correia

Escrito por

Nas duas últimas derrotas do São Paulo, contra Coritiba e Bahia, rivais diretos na briga contra o rebaixamento no Campeonato Brasileiro, Marcinho foi o mais criticado pela torcida. Não à toa, acabou até xingando um torcedor nas redes sociais. Mas as estatísticas mostram que o atacante não desiste e ele, em entrevista exclusiva ao LANCE!, avisa que vai continuar assim.

- É a minha personalidade. Nunca me escondi, sempre botei a cara.  Estamos em um momento difícil, não dá para se esconder. Estou sempre tentando. Se o problema for eu, pode me tirar do time. O importante é o São Paulo sair dessa situação.

O jogador de 22 anos falou com a reportagem logo depois do treino dessa terça-feira, em que Dorival Júnior indicou que o tiraria do time para promover Brenner. Mas Marcinho mostrou tranquilidade para abordar todos os assuntos, sem priorizar nem sua renovação com o Tricolor - está emprestado pelo São Bernardo até dezembro.

O atacante só saiu do sério mesmo nas redes sociais, quando um torcedor reclamou de ele estar fazendo tatuagem enquanto o time luta para não cair. Marcinho respondeu "Vai se f... e cuida da sua vida!". Disse que saiu de si porque a tatuagem é uma homenagem ao seu irmão Pedro, que faleceu com leucemia em janeiro de 2014, com oito anos de idade. Destempero que ele garante ter sido uma exceção nesse empenho para salvar o Tricolor.

Confira a entrevista exclusiva de Marcinho ao LANCE!:

Segundo o Foostats, você é o segundo jogador com mais assistências para finalizações do Brasileiro (35, contra 47 de Gustavo Scarpa, do Fluminense) e, no São Paulo, é o segundo que mais finaliza (22, atrás só das 57 de Pratto) e é quem mais cruza (103). São números que provam que você não deixa de tentar...
Procuro sempre aparecer para o jogo, independentemente de acertar ou não. Estamos em uma fase em que todos têm de chamar o jogo, buscar, tentar mesmo. Estamos em um momento difícil, mas você não pode se esconder, tem que estar sempre tentando, independentemente de errar ou acertar, procurar ajudar.

É uma característica sua?
É a minha personalidade. Isso a gente não pode mudar, é uma coisa que tenho comigo faz tempo. Nunca me escondi, sempre botei a cara. Estou sempre ali. Errando ou acertando, estou sempre tentando.

O Jean, hoje no Palmeiras, comentou enquanto era jogador do São Paulo que era criticado pela torcida porque aparecia e tentava sempre, não se escondia, mesmo quando não precisava. Acha que é o seu caso?
Pode ser. Quando você tenta, pode errar ou acertar, e, às vezes, você erra mais do que acerta. Mas é você que está ali. Quando você acerta, as pessoas elogiam. Quando erra, vão criticar, é normal. Mas é uma coisa que tenho e estarei sempre ali, não vou me esconder. Claro que sempre procurando melhorar para errar o mínimo possível.

Você revê os seus lances depois dos jogos?
O pessoal sempre manda, após os jogos, todos os lances individuais. Vejo o que tenho errado para procurar melhorar. Às vezes, falta um pouquinho de confiança, por isso acabamos errando bastante. Mas procuro sempre tentar. De dez, se eu acertar quatro, tenho certeza de que uma vai ser gol ou passe certo para gol. Vou sempre tentar.

O que está te faltando é confiança mesmo?
É. A fase é um pouco complicada. Um amigo até brincou comigo que, no jogo passado, bati uma bola de esquerda e, se a fase estivesse boa, a bola teria entrado. Às vezes, é isso. Falta um pouco de confiança, mas, às vezes, também é da minha parte. Preciso melhorar. Mas vou tentar, tentar até acertar.

É curioso você falar que falta confiança se está sempre tentando...
Às vezes, falta um pouquinho de confiança. Mas não vou deixar de tentar. Posso errar mais do que acertar por conta dessa falta de confiança, mas vou estar ali. Se acertar uma na cabeça de alguém ou um chute a gol, a bola pode entrar. Isso, não pode faltar.

Como está seu relacionamento com a torcida? Você acabou de xingar um torcedor no Instagram...
Tenho a cabeça boa. Foi uma coisa pessoal minha, da minha família. É uma tatuagem do meu irmão, que faleceu. Na hora, aquilo mexeu com a minha cabeça. Mas a torcida, desde que cheguei, sempre me apoiou. A torcida tem o direito de criticar, estamos em um momento difícil. Mas tenho certeza de que não vão crucificar ninguém por conta de um lance ou outro. Joguei todos os jogos do Brasileiro até agora, tenho certeza de que tenho mais coisas boas do que ruins. A questão é a fase mesmo. Passando, as coisas vão melhorar. E a torcida vai estar sempre apoiando. Sempre tive um relacionamento tranquilo com os torcedores. Não terei problema.

Essa tatuagem é do seu irmão, então?
Sim, é o rosto dele. Foi um momento pessoal meu, talvez eu tenha errado por ter respondido. Não deveria ter falado nada, deixado passar. Temos de entender também o torcedor, que tem o direito de falar. Vou até evitar um pouco isso de rede social nesse momento em que estamos. Foi uma coisa de momento, que já passou.

Você está conseguindo andar tranquilamente nas ruas?
Tranquilo. As pessoas me tratam da mesma maneira desde que cheguei. Não tenho problema com isso, não.

No treino dessa terça-feira, o Dorival indicou que vai te tirar do time para colocar o Brenner. Falou algo para você?
Não. O professor montou um quarteto. Não sei quem vai jogar, vamos ver. Mas, independentemente de quem for jogar, vou estar sempre aí para ajudar, fazer o meu melhor, entrando jogando ou durante a partida. Tenho certeza de que, juntos, vamos sair dessa situação ruim em que estamos.

Você foi reserva no primeiro jogo do Dorival, contra o Atlético-GO, e saiu do banco fazendo gol. Voltar para o banco seria um problema?
Não. Temos conversado sobre isso. Se for para sair dessa situação... Se o problema for eu ou alguma outra pessoa, a gente está apto a ajudar. Não tem problema me tirar do time. Se o problema for um ou outro, pode trocar. Desde que a gente saia dessa situação, que resolva o problema, estarei sempre à disposição, começando jogando ou não.

A posição mais indefinida do time é a lateral-direita, e você já jogou por lá com o Rogério Ceni e o Dorival.
Joguei bastante ali, inclusive no decorrer dos jogos contra Grêmio e Coritiba com o Dorival. Hoje, temos só o Buffarini, porque Bruno e Araruna estão lesionados. Deve jogar o Buffarini e, se precisar, estou à disposição. É uma posição diferente. Quando atuei na lateral no decorrer dos jogos, era em partidas nas quais estávamos precisando. Mas estou à disposição em qualquer função, saindo jogando ou não.

O Rogério Ceni te trouxe e gostava muito de você. Quando ele saiu, você ficou temeroso?
É claro que passa pela cabeça que vão acontecer muitas coisas. Não sendo mais ele, pode vir um treinador que não te conhece, que não te viu jogar tanto. Quando o Dorival chegou, me tirou do time e não tive problema com isso, respeito. Inclusive, falei com o Rogério depois que ele se despediu do grupo e agradeci. É por ele que estou aqui. Se estou aqui e joguei todas no Brasileiro, devo a ele e ao São Paulo, que me deu essa oportunidade. Mas me dou bem com essas coisas de troca de treinador. Tenho a cabeça bem tranquila para lidar com esse tipo de situação.

Como foi essa conversa com o Rogério depois que ele saiu?
Primeiro, conversamos aqui no CT mesmo, quando ele foi embora. Depois, mandei uma mensagem agradecendo pela oportunidade que tinha me dado. Ele respondeu que, se estou aqui, é porque tenho talento. Mas sempre serei grato a ele. E ele me mandou mensagem também depois que fiz o gol contra o Atlético-GO. Fico feliz por ter um cara assim que não só foi meu treinador, mas que lembra de mim, mesmo sem estar trabalhando junto. Fico feliz por ter trabalhado com ele, com tudo que ele já fez aqui. É um ídolo do São Paulo e do futebol mundial. Desde quando tivemos a primeira conversa, fiquei muito feliz e grato por tudo que ele fez por mim.

Ser um xodó do Rogério Ceni pode te atrapalhar no São Paulo?
Não. Se eu tivesse chegado, jogado de cara, não fosse bem e ele me mantivesse... Mas não foi meu caso. Tive de esperar minha chance e, quando tive oportunidade, aproveitei, fui bem. Hoje, não é por causa dele que estou jogando. Estou aqui por causa dele, mas não é ele mais o treinador. Estou jogando por mérito meu, pelo meu trabalho diário e pelas coisas que tenho feito desde quando cheguei. Isso não será problema.

O Dorival conversa bastante com você?
Ele é um cara bem tranquilo. Conversa com todos. Se ele estiver conversando com alguém e, do outro lado, estiverem algumas pessoas, ele vai para lá para conversar com todos. Às vezes, ele conversa com dois ou três juntos, às vezes individualmente. Está sempre dando atenção igual a todos e explicando tudo o que tem para passar, maneira de jogar e coisas individuais também.

Você tem 22 anos de idade. Imagino que esteja vivendo uma experiência e tanto nesta temporada.
Em abril, fez um ano que comecei a jogar como profissional. As coisas aconteceram muito rápido. Joguei já um turno inteiro do Campeonato Brasileiro. Quando cheguei, falei: 'estou no São Paulo, é time grande, agora vamos brigar lá em cima'. Você cria uma expectativa e, do nada, vive outra, estamos na zona de rebaixamento. Você precisa ter uma cabeça muito boa para lidar com essa situação, porque cria uma expectativa grande e está em uma situação diferente. Eu não esperava nem estar jogando. Estou feliz por ter jogado todos os jogos, mas não pela situação que vivemos.

Você está emprestado até dezembro. Como está a expectativa para renovar?
Não estou pensando nisso agora. Ninguém quer que o São Paulo continue nessa situação. Estou pensando no jogo de domingo. Jogando ou não, penso na vitória para chegar ao final do ano em uma situação diferente da de hoje e poder, se Deus quiser, conversar com o São Paulo e ver se vou ficar ou não.

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