Marcos Guilherme agradece, mas diz que erro o faz sair agora do São Paulo
Ao LANCE!, meia-atacante fala sobre problemas na negociação com o Atlético-PR, agradece torcida e Aguirre e, sendo são-paulino de coração, comenta chance de jogar no Corinthians
Na manhã desta segunda-feira, Marcos Guilherme olhava em seu celular vídeos feitos por torcedores do São Paulo sobre sua saída do clube. O meia-atacante ainda digere a despedida do time do coração. Antes de pegar seu carro para dirigir até Curitiba, como pretende fazer no começo da noite desta segunda-feira, ele falou com o LANCE! sobre o que considerou um erro.
Marcos Guilherme chegou ao Tricolor, em julho, com a divulgação de que ficaria até dezembro de 2018. Mas Vinicius Pinotti, antecessor de Raí no comando de futebol do clube, assinou contrato de empréstimo com o Atlético-PR só até 30 de junho, acreditando em um acordo verbal por mais seis meses de permanência. A diretoria paranaense não fez valer o acordo, exigiu os 3 milhões de euros (cerca de R$ 13 milhões) por 50% de seus direitos econômicos estipulados no contrato, o São Paulo só chegou a 2 milhões de euros (R$ 8,74 milhões) e, assim, o jogador saiu.
- Sempre soube desse acordo verbal. Houve um erro. E quem errou sabe o que fez. Mas serve de aprendizado para futuras negociações - disse Marcos Guilherme, ciente de que as relações entre as diretorias de Atlético-PR e São Paulo, historicamente, não é boa.
Mesmo com contrato até dia 30, o meia-atacante já atuou o limite de seis jogos para poder atuar no Brasileiro por outro time e, por isso, só foi ao CT da Barra Funda nesse domingo para se despedir. Sua família já foi para o Paraná e ele dormiu em um hotel nessa noite. Foi procurado por clubes do exterior e do Brasil, como o Corinthians, com quem não pode fechar portas, mesmo sendo assumidamente tricolor de coração.
Confira abaixo como foi a conversa de Marcos Guilherme com o LANCE!:
Você já digeriu o que aconteceu?
Hoje, realmente, acho que já estou um pouquinho mais tranquilo. Ontem foi complicado me despedir dos meus companheiros, do pessoal do clube, foi um dia bem triste. Hoje, já estou mais tranquilo.
É que você já chorou falando disso seguidas vezes...
É porque é difícil. É um sonho de infância, o que sempre almejei. Viver isso mexe lá dentro. Agora, pouco a pouco, vou me acostumando com a ideia.
Qual é a sua programação agora?
No primeiro momento, quero ficar um pouco com a minha família, que já está em Curitiba. Vou ficar alguns dias por lá curtindo minha família, meu filho, meus pais, receber o carinho deles. depois, vou ver a proposta que tenho na mesa e escolher o melhor caminho.
A sua família foi quando para Curitiba?
Faz uma ou duas semanas.
Então você já sabia mesmo que não ficaria...
As coisas já estavam andando para isso, eu já estava meio ciente que não permaneceria. Então, começamos a agilizar as coisas.
Você conhece as propostas que chegaram?
Sei algumas, sei que tenho boas opções. Mas, agora, como falei: primeiro vou para Curitiba ficar com a minha família e, depois, vou sentar com quem tiver de sentar para escolher a melhor opção.
São clubes só do Brasil ou tem do exterior?
Tem algumas opções de fora também. Mas preciso de um tempinho para analisar bem. Não sei quando vamos definir, depende do pé em que estão as negociações, e preciso ver o mercado, o lugar que é.
Você tem conversado com o Atlético-PR?
Sim. Tenho uma boa relação com o pessoal de lá, com o presidente, os diretores. Sempre conversamos.
Você chegou a ir para Curitiba só para convencer o Atlético-PR a deixá-lo no São Paulo?
Não. Minha família é de lá, então, sempre que eu ia para lá, por estar rolando essa negociação, podem ter achado que fui por isso. Mas não foi. Falo bastante com eles por telefone daqui de São Paulo mesmo, falando com o presidente, tentando ver uma melhor situação. Mas não fui lá só para isso.
Você sente mesmo que o São Paulo fez tudo que podia para ficar com você?
Foi isso que eles me passaram, que fizeram tudo que podiam. Prefiro acreditar nisso. E eu sabia que era uma situação difícil porque eu não estava nesse orçamento do meio do ano. Como o empréstimo era até dezembro, o orçamento para me comprar deveria estar no fim do ano. E também aconteceu um erro de contrato. Por isso, neste momento, ficou um pouco difícil eu permanecer até pelas contratações que eles fizeram.
Esse erro foi de quem?
Algumas partes erraram. Não preciso ficar expondo ninguém, mas foi nítido que aconteceu um erro. Agora também já passou.
Como os torcedores do São Paulo têm falado com você sobre a sua situação?
Impressionante. O que vou levar daqui também vai ser esse carinho que estou tendo e sempre tive pela torcida. Tenho recebido milhares de mensagens todos os dias, dos torcedores falando que eu tinha de ficar e agradecendo tudo que fiz. Isso não tem preço que pague, ver esse carinho, que vim aqui e, realmente, o pessoal gostou do meu futebol. Só tenho de agradecer a todos por isso.
Você disse que sempre representou a torcida dentro de campo...
Pela relação que tenho com o São Paulo desde pequeno, isso veio naturalmente. Realmente, quando cheguei aqui, esse era um objetivo: transmitir isso para a torcida. Sei como é, tenho esse sentimento de torcedor, sei o que o torcedor quer. Então, sempre que entrei em campo, procurei demonstrar isso.
Com tudo isso na cabeça, deu para dormir depois do jogo de sábado e, de manhã, já ir ao CT se despedir?
Não. Dormi bem pouco.
Como foi essa conversa para ser liberado dos treinos ontem?
Eu já tinha conversado antes do jogo. Bati um papo com a diretoria e eles ficaram de responder depois, para eu ficar com a cabeça mais no jogo. Joguei, chegou ontem de manhã, falei com ele de novo e resolvemos que não tinha mais necessidade de ficar no clube, até porque não poderia mais atuar. Eles entenderam meu lado, então não tivemos problema.
Saber que seriam os seus dois últimos jogos serviu como motivação? Você fez a assistência para o gol do Diego Souza contra o Botafogo e participou diretamente do gol sobre o Palmeiras...
Na minha cabeça, esse gol contra o Palmeiras foi meu, e é isso que vale (risos). Mas não serviu de motivação. Foi importante que eles viram a minha atitude, muita gente não esperava isso. Eu sabia que não ia continuar, mas, mesmo assim, pedi para jogar, me expus e me impus em campo. Isso que fica. Mesmo com essas negociações e a indefinição, sempre dei cara. Isso que é importante.
Como foi a conversa com o Diego Aguirre para administrar esse limite de jogos?
Ele me chamou, conversou, estava ciente da situação, que eu tinha somente seis jogos para atuar no Brasileiro. Ele me ajudou. Realmente, foi muito homem comigo nessa parte. Entendeu toda a situação, perguntava o que eu achava, ouviu a minha opinião. Ontem, eu o agradeci por tudo. Foi um cara muito correto comigo.
Vocês programaram juntos os jogos em que você atuaria?
Sim. A gente sentava, via no quadro os jogos que tinha, ele dava a opinião dele e eu dava a minha. Entramos sempre em consenso.
Você chegou a temer ter que recusar jogar para não estourar o limite?
Não. Até porque já sabiam há algum tempo que eu só teria seis jogos e seria muito difícil atuar o sétimo jogo se o São Paulo não tivesse entrado em acordo com o Atlético-PR. Então, não temi nada quanto a isso.
Pergunto porque alguns dirigentes cogitaram te escalar pela sétima vez para forçar o Atlético-PR a aliviar na negociação.
Eles pensaram nisso, passaram essa situação para mim lá atrás. Mas bati o pé, que não faria isso. Eu não poderia correr esse risco. O dono dos meus direitos econômicos é o Atlético-PR. Vai que eu jogo o sétimo jogo, o presidente do Atlético-PR não gosta, e isso poderia me prejudicar. O São Paulo entendeu isso também.
Nas redes sociais, torcedores cobraram que você jogasse a sétima partida, já que ainda está com contrato.
Eu vi. Mas não é fácil, né? É uma situação realmente complicada porque envolve muitas partes. Não é simplesmente jogar o sétimo jogo para pressionar o Atlético-PR. Os donos dos meus direitos são eles, então quem toma a decisão é o Atlético-PR.
Você se declarou são-paulino de coração desde que chegou. Hoje, você jogaria no Corinthians, que já fez sondagem por você?
Não sei. Não posso fechar portas, até porque não estou com a vida ganha. Sou profissional. É claro que o meu sentimento pelo São Paulo jamais vai sair de dentro do meu coração. Mas não sei o dia de amanhã. Não posso falar se jogaria ou não. Estou à disposição de propostas, não sei o que vai vir. Não posso fechar portas.
O que te faltou nesses 11 meses no São Paulo?
Um título. É o maior sonho de todo jogador, ainda mais para mim, no São Paulo. Mas, tirando isso, não faltou nada. Realmente, só acrescentou na minha vida, o tanto que evoluí e vivi no clube foi intenso. Faltou somente o título mesmo.
E dá para o São Paulo ser campeão neste ano?
Até já falei para os caras: se for, vou esperar minha medalha onde eu estiver. E acredito, sim, no título. O que está acontecendo no São Paulo é por uma mudança muito grande de atitude, união. O clube vai conseguir coisas grandes ainda neste ano.
Na quarta-feira, você comentou que chegou para ajudar o time a não ser rebaixado e agora, na parte boa, está saindo. O que mudou nesse tempo?
A atitude, a forma como encaramos os jogos. Questão de marcação, pegada. Todas as equipes estão sentindo isso. Faltava isso para o São Paulo. É uma questão de identidade, não sei o motivo. Agora, com o time mais aguerrido, com mais vontade, as coisas melhoraram.
Em que você evoluiu no São Paulo?
Em tudo. Evoluí muito. Quando cheguei, daquele meu primeiro jogo, contra o Botafogo, para agora, sou um jogador muito mais maduro, preparado. Dá para ver até por essas questões de carinho de torcida, negociações. O São Paulo tem me abrido muitas portas pelo ano maravilhoso que passei aqui.
Antes de vir, você acompanhava o São Paulo à distância?
Sim, como torcedor. Não tanto quando eu estava no Atlético-PR, que era rival, aí não acompanhava muito. Mas, enquanto estive na Croácia, comecei a acompanhar mais.
No jogo na Arena da Baixada neste ano, pela Copa do Brasil, deu para ver bem como a torcida do Atlético-PR pega no seu pé. Você teria clima para jogar lá de novo?
Não sei. Se eu tiver de jogar, vou jogar. Tenho um carinho muito grande pelo Atlético-PR, apesar desse problema com a torcida. Mas não foi só comigo. Quando o Dagoberto jogava lá, com todos que jogaram lá e no São Paulo, acontecia isso também. Tem essa rixa com o São Paulo. Não fui o primeiro e, com certeza, não serei o último. Então, se tiver de jogar lá, tenho contrato com eles ainda. Se chegar a esse ponto, com certeza voltarei com muita motivação e carinho que tenho pelo clube.
Você mesmo admitiu que viveu sua pior fase em 2016, quando a torcida do Atlético-PR já pegava no seu pé.
Agora, estou totalmente diferente. Em 2016, eu já estava há uns dois anos no profissional, mas nunca tinha passado por uma fase difícil em campo, com atuações ruins, entrar em campo e não conseguir fazer o que sei. Hoje, sem dúvidas, sou um jogador totalmente diferente, mais experiente e ciente de que fase boa passa, e fase ruim também. Com certeza, seu eu tiver de voltar, sentirão que sou um jogador muito mais preparado.
A sua vontade é jogar onde?
Não sei. Estou digerindo ainda essa situação de sair do São Paulo. Pouco a pouco, verei as situações que tem e trilhar o melhor caminho.
Volta para o São Paulo um dia?
Tenho esse desejo, até pelo carinho que tenho. Espero, no futuro, voltar para o Tricolor.
Não tem nenhuma chance mesmo de ficar no São Paulo agora?
Não. Já estão encerradas as negociações. Agora, não tem mais chances de jogar pelo São Paulo.
Quer deixar uma última mensagem para a torcida?
Somente agradecer. Já tenho agradecido por todos os lados, mas nunca será demais. Agradeço por todas as mensagens, todo o carinho que eles têm demonstrado por mim. Ficarão para sempre na minha memória todos os momentos que passei aqui. Podem ter certeza de que estarei de longe, mas acompanhando e torcendo pelo sucesso do São Paulo.
Olha aí, você já conseguiu falar disso sem chorar...
Já estou preparado, né?