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Pintado: ‘Se eu tivesse oportunidade, talvez o São Paulo não estaria assim’

Técnico do São Caetano, adversário do São Paulo nas quartas do Paulista, diz que saída do Tricolor em 2017 não dói mais, mas avisa que apontou erros que culminaram na crise atual

Pintado comandará o São Caetano contra o São Paulo nas quartas
Pintado comandará o São Caetano contra o São Paulo nas quartas (Fabrício Cortinove/São Caetano/Divulgação)

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Em 10 de julho, um dia após comandar o São Paulo  interinamente em derrota para o Santos, Pintado foi dispensado pelo clube para Dorival Júnior montar sua comissão técnica. Menos de um ano depois, o ex-volante, campeão da Libertadores e mundial pelo Tricolor nos anos 1990, comanda o São Caetano e reencontra o time ainda em crise com a sensação de que poderia ter sido mais útil no clube do Morumbi.

- Se eu tivesse a oportunidade de ajudar o São Paulo, como estou tendo de ajudar o São Caetano, talvez as coisas não estivessem nesse ponto - disse Pintado ao LANCE!, já se preparando para enfrentar o Tricolor nas quartas de final do Campeonato Paulista, a partir do próximo fim de semana.

Em conversa por telefone pouco depois da confirmação da demissão de Dorival Júnior, Pintado garantiu não ter mágoa do São Paulo e que se sente feliz no Azulão. Mas deixou claro que os problemas atuais já tinham sido alertados por ele em sua passagem pela comissão técnica, entre 2016 e 2017, e que a situação parece ter até piorado atualmente.

Confira a entrevista completa com Pintado:

O que você pode falar da situação do São Paulo?
Fico triste pelos amigos que tenho no São Paulo, e só tenho amigo dentro do São Paulo. É muito triste ver pessoas sérias e competentes sofrendo tanto enquanto trabalham lá dentro. Mas o São Paulo paga por erros próprios. Tive a oportunidade de estar lá dentro e indicar alguns pontos errados que poderiam chegar no futuro que vemos hoje. Mas não posso fazer mais nada pelo São Paulo. Enquanto estive lá, indiquei, mostrei, tentei fazer alguma coisa e não foi possível resolver. Agora, cabe às pessoas que estão lá tentarem resolver esse problema que é muito maior do que quando eu estava lá.

Tem um gosto especial enfrentar o São Paulo pela forma como você saiu do clube?
Claro que tem. Não tenho mágoa nem problema pessoal nenhum. Não devo nada ao São Paulo nem o São Paulo deve a mim. Sempre serei agradecido pela oportunidade que tive. Mas tem um sabor especial, sim. Não por ter saído ou não, até porque o tempo mostra quem está certo e quem está errado. Se eu tivesse a oportunidade de ajudar o São Paulo, como estou tendo de ajudar o São Caetano, talvez as coisas não estariam nesse ponto. Mas isso já é passado. Para mim, está morto e enterrado. Não tenho nenhuma mágoa, não me dói mais nada. Sou um homem e um profissional muito feliz por trabalhar no São Caetano em um momento muito bom e positivo.

O São Paulo vem trocando de técnicos com frequência. O que você pode falar dessa cultura de demitir técnicos no futebol brasileiro?
Vejo isso de uma maneira muito objetiva e clara. As pessoas que escolhem o treinador precisam tentar, pelo menos, seguir um planejamento com o mínimo de identidade do clube, da maneira como o clube joga, conquistou títulos e construiu uma história, para minimizar as dificuldades da profissão, que são calendário, lesões, adversários de muita qualidade, como temos dez candidatos a título no Brasil. Precisam idealizar esse caminho para, na hora da dificuldade, dar seguimento a isso. Se você não sabe para onde quer ir, a qualquer momento pode querer mudar a rota. Quando você sabe o caminho e tem profissionais competentes ao seu lado, sabe que tem uma subida pesada, mas engata a primeira marcha, vai devagar, mas sobe. Quando você não sabe para onde quer ir, fica muito difícil manter treinador, diretor, jogador.

É melhor enfrentar o São Paulo em crise ou ser azarão encarando um time grande embalado?
Na verdade, pela minha experiência, sei que grande equipe tem pressão e responsabilidade sempre. Claro que temos pés no chão e sabemos que o São Paulo é favorito, maior do que o São Caetano, tem toda força de elenco, poder financeiro e tudo que conhecemos da estrutura do São Paulo. Mas o São Caetano tem profissionais muito capazes de enfrentar qualquer dificuldade e arma que o São Paulo possa ter. Para nós, é motivo só de motivação. Esse momento difícil do São Paulo não nos ajuda em nada, trabalhamos sem pensar que teremos qualquer facilidade.

O que você pode falar sobre o André Jardine, que vai assumir o São Paulo interinamente?
Fui auxiliar do André quando ele assumiu o São Paulo (em 2016) e ele foi o meu quando assumi (em 2017). A gente se conhece relativamente bem. Para mim, é motivo de alegria ele ter essa oportunidade porque merece. Infelizmente, não é no momento e da maneira que ele gostaria, mas é a oportunidade que aparece. O André é preparado e conhece o caminho das pedras dentro do São Paulo, sabe o que vai encontrar pela frente. E eu estou muito motivado porque será um jogo muito difícil. Não será André Jardine contra Pintado, mas São Caetano contra São Paulo. Isso gera atenção especial e todo esforço para que as coisas saiam bem.

Qual é a sua sensação com o São Caetano?
O mais importante é que já estamos classificados, levamos o São Caetano da última colocação à zona de classificação, e já temos no calendário (Série D) o Brasileiro em 2019. É muito mérito dos jogadores, que acreditaram no que coloquei e no que a comissão técnica ofereceu de informação e treinamento, dando toda condição para renderem mais. Confesso que é um resultado muito especial na minha vida profissional e na vida de todos que estão aqui no São Caetano. É um momento muito bacana que o São Caetano está vivendo de novo, saindo da última colocação, em um momento muito difícil do campeonato, e estar classificado a uma rodada do final mostra que tem gente competente aqui dentro, um trabalho bem feito. Mas o meu objetivo é muito maior do que esse. Vim para construir alguma coisa, não quero que seja só uma passagem em que só vim, salvei, aparece uma proposta e vou embora. Não farei isso. Tenho um compromisso e espero ter continuidade para construir alguma coisa aqui dentro.

Como já está classificado, vai poupar jogadores nesta última rodada, contra o Bragantino, em Bragança Paulista?
Queremos chegar o mais longe que pudermos, não tem esse negócio de poupar ou guardar. Mas estamos pensando, sim, no que vem pela frente, no jogo importante contra o São Paulo. De tudo que pensamos no Campeonato Paulista, chegamos muito mais longe do que imaginávamos. A partir de agora, é estar preocupado com o confronto contra o São Paulo. Só que o jogo contra o Bragantino também será importante.

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