O São Paulo deve mesmo ficar sem vice-presidente geral. Apesar das tentativas de reconciliação que geraram conflito interno na última terça-feira, o rompimento do presidente Carlos Augusto de Barros e Silva e do vice Roberto Natel já é dado como certo. Uma reunião entre os dois no Morumbi, provavelmente nesta quinta pela manhã, pode sacramentar a saída de Natel da diretoria. O encontro era esperado para esta quarta, mas Natel não foi ao estádio.
O rompimento não foi sacramentado na terça porque houve uma "turma do deixa disso", que tentou reverter a decisão após Natel entregar o cargo. A instabilidade culminou no que o São Paulo chamou de "erro de comunicação". Desta vez, porém, Leco já não conta mais com o ex-aliado para sua sequência na gestão e, na visão de quem acompanha a política do clube, ganhará um possível adversário para as eleições de 2017.
Há quem acredite que as partes façam um acordo para comunicar a saída de Natel apenas no fim do ano, para não atrapalhar ainda mais o time, que luta contra o rebaixamento no Campeonato Brasileiro. No entanto, a relação já passou ao grau do insustentável.
No São Paulo, a aspiração de Natel de ser presidente do clube passou a ser comentada com mais força nos últimos dias, a partir do momento em que o o agora ex-vice geral começou a reclamar da postura do presidente Leco. Natel ficou incomodado por não ter sido consultado em algumas decisões, como na escolha de Marco Aurélio Cunha para substituir Gustavo Vieira de Oliveira. O sobrinho de Laudo Natel enxerga Marco como membro da oposição.
Leco, por sua vez, já vê o rompimento como necessário. A pessoas próximas, o presidente diz não ter interesse em alguém que não está totalmente focado em trabalhar pelo clube num momento de transição. A partir de agora, o adversário estará plenamente identificado, dizem. Seus aliados admitem, no entanto, que trata-se de mais uma situação política que precisará ser contornada.
Não é de hoje que o presidente recebe críticas internas pelo modo como conduz o clube politicamente. Desde que assumiu, em outubro do ano passado, Leco tem optado por postura classificada alheia à politicagem. Como exemplo, aliados citam a relação com conselheiros, sempre famintos por dar pitaco. Dizem que na maioria das vezes o mandatário dá de ombros e não se deixa levar pelas cornetas. Isso, ao mesmo tempo em que é elogiado, causa problema pois aumenta a satisfação interna. “Eu concordo com essa postura, mas não sei se ganha eleição”, foi frase dita por um membro da cúpula.
Roberto Natel, além de possuir o sobrenome mais sagrado no São Paulo, tem atuação política importante no clube. Ele é sobrinho de Laudo Natal, ex-presidente e patrono do Tricolor. Era um dos cotados para suceder Juvenal Juvêncio em 2014, competindo com Leco, quando o ex-presidente morto no ano passado optou por Carlos Miguel Aidar.
Leco ainda tem que lidar com a pressão da oposição, que se acalmou um pouco após o retorno de Marco Aurélio. A fase ruim do time, no entanto, contribui para críticas. A pressão dos oposicionistas foi a principal causa da queda do antigo diretor-executivo Gustavo Vieira de Oliveira.