A Copa do Brasil sempre foi um problema para o São Paulo. Nem Rogério Ceni, maior ídolo e atual treinador, conseguiu vencer a competição pelo clube. Mas um jogador do grupo já sentiu o sabor da conquista e está louco para repetir a dose. Em São Luis, capital do Maranhão, onde o Tricolor estreia no torneio contra o Moto Club, nesta quinta-feira, o volante Cícero pode bater no peito: da alegria que o torcedor sente saudade, ele entende.
Além de já ter vencido a Copa do Brasil, em 2007, pelo Fluminense, Cícero estava presente na última vez que o São Paulo ergueu uma taça: a Copa Sul-Americana em 2012. Nenhum outro atleta do elenco atual tem essa condição. É por essas e outras que ele chegou com moral com o técnico Rogério Ceni e fará, contra o Moto Club, a partir das 21h30 (de Brasília), seu primeiro jogo como titular este ano. Segundo Ceni, isso já era para ter acontecido no último domingo, mas o volante ainda estava abaixo fisicamente. Agora, chegou a hora. E Cícero sabe bem da importância do torneio.
- Se você ganha a Copa do Brasil, já te dá a oportunidade de você ir para a fase de grupos na Libertadores. É um ganho muito grande. O ano começou, e já tem equipes que podem até ficar na pré. Então tem um peso grande. E quando ganhamos em 2007, já fomos para a fase de grupo e dali chegamos numa decisão, que acabamos perdendo nos pênaltis (em 2008, Fluminense perdeu para a LDU). Então até para o planejamento o ganho é muito grande. E é uma competição que o São Paulo nunca foi campeão, assim como a Sul-Americana. E poder colocar essas coisas na história do clube, não tem preço na vida - analisou o volante, em entrevista exclusiva ao LANCE! no hotel onde o São Paulo está concentrado em São Luis.
Cícero diz que voltou agora para dar continuidade ao que fez pelo clube em sua primeira passagem, entre 2011 e 2012. Naquele período, marcou 16 gols, que faz dele o principal artilheiro do grupo atual pelo clube. Além de ter vencido a Sul-Americana, título que, além de Ceni, apenas Rodrigo Caio e Wellington participaram no grupo atual.
- Lógico que a gente precisa de um elenco grande, qualificado, para suprir as ausências, e o São Paulo está procurando reforçar cada vez mais. Claro que nos últimos anos não tem tido bons desempenhos nas competições, mas esse ano vejo como um clube que vem muito forte, então é esse desafio que criei dentro de mim. Falei que estava adaptado no Rio de Janeiro, mas o jogador não pode ficar na zona do conforto. Lógico que a gente não pode cravar que o São Paulo vai ser campeão este ano, não sou vidente. Mas vejo que a probabilidade é muito grande - salientou.
Dos atletas que estão no São Paulo no momento, apenas Douglas e Wesley conquistaram a Copa do Brasil. O zagueiro venceu em 2011, pelo Vasco, enquanto o volante papou duas vezes: em 2010, pelo Santos, e 2012, pelo Palmeiras. Mas Wesley, machucado, não está em São Luis, e Douglas está longe de ter a liderança técnica de Cícero. A bola está com ele.
Confira uma entrevista exclusiva com Cícero:
Como tem sido o recomeço no São Paulo?
Tem sido muito bom, podemos iniciar uma preparação já ganhando alguma coisa. Lembrando que o último título do São Paulo foi em 2012, e eu estive presente também. E agora é uma nova era, um novo ciclo, mas a instituição não muda. Muda o Cícero, hoje muito mais renovado, que tem algo a buscar aqui. A expectativa é muito boa. Claro que por eu ter saído bem antes do término do Brasileiro e ter voltado no meio de uma pré-temporada, requer uma preparação a mais para trilhar esse caminho com êxito. E eu e o Rogério conversamos, ele perguntou quanto tempo, mas tem uma hora que você só pega ritmo jogando. E vamos tentar contribuir.
Como está fisicamente hoje?
Fisicamente, lógico, neste início você vai se readaptando. Não só eu como o elenco todo. Todos os clubes precisam desse ritmo de jogo, porque tem outras equipes menores que treinam desde novembro. Mas é um início que você também tem de ter resultado, porque não dá tempo de esperar muito. Mas com o tempo você vai retomando.
O Rogério disse que você só não foi titular domingo porque ainda está abaixo fisicamente. Como é chegar já nesse patamar?
Você cria no dia a dia, ano a ano, seu desempenho. Tenho 13 anos como profissional e tudo que conquistei na minha vida, coletivamente, e individualmente, tem sido muito bom e isso é sempre meu foco. Melhorar a cada ano. E só vim para o São Paulo também porque meus anos, meu ano passado, foram muito bons. Tem de criar trabalhando, não só com o nome. Então essa confiança, sou muito grato, e quando retornei falei, estou para encarar novos desafios. Individualmente, para mim estava muito bom, mas vi que esse ano o São Paulo vai brigar muito forte por todas as competições.
Que participação tem o Rogério na sua confiança por títulos?
Primeiro que o São Paulo fez muito bem em trazer o Rogério de volta. Todos sabemos o que ele representa para o São Paulo. É um momento que o clube estava meio carente dessas coisas e ele chega num momento que o clube precisava. Sabe que a primeira tentativa do Rogério cemo treinador, mas pelos trabalhos de campo, a gente já vê que ele está bem evoluído, trabalho muito bom. Lógico que agora temos de ter o resultado. Acho que a contribuição dele será muito grande. Se a gente assimilar o que ele tem a passar, vai ser um acréscimo muito grande.
O fato de já ter vencido a Copa do Brasil te dá vantagem?
Lógico que a gente sabe que o Brasileiro se torna um peso maior que é, do que uma Copa do Brasil. Todas competições são difíceis de ganhar, até a Florida Cup. E a Copa do Brasil, se você ganhar ela, já te dá a oportunidade de você ir para a fase de grupos na Libertadores. É um ganho muito grande. O ano começou, e já tem equipes que podem até ficar na pré. Então tem um peso grande. E quando ganhamos em 2007, já fomos para a fase de grupo e dali chegamos numa decisão, que acabamos perdendo nos pênaltis. Então até para o planejamento o ganho é muito grande. E é uma competição que o São Paulo nunca foi campeão, assim como a Sul-Americana. E poder colocar essas coisas na história do clube, não tem preço na vida.
Como jogar essa competição?
Você tira como uma Libertadores. É gol fora de casa, que você tem de ter cuidado, saber jogar. E agora, mudou o regulamento todinho, o mata-mata só vai ser depois da terceira fase, agora é só mata (risos). Mas, a equipe está preparada, estamos cientes do que pode acontecer.
O que sabem do Moto Club, e o que espera desse jogo?
O Rogério ainda vai passar para a gente, na concentração. Não tem como falar muita coisa, porque não vi muito ainda, até por estar de férias, mal começou ano. Mas a comissão técnica sabe lidar com isso aí, com certeza tem material para passar.
Cícero é pior ou melhor do que aquele de 2011?
Boa pergunta. Até falar da minha outra passagem, a minha outra passagem não foi ruim. Tanto que voltei agora. Na minha concepção foi muito boa, porque sou volante, terceiro homem, e sai com 16 gols do clube. Lógico que quando ganhamos a Sul-Americana, não era titular, mas era opção no time. Muitos eram contra minha saída, mas fui seguir minha vida porque tenho família, meus afazeres e tenho de tentar ser feliz em outro lugar. Mas resolvi enfrentar de novo. Não é um Cícero melhor, mas é um Cícero que vem construindo sua vida a cada ano. Não é uma outra passagem, apenas vim dar continuidade o que tinha feito antes.
E o São Paulo está melhor ou pior?
A gente escuta uma coisa ou outra, que já foi melhor, mas vendo com meus próprios olhos vejo que continua um clube muito bem estruturado, um clube que sempre foi hipergrande. Não vi muita coisa diferente, claro que no dia a dia você mais em relação há quatro anos, mas a base de pessoas ainda está junta e eu já conheço.
Em 2013, quando jogava pelo Santos, você disse que não era craque, mas que durante o jogo fazia lances de craque. Ainda faz isso?
O que eu sempre deixo bem claro é que tem gente na rua que me chama de craque pela minha maneira de jogar, eu acho. Não sei se na época eu cheguei a falar algo nesse sentido com você. Essas coisas de craque, eu particularmente, eu tenho que mostrar o futebol dentro de campo. Não gosto de falar isso, porque quem tem de analisar é a imprensa, torcida, vai da opinião de cada um. Não me acho craque, acho que sou bom jogador dentro do meu parâmetro, mas muitos já me chamaram.
Admite que tem de ser um líder do elenco?
Não gosto muito de focar em um líder. Cada um tem que exercer sua liderança e de uma forma diferente. Dentro de sua linha de raciocínio, pode falar, mas tem que juntar com as dos outros para montar um time forte. O líder tem que ser o conjunto. Se todos se ajudam, o São Paulo se sairá melhor.
E protagonista?
O protagonista é criado durante os jogos. Eu sempre frisei o coletivo e é assim que tento jogar. Protagonista aparece com o que o coletivo proporciona. Eu me sinto um jogador coletivo, mas que em algumas partidas apareci como protagonista. É algo que acontece naturalmente e por causa do time.
O que tem achado da comissão técnica gringa do Ceni?
Experiência muito boa, o Rogério confia muito no Michael e ele tem trabalhos e ideias muito interessantes. Filosofia nova e que é boa para ser implantada, ainda mais com quatro anos sem títulos. Espero que a gente conquiste bons frutos. Ele tenta falar em português, mas o charles acaba ajudando mais. E o pessoal sabe administrar bem, ele sabe nos entender. Não sei se é uma vantagem, porque cada um trabalha com uma filosofia, mas... jogo passado fomos melhores em todas estatísticas, mas em qualidade sentimos que poderia ter sido melhor. O resultado é que importa no fim. O que quero dizer é que todos tentam sempre trabalhar da melhor forma, mas que o campo diz mais.
Explique como foi sua saída do Fluminense, já que ficaram dúvidas quanto ao processo.
Olha, vou falar a verdade. Inclusive, queria falar para o torcedor do Fluminense que aquilo não foi uma decisão minha, mas sim do clube. Falaram de parte financeira e eu estava na minha, quero deixar bem claro que não foi uma opção minha, foi deles, apesar do meu bom desempenho. Quando eu vi que tinha o interesse do São Paulo, então, me animei bastante e deixei as coisas acontecerem. Quando vi que as coisas fluíram, fiquei tranquilo porque sabia que o São Paulo viria muito forte neste ano. Estou muito feliz por ter acertado com o São Paulo, porque não imaginava voltar, mas sempre senti que ainda tinha o que contribuir ao clube.