Realizado o sorteio dos duelos das quartas de final da Copa do Brasil, o confronto entre São Paulo e América-MG é um dos mais raros registrados em mata-matas ao longo da história. Na realidade, a dupla só se enfrentou uma vez na história em confrontos eliminatórios. E o duelo foi cercado de polêmicas de bastidores para ambos os lados.
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Nenhuma competição doeu tanto nos corações tricolores quanto a Copa do Brasil de 1996. Era a primeira temporada do clube do Morumbi sem Telê Santana. O substituto era seu antigo auxiliar, ainda iniciante na função: Muricy Ramalho. No Campeonato Paulista, o São Paulo ainda buscava forças para tentar emparelhar o jogo com o rival Palmeiras. Terminaria em segundo lugar, atrás justamente do Alviverde e seu ataque dos 100 gols.
Problemas haviam. Mesmo com Valdir Bigode, principal contratação para o primeiro semestre, marcando seus gols e duas apostas da diretoria rendendo, Serginho e Belletti (ambos trocados por cinco atletas com o Cruzeiro, em uma lista que tinha o ídolo Palhinha), o Tricolor passou todos os seis primeiros meses sem o Morumbi, fechado para a primeira reforma de modernização feita desde a inauguração total do estádio, em 1970 (por conta disso a justificativa era de que o dinheiro dos reforços ia para a compra dos famigerados amortecedores das arquibancadas).
A grana curta fez a diretoria são-paulina da ocasião pedir a Muricy que priorizasse a utilização de atletas cujo passe pertenciam ao clube, mas que estavam emprestados ou encostados. O treinador, que havia comandando o famoso 'Expressinho', time de reservas que chegou a conquistar a Copa Conmebol de 1994, topou a empreitada. E recomendou o retorno ao Tricolor de um volante comprado naquele ano, mas que estava emprestado ao Nacional-AM: Lima.
Muito antes de virar ídolo da Roma, da Itália, Francisco Govinho Lima ficou conhecido nacionalmente pela Copa do Brasil de 1996. Não pelo rendimento em campo. Mas pelo que acarretaria ao São Paulo.
A equipe do Morumbi estreou em uma fase avançada da competição. O adversário seria justamente o América-MG, que passara da primeira ronda após bater o Nacional-AM por 3 a 1 em Manaus.
Os mineiros festejavam o retorno às competições organizadas pela CBF. Isso porque após voltarem à primeira divisão em 1993, em uma temporada mágica que culminou com o fim do jejum de títulos estaduais, os americanos foram vítimas de um regulamento descabido. Naquela temporada, 12 times foram promovidos da Série B realizada um ano antes. Com exceção do Grêmio, todos os restantes foram alojados em grupos com os times remanescentes da edição anterior que não pertenciam ao Clube dos 13 e corriam risco de rebaixamento. Sim, os grandes se livraram da chance de cair à Segundona.
A edição terminou com o Palmeiras campeão. Mas o América fez uma campanha digna, marcando mais pontos ao todo que grandes como Atlético-MG, Botafogo e Vasco. Mesmo assim, acabou rebaixado graças a um dos regulamentos mais confusos da história do Brasileirão.
Alegando 'mérito esportivo', a diretoria do Coelho entrou na Justiça comum para permanecer na elite nacional. Além de perder nos tribunais, sofreu uma sanção inédita da CBF: foi banido por dois anos de competições organizadas pela entidade. Portanto, a Copa do Brasil de 1996 marcava o retorno do clube de Belo Horizonte às disputas interestaduais.
Confrontos fáceis para o Tricolor e eliminação doída
No dia 12 de março, Tricolor e Coelho se enfrentaram no duelo de ida do principal mata-mata nacional. Vitória fácil dos paulistas: 2 a 1, gols do meia Aílton, contratação do ano anterior que vinha se destacando com a camisa do clube.
O duelo de volta aconteceu em 19 de março, no Pacaembu. E o Tricolor foi à forra: goleada por 4 a 1, gols são-paulinos marcados por Sandoval (duas vezes), Almir e Valdir, para um dos menores públicos da história do clube, apenas 313 pagantes.
O São Paulo se classificava para as oitavas de final. O adversário seria o Internacional. Em 2 de abril as equipes jogaram no Beira-Rio e saíram de campo com um empate em 1 a 1. A decisão da vaga seria no Morumbi.
Seria... Entre os escalados por Muricy para o duelo em Porto Alegre (RS) estava Lima. Tudo certo, não fosse o fato do volante já ter atuado na competição na primeira fase pelo Nacional-AM na derrota para o... América. E assim a CBF decidiu pela eliminação sumária do Tricolor da competição, que acabaria vencida pelo Cruzeiro ante o Palmeiras, em pleno Parque Antártica.
- Joguei mesmo pelo Nacional-AM, mas não tinha contrato assinado.
Quando vim para o São Paulo, consultamos a Federação Amazonense, que me liberou para jogar pela Copa do Brasil. Achei que não estava fazendo nada de errado. Em momento algum quis prejudicar o São Paulo. Se fiz isso, peço desculpas. Acho que a maior culpada é a Federação Amazonense - disse Lima na ocasião, à 'Folha de S. Paulo'.
O São Paulo até buscou recorrer, mas o fato só foi julgado pelo STJD (Superior Tribunal de Justiça de Desportiva) após o título cruzeirense. E a decisão da CBF foi mantida por unanimidade. Fim do sonho tricolor de conquistar a Copa do Brasil, único título inédito até hoje no Morumbi.
Em toda a história, América e São Paulo se enfrentaram 18 vezes. Em 11 confrontos, os paulistas saíram vitoriosos; em cinco o jogo terminou empatado; e em apenas dois o Coelho saiu como vencedor - esses, disputados no Independência. O Coelho nunca venceu o Tricolor fora de casa.
Demorou cerca de 46 anos para o América conseguir vencer o São Paulo. O primeiro triunfo alviverde foi conquistado em 2016, pela 33ª rodada do Campeonato Brasileiro. A partida terminou em 1 a 0.
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