Depois de uma boa estreia, um choque de realidade. A derrota do Brasil para a Austrália por 3 a 2, nesta quinta-feira, expôs alguns dos defeitos do time comandado por Vadão. Alguns fatores, como a falta de presença no meio-campo já haviam sido vistos contra a Jamaica, na primeira rodada, mas foram ainda mais evidenciados diante de um adversário com mais qualidade técnica. Além disso, o nervosismo e a carência por lideranças pesaram.
A Austrália teve vantagem na posse de bola no primeiro tempo. O Brasil, por sua vez, mal conseguia criar uma chance através de toques de bola desde a defesa por não passar da pressão exercida pelas adversárias. Apesar disto, a Canarinho se sobressaiu em jogadas de contra-ataque, principalmente no lado esquerdo. Em duas destas, dois gols: no primeiro, de Marta, rápida trama no setor até um pênalti sofrido; no segundo, a conexão entre Tamires, uma das destaques da partida, e Debinha terminou em uma cabeçada de Cristiane, artilheira do Brasil no Mundial.
Apesar do placar controlado, o Brasil não mediu esforços para administrar a vantagem. A Canarinho continuou sucumbindo à pressão exercida pelo lado da Austrália e teve um meio-campo praticamente inoperante. Com Marta marcando pouco, Formiga era obrigada a dobrar e preencher os espaços. Com uma recomposição defensiva fraca - um dos fatores do 4-2-4 colocado por Vadão -, as laterais Letícia e Tamires não tiveram o apoio das jogadoras ofensivas e este foi o mapa da mina para a Austrália, que abusou dos cruzamentos.
Realmente, as bolas aéreas fizeram a diferença para as australianas. Com liberdade pelos lados, perto da grande área, saíram os três gols da equipe comandada por Ante Milicic, que pode não ter feito um grande jogo em termos técnicos, mas foi inteligente para explorar a ineficiência no meio. Com mais posse de bola e finalizações, as "Matildas" chegaram à virada ainda na metade do segundo tempo, com três gols que nasceram de cruzamentos para a área e um desvio na primeira trave do setor.
Vadão até tentou mexer no intervalo, quando ainda estava vencendo por 2 a 1, mas as jogadas que entraram não se justificaram. As escolhas, menos ainda. A decisão foi por reforçar ainda mais o ataque, colocando Ludmilla no lugar de Marta. Teoricamente, seria mais uma opção para aproveitar os contra-ataques; na prática, colocou o Brasil ainda mais espaçado e deu mais campo para o time adversário chegar ao campo ofensivo.
Além disso, perder Marta e Formiga no intervalo e Cristiane ao longo do segundo tempo fez com que o time perdesse a liderança em campo. E o nervosismo pesou. Isso ficou evidenciado nos inúmeros erros defensivos e na instabilidade do setor, além dos vários ataques equivocados, algo que já havia aparecido na estreia.
A dificuldade de se defender diante de equipes que valorizem a posse de bola e pressionem no campo não é novidade, mas Vadão não abriu mão das suas convicções para tentar reverter este cenário. Ainda com chance de classificação para a próxima fase, o Brasil retorna aos gramados na próxima terça-feira, para enfrentar a Itália, às 16h (de Brasília), em Valenciennes.