Da água para o vinho? Veja as diferenças entre os estilos de jogo de Diniz e Tite na Seleção Brasileira

Jogadores têm demonstrado dificuldade para assimilar ideias do novo treinador

Diniz e Tite - Seleção Brasileira
Fernando DIniz e Tite tem estilos de jogo bem diferentes (Fotos: Vitor Silva / CBF; Lucas Figueiredo / CBF)

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Após o empate da Seleção Brasileira diante da Venezuela, uma fala do lateral-direito Danilo chamou a atenção pela comparação entre as diferenças nos estilos de jogo de Fernando Diniz, atual técnico da Amarelinha, e de Tite, o antigo treinador.

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- Temos que ter consciência de sair para um jogo totalmente posicional para um jogo que não é posicional. É água e vinho. É ter tempo, e a gente não tem. Dois dias para executar em campo. É ter paciência. Não é passar o que a gente tinha como base para um estilo de jogo diferente. É encontrar o estilo de jogo do Diniz pouco a pouco - disse, sobre as dificuldades para se adaptar de um estilo para o outro.

Mas afinal, existe diferença entre os estilos de Diniz (clique aqui para ler a análise) e de Tite (leia mais clicando aqui)? O que seria jogo posicional? A seguir, veja as diferenças entre os estilos de jogo dos dois treinadores.

O QUE É JOGO POSICIONAL?
Ao contrário do que o nome pode sugerir, jogo posicional não significa que os jogadores ficam parados no campo, mas que algumas posições pré-determinadas do campo devem ser ocupadas para abrir espaços na defesa adversária. De forma simplificada, a ideia é que a bola 'corra' até o jogador, e não que o jogador vá até a bola.

Isso não quer dizer que as aproximações não aconteçam, pelo contrário. A diferença é que, nesse modelo, o jogador só aproxima da bola quando pode manipular a marcação adversária e criar algum tipo de vantagem para seu time, seja atraindo (chamando a atenção), arrastando (tirando da posição) ou fixando (impedindo de realizar uma cobertura, por exemplo) um marcador. Através destes três conceitos, os espaços são gerados e o time passa a buscar o chamado 'homem livre', que vai enxergar uma posição sem marcador e passar a ocupá-la para receber o passe.

Divisões de campo - ataque posicional
Divisões do campo para ocupação de espaço no ataque posicional (Foto: Reprodução)
Ataque posicional
Exemplo de time distribuído no ataque posicional (Foto: Reprodução)


Na Seleção Brasileira, Tite implantou o ataque posicional após a Copa de 2018. A leitura do treinador era que essa seria a melhor forma de encarar defesas muito fechadas, especialmente aquelas formadas com linha de cinco defensores, uma tendência mundial.

Para tal, o técnico prendia os dois laterais na linha dos zagueiros ou meio-campistas, para ajudar na construção dos ataques, e alargava o campo com dois pontas, um de cada lado. Além disso, posicionava três atacantes por dentro, nas costas dos volantes adversários, formando uma linha de cinco. O sistema tático era muito claro: 3-2-5 ou 2-3-5, a depender do contexto da partida.

Ataque posicional – Tite (1)
Danilo se posicionava como volante e Militão era terceiro zagueiro no 3-2-5 de Tite (Foto: Reprodução)


A lógica do ataque posicional é ter controle da partida não apenas quando o time tem a posse da bola, mas também no momento de defender os contra-ataques do adversário, já que uma equipe distrubuída de forma racional em campo consegue se reorganizar na defesa com maior agilidade. Uma proposta bem diferente de Diniz, que abraça o caos e joga com ele 'a seu favor'.

O QUE SERIA O JOGO 'APOSICIONAL'?
Em setembro de 2022, durante entrevista ao 'Sportv', Fernando Diniz definiu seu estilo de jogo como aposicional. Como a própria palavra indica, seus jogadores não tem posições fixas e nem mesmo o time tem um sistema tático identificável. A proposta é que os atletas tenham liberdade para trocar de posição e se aglomerar ao redor da bola, para trocar passes curtos e levar a jogada de um lado ao outro do campo.

Como é de se prever, um time que não tem posições fixas é mais suscetível aos contra-ataques do adversário, a grande deficiência do estilo de jogo de Diniz, e algo que pode ser visto desde o seu início de carreira, em equipes do interior de São Paulo.

Fluminense x River Plate - Análise estilo de jogo Diniz
No Fluminense, as ideias de Diniz são observadas com mais clareza: jogadores eglomerados na bola e liberdade de movimentação (Foto: Reprodução)


Mas qual a vantagem de utilizar um sistema 'bagunçado', como esse aposicional de Diniz? A ideia é que os jogadores criem soluções para abrir a defesa adversária através da sua qualidade individual, seja com um drible, um passe inesperado ou uma movimentação de improviso, baseada na leitura de momento do atleta.

Ao contrário do jogo posicional, que é 'planejado', o jogo 'aposicional' potencializa o caos de uma partida e deixa nas mãos - ou pés - do jogador o desenrolar de cada lance. Vem daí a admiração de Diniz por jogadores como Ganso (no Fluminense) e Neymar (na Seleção), capazes de mudar o jogo com um toque na bola.

Seleção Brasileira – Fernando Diniz (1)
Com Diniz, a Seleção Brasileira não tem uma formação definida para atacar (Foto: Reprodução)
Seleção Brasileira – Fernando Diniz (2)
Como não há posição fixa no estilo de Diniz, jogadores ficam 'mal distribuídos' em campo (Foto: Reprodução)


Não à toa, este estilo de jogo virou tema para um artigo publicado em março no 'New York Times', no qual foi considerado uma tendência para os próximos anos. Vale lembrar, no entanto, que o estilo do técnico de Diniz não é exatamente uma novidade, já que sua intenção é resgatar aquilo que sempre foi praticado no Brasil por técnicos como Zagallo, Telê Santana e Vanderlei Luxemburgo.

Mudanças drásticas entre modelos de jogo nunca são de fácil assimilação, mas no caso da troca de Tite por Diniz, um fator dificulta ainda mais a adaptação dos atletas: o estilo posicional é dominante na Europa, onde atua a maior parte dos jogadores da Seleção. Com poucas 'janelas' de treinanento, a expectativa é por quanto tempo será necessário para que os jogadores entendam a nova forma de jogar do Brasil.

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