Gabriel Jesus lida na Seleção com velhos desafios. Agora será ‘tetinha’?
Pressão de si mesmo, negociação, mudança de posição... Nada disto é novo para o atacante. Contra Honduras, ele tenta fazer valer antigo bordão que lhe rendeu apelido
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Seleção, Olimpíada em casal, fama. É tudo novo para Gabriel Jesus. Pressão, cobrança (principalmente de si mesmo), negociação para trocar de clube, mudança de posição. É tudo velho também. Aos 19 anos, o atacante da Seleção enfrenta desafios já conhecidos, mas em proporções muito maiores. A recompensa também pode ser de tamanho enorme. Nesta quarta-feira, ele e o Brasil darão o penúltimo passo em busca do inédito ouro, às 13h, contra Honduras, no Maracanã.
Quem conhece o prodígio jogador, não se espantou com o abatimento depois dos dois primeiros jogos – e tropeços – na Rio-2016.
– Ele não aceita perder, tem que ganhar sempre, até no par ou ímpar. Não é que o Gabriel se abateu, a pressão ele tira de letra, Quando ele era garoto, eu via até pela covinha dele tremer quando estava nervoso. Não é o caso de agora – comenta José Francisco Mamede, técnico de Jesus dos 8 aos 14 anos no Pequeninos do Meio Ambiente, clube de futebol amador da zona norte de São Paulo.
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Escalado centralizado no início da Olimpíada, o atacante foi deslocado para a ponta esquerda, processo inverso ao que passou no Palmeiras, onde vinha sendo escalado por Cuca como referência na frente. Técnicos que já trabalharam com o camisa 11 do Brasil divergem sobre onde ele rende mais, embora o próprio Gabriel Jesus diz que se sente melhor atuando pelo lado do campo.
– Na base ele fazia essa mesma função de agora, até utilizávamos o 4-2-4 em alguns momentos, como o Micale faz. Ele rende muito mais atuando solto, com liberdade para levar a bola para o meio – opina Bruno Petri, que comandou Jesus por dois anos e meio na base do Palmeiras.
Se há algumas semanas a negociação com o Manchester City (ING) era apontada por muitos como um dos motivos para Jesus não estar rendendo o que podia, em 2014 foi o São Paulo que mexeu com a cabeça dele ao tentar contratá-lo.
Naquela época o garoto sentiu, mas logo depois se recuperou e acabou o Paulista Sub-17 como artilheiro com 37 gols em 22 jogos.
Um dos segredos foi sempre encarar os desafios com otimismo.
"Ele achava todos os jogos fáceis. “O time deles é muito fraco”, dizia. Por isso ganhou o apelido de Tetinha. Para o Gabriel, todos os jogos eram uma 'teta'"
– Ele achava todos os jogos fáceis. “O time deles é muito fraco”, dizia. Por isso ganhou o apelido de Tetinha. Para o Gabriel, todos os jogos eram uma “teta” – conta Mamede.
É hora, então, de voltar às origens e, assim como fez até agora, superar os desafios. Que Honduras seja só uma “tetinha” para Jesus e a Seleção!
- Com a palavra: José Francisco Mamede, técnico de Jesus dos 8 aos 14 anos:
Se cobra muito do Gabriel Jesus, mas a gente tem que pensar que ele só tem 19 anos. Ainda vai amadurecer muito, é como um vinho, que melhora com o passar dos anos. Vejo ele com uma estrela muito grande, acredito que ficará pouco tempo no Manchester City e logo estará em um Barcelona, um clube “top”, ainda maior.
Quando garoto, ele ficava nervoso quando perdia, mas não sentia a pressão. Sempre foi uma pessoa positiva, nunca faltou em treino do Pequeninos do Meio Ambiente, nunca fez corpo mole, era um exemplo. O Gabriel levava muito pontapé e ficava bravo, até revidava e era expulso. Mas acho que quanto mais pressão, melhor para ele.
Para mim, ele tem que ser camisa 9, fazer gol e guardar a explosão para fazer gol, não ficar marcando lateral. Pode até jogar aberto, mas perto do gol.
Com a palavra: Bruno Petri, ex-treinador de Jesus na base do Palmeiras
Tudo é muito novo para o Gabriel, tudo tem acontecido muito rápido. Disputar Olimpíada com essa pressão e a necessidade, quase obrigação do ouro, é novo, por isso ele sente. Às vezes acham que ele está nervoso, mas não é, estamos falando de um jogador de 1997, que poderia estar jogando uma Copa São Paulo.
O Oswaldo de Oliveira foi o primeiro técnico que me procurou para conhecer melhor o Gabriel, saber como utilizá-lo... Na base eu tenho que produzir o que o jogador tem de melhor, não colocar ele para jogar como eu quero. Eu não usava ele fixo, centralizado, ele ficava mais solto, não tínhamos centroavante de área. Eram dois atacantes, um era ele, e o outro, o Fabinho, um atacante que está indo para a segunda divisão da Itália agora. Ele tinha liberdade de girar no setor ofensivo, aberto ou aparecendo pelo meio. Não acho que ele funciona bem centralizado, só estava fazendo gols no Brasileiro porque pegava defesas lentas... Mas é melhor jogando aberto.
"Acho que ele está sentindo um pouco da pressão, isso é nítido, vejo no rosto dele"
Acho que ele está sentindo um pouco da pressão, sim, isso é nítido, vejo no rosto dele, está querendo fazer muito, e as coisas não estão acontecendo. Temos de entender que é natural pela idade.
Até pela personalidade do Jesus, ele talvez se solte mais agora, depois de alguns jogos. O Gabigol, por exemplo, já é um cara com uma característica e uma personalidade diferente, é ousado e tal. O Gabriel já é um menino mais humilde, respeitador, tímido. Na última partida ele se soltou mais.
Sobre a transferência, acho que isso não está afetando-o. É diferente de 2014, quando tivemos o caso que o São Paulo queria levá-lo, fez uma pressão forte, houve negociação de contrato e o Gabriel se perdeu. Ele ficou envolvido nisso, começou a perder gol, errar, coisas que ele faria normalmente. A gente tinha um psicólogo que fazia um trabalho bom e eu também chamei ele num canto: "Não tá acontecendo nada, professor", ele me disse. Eu falei para ele que estava caindo de rendimento, e ele admitiu que estava pensando em muitas coisas, melhorar a vida da família... Dei conselhos, falei para ele se focar. Logo na primeira semana ele ainda não foi o mesmo, mas depois se focou. Agora o Gabriel está blindado, com pessoas que cuidam da carreira dele.
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