A judoca Rafaela Silva, medalha de ouro na última segunda-feira, e o ginasta Diego Hypólito servem de exemplo para a Seleção Brasileira de futebol, segundo o técnico Rogério Micale. Não apenas por conta de seu bom desempenho na Olimpíada, mas como demonstração de que é preciso tempo e paciência para dar a volta por cima. Ambos fracassaram em Jogos passados e se reabilitaram na Rio-2016.
Em entrevista coletiva nesta terça-feira, véspera do jogo decisivo contra a Dinamarca, em Salvador, Micale criticou o que chamou de imediatismo nas críticas à equipe e mostrou preocupação com os efeitos que a pressão pode ter nesta geração de jogadores que está disputando a Olimpíada.
- Vi o relato da Rafaela, do Diego Hypólito, isso nos contamina de entusiasmo. Em duas ou três Olimpíadas eles não conseguiram executar o que queriam e agora fizeram apresentações que nos enchem de orgulho. Se não tivermos essa tranquilidade com nossos jovens do futebol, a situação ficará cada vez mais desconfortável e pior - analisou.
O treinador também falou em realizar um debate mais aprofundado sobre os problemas do futebol brasileiro, que voltou a ser alvo de contestações depois dos empates com África do Sul e Iraque.
- Enquanto nós ficamos preocupados com tarja de capitão, comportamentos pessoais, situações internas de relacionamento e não abrirmos discussão para entender o que está acontecendo no nosso futebol, seja tático ou comportamental, vamos continuar na mesmice. Queremos achar cabeças, culpados [...] A gente tem que parar de achar vilões, cortar cabeças. Já fizemos isso na Olimpíada passada com o Rafael, um rapaz com grande potencial, também com o Bernard na Copa do Mundo. Sempre vamos buscar vilões e muitas vezes estancamos um potencial de avanço. A Alemanha demorou 12 anos para chegar onde chegou, nós queremos levar seis meses. O que temos é que fazer reflexão. Sou um treinador que chegou ontem, como dizem, mas simplesmente me preparei para esse momento, para o campo, para lidar com os jogadores, e muitas vezes fico preocupado com nosso futuro, como as coisas mudam em 10 dias, com resultados que não foram nem derrotas. A gente quer dar uma resposta, mas não vamos avançar sem uma reflexão de como melhorar isso. Estamos lidando com jovens, se a gente continuar matando talentos, cortando cabeças, vamos seguir colhendo as mesmas coisas - opinou.
O comandante brasileiro disse confiar em uma vitória na partida desta quarta-feira, indicou que fará mudanças na equipe e não quis revelar o substituto de Thiago Maia, suspenso.
Antes de encerrar a entrevista coletiva, ele fez um apelo aos seus conterrâneos da Bahia:
- Como estou em Salvador e vou fazer o jogo mais importante da minha carreira até aqui, gostaria que meu povo abraçasse a Seleção e demonstrasse a felicidade que tem. Tenho orgulho de ser baiano, apesar do pouco tempo que vivi aqui. Gostaria que o povo nos abraçasse e iniciássemos aqui a busca por um sonho que não é do Rogério, é de todo o povo brasileiro!