Não é só futebol. Para Rogério Micale, treinador da Seleção olímpica, a equipe pode orgulhar o Brasil nos Jogos do Rio de Janeiro e dar uma resposta ao povo "maior que a medalha". Em entrevista coletiva na manhã desta sexta-feira, ele chegou a se emocionar ao falar sobre o momento difícil enfrentado pelo país e prometeu entrega e luta de seus comandados.
Com os olhos marejados, o comandante canarinho afirmou:
- Acredito muito no ser humano, quando olhamos no olho de outra pessoa e sabemos que ali existe uma pessoa de caráter. Existe uma ansiedade muito grande aqui por uma medalha de ouro, um metal que vamos colocar no peito e representa algo muito grande para nossa história, mas mais que isso, o futebol pode falar de outras coisas - destacou, antes de se aprofundar no assunto:
- Num momento em que nosso país vive tantas coisas, uma situação que a gente vê um povo que sofre tanto, nós que temos essa oportunidade de fazer nosso trabalho em uma competição com tantas atenções, podemos falar algo a nosso povo sem palavras, com nosso trabalho, com os pés. Podemos dizer ao nosso povo que existem homens comprometidos, sensíveis ao que está acontecendo a mudanças políticas, com repúdio à corrupção. Nossa contribuição é de entrega total, de se comprometer com algo que representa mais do que a medalha de ouro, a entrega de jogadores e comissão técnica. Serão 18 que trabalharão ao máximo, não prometemos a medalha, mas muita luta, dedicação, honestidade, olho no olho, com abraço, a gente pode sim demonstrar afetividade, que nos preocupamos com algo maior, com nosso povo. A única forma que temos de representar isso é jogando futebol, de uma forma que represente nossa característica, com entrega total, sem individualidades, sem olhar só para o próprio umbigo... Se isso vier, será maior que só a medalha - completou.
Micale não disse se a equipe está pronta para o ouro, mas reforçou toda a dedicação na preparação para a Rio-2016 e prometeu muita dedicação. Ele ainda elogiou o técnico da Seleção principal, Tite, e o antecessor, Dunga.
- Confira abaixo os principais trechos da entrevista coletiva de Rogério Micale:
O QUE ESPERAR DA SELEÇÃO?
Vamos tentar colocar em prática o que fizemos nos treinamentos, os conceitos, forma de jogar... Mas mais do que isso vamos tentar passar a vontade que a Seleção tem de jogar futebol e ganhar essa medalha. O espírito de entrega, a coletividade... Queremos mostrar que estamos sensíveis ao clamor por uma Seleção que luta, briga e compete a todo momento. Minha expectativa é em cima disso, tenho certeza que os jogadores estão preparados e vão dar a resposta neste jogo.
SELEÇÃO PRONTA?
Nós estamos prontos como homens, seres humanos que têm sentimentos, que vão se entregar de corpo e alma. No futebol não existe pronto nunca, sempre tem algo a agregar. O que posso falar é de espírito, alma, sentimento, saber o que nós queremos. Nesse sentido sabemos o que nós queremos. Se a medalha virá, não dá para saber, é um jogo de futebol, mas estaremos entregues à essa causa.
TITE E DUNGA
Em relação ao Tite, ele é dessas pessoas que a gente acabou de citar, do relacionamento humano, que você olha no olho e vê que é do bem. Temos coisas em comum, queremos o melhor para o futebol brasileiro e estamos trabalhando intensamente para isso. Assim como o Dunga, uma pessoa que respeito muito, que como atleta conseguiu um grande título para o Brasil e merece nosso respeito. Ele teve um momento muito difícil na carreira e conseguiu a volta por cima, nos traz um exemplo. Gostaria de prestar essas duas reverências, ao professor Tite que está entrando, todos sabem da competência que tem, e ao professor Dunga, por tudo que nos deixou. Se hoje temos cinco estrelas, ele participou efetivamente de uma delas.
APRENDIZADO E ESTILO DE JOGO
A busca de conhecimento é constante, o futebol requer a busca incessante por estar vendo o que está acontecendo para estar atualizado. Sistemas mudam quando aparece uma equipe de qualidade no mundo, aí você vai buscar entender o por quê dessa equipe estar tendo êxitos. Isso é uma coisa que nós, brasileiros, temos de tomar cuidado, não querer copiar 100% o que acontece no mundo, mas foge das nossas características. Foi assim quando a Itália foi campeã do mundo, quando a Espanha foi campeã e na última Copa (2010), com a Alemanha. Fizemos uma reflexão, vimos o modelo da Alemanha, que é muito competente, mas tenho dizer que tenho orgulho do futebol brasileiro, dos nossos jogadores, eles têm uma qualidade no último terço que o mundo admira. Por que não adequarmos isso a um modelo de jogo a uma intensidade que é mundial? Eu não criei nada, só peguei algo que é bom em algum lugar e tento colocar no meu trabalho. Temos de explorar a qualidade nos nossos jogadores do último terço. Não sei se vamos ter sucesso, mas tem de ter convicção no trabalho.
JAPÃO
Espero uma equipe extremamente competitiva, que vai se doar o tempo todo para fazer o jogo, com característica de marcação forte, com linhas compactas, sempre juntos nos setores do campo. Espero um jogo duro, difícil, por todo o histórico que o time japonês tem.
FORMA DE JOGAR DO BRASIL
Nosso foco maior foi na nossa equipe, em termo de conceitos, de propor algo claro para se jogar, nossa maneira, tentar deixar nossos jogadores à vontade, respeitando as características deles... Não estou dizendo que seremos uma equipe engessada, acredito no futebol como um sistema vivo.