Entre a empolgação e a cautela, o técnico Rogério Micale celebrou a atuação da Seleção Brasileira na goleada por 6 a 0 sobre a Honduras e a classificação para a final da Olimpíada. Para ele, o Brasil cresceu no momento certo na competição e chega forte para a decisão.
Ao ser questionado sobre a avaliação que faz da trajetória da equipe no torneio, ele disse:
- Uma campanha boa, na qual chegamos na reta final demonstrando bom futebol que a gente ambicionava ter, um futebol com a nossa essência, nossa característica, um futebol bonito e bem jogado. Sabemos que só isso hoje não é suficiente. A equipe encorporou bem a questão do lutar em campo, pressionar o adversário, se doar o tempo todo para recuperara a posse de bola. E fomos premiados com um gol hoje no início pela luta do Ney, que já vinha fazendo isso - declarou.
- Chegamos fortes nessa reta final. Cada jogo tem sua história, teremos que fazer outra nessa final, é outro jogo. Mas chegamos fortes por tudo que aconteceu no início e no desenrolar da competição. Crescemos muito e num momento importante - completou o comandante canarinho.
Micale também rasgou elogios a Neymar, autor do primeiro e do último gol brasileiro. Ele falou até em estudar o atacante:
- Ele é um monstro! Neymar é um cara que tem um dom de jogar futebol, que encanta. Ele tem um talento, desenvolveu... ambientes externos influenciam alguns jogadores de potencial, e a gente quer até entender como se desenvolveu o dele, para podermos garimpar mais jogadores. Ele tem o dom de jogar futebol. Vamos continuar procurando entender, confesso que é complexo, não é ciência exata.
- Confira abaixo os principais trechos da entrevista coletiva de Micale:
GOL NO INÍCIO
Isso nos ajudou muito. Em um jogo que sabíamos que seria truncado, com o adversário com a primeira linha com cinco homens, a segunda com quatro... Isso nos deu muita tranquilidade para conduzir o jogo. Para nós, esse gol inicial foi espetacular.
PRESSÃO PELO OURO E VALORIZAÇÃO DA PRATA
Vamos tratar dessa situação como até então temos feito. Sabemos dessa pressão desde o início, o que nos interessa culturalmente é a medalha de ouro, por não tê-la conquistado ainda. Mas o pensamento é: vamos trabalhar da mesma forma que temos feito desde o início. Não faltará luta, entrega, vamos buscar desde o início, faremos o melhor que podemos, todos transpirando... Nosso futebol é de qualidade, mas também de transpiração. Estamos jogando juntos, como grupo. É um motivo que nos leva a ter a esperança de que podemos conquistar esse grande sonho. Mas não vamos mudar nada em relação a perspectiva. Vamos dar nosso máximo para conquistar o ouro.
NEYMAR
O Neymar que está feliz, o grupo o abraçou. Até semana passada ele estava vivendo com muitas cobranças. Nós temos que respeitar, queremos ter esse jogador a nosso lado, ele é acima da média.
PENSOU EM POUPAR O CAMISA 10?
Em algum momento senti a tentação, sim (risos). Mas o Neymar tem a recuperação física muito rápida, 24 horas depois da partida se recupera acima da média. Com 48h, ele praticamente "zera". Neste momento ele precisa mais do ritmo do que do descanso. Ele já começou a entrar no ritmo normal dele. A preocupação específica com o Neymar não é a recuperação, mas com ritmo de jogo.
RESPOSTA A QUEM USAVA O TIME FEMININO COMO EXEMPLO
Não, de forma alguma. Torcemos muito por elas, estivemos junto na concentração reunidos vendo o jogo. Confesso que fiquei emocionado quando houve a perda do pênalti, pois sabemos a luta que é dessas meninas, do Vadão... Gostaríamos que eles estivessem na final saboreando isso. Sobre a imprensa, ela está aprendendo junto com a gente, que no futebol as coisas não podem mudar de uma semana para outra, faz parte de uma quebra de paradigma que começa com nós, profissionais que fazem futebol, e passa pelos profissionais que dão as notícias. Algumas situações são boas para refletirmos. Cobramos mudança de postura de vários setores, mas temos que refletir cada um dentro do seu setor, para saber se estamos fazendo nosso papel para o futebol evoluir. As coisas mudam muito rápido, podemos perder a final e voltar a ter chumbo grosso. Quando me perguntaram se a medalha de ouro poderia mudar tudo e eu disse que não, é justamente por isso. Não é uma medalha que muda nada, são mudanças de postura, quebras de paradigmas. Esse momento é bom para refletirmos. Temos dois craques, Marta e Neymar, e trabalhamos juntos na mesma Seleção.