Perigoso reencontro… Brasil tenta espantar fantasma de ‘algoz’ recente
Seleção Brasileira enfrentará o Peru em panorama semelhante ao que encontrou no jogo que custou sua eliminação precoce e polêmica na Copa América Centenário, em 2016<br>
A luta para que o sonho da Copa América não escorra entre os dedos fará a Seleção Brasileira se reencontrar com um adversário que traz lembranças recentes para lá de indigestas. Há três anos, a equipe canarinha via a vaga à próxima fase ficar nas mãos da seleção do Peru (literalmente).
No duelo de 12 de junho de 2016, pela Copa América Centenário, Ruidíaz usou o braço e estufou a rede para os peruanos. Algumas coisas mudaram de lá para cá. A atual edição conta com o auxílio do VAR. já o árbitro uruguaio Andrés Cunha conversou com o auxiliar e quarto árbitro e, após quatro minutos de espera, equivocadamente, validou o gol que eliminou o Brasil comandado por Dunga.
Entretanto, três anos depois, o panorama do duelo traz semelhanças para o Brasil (a começar por ter uma vitória e um empate). Também em seu segundo ciclo, Tite não desfruta da unanimidade que outrora já tinha. A pressão se acentuará caso a Seleção quebre a tradição de vencer o torneio como anfitriã.
Tite ainda traz entre seus titulares remanescentes da eliminação vexatória. São nove, sendo quatro que começaram aquela partida: Alisson, Daniel Alves, Filipe Luís e Philippe Coutinho (veja abaixo a lista dos remanescentes).
Quatro atletas que atuaram naquele jogo seguem como titulares com Tite
A atual Seleção Brasileira se depara ainda com o mesmo obstáculo interno de 2016: mostrar que pode ir além de Neymar. À época, o Barcelona anunciou que liberaria o camisa 10 apenas para a Rio-2016. Desta vez, o jogador de 27 anos foi cortado devido a uma lesão.
O técnico ainda lidará com outro desafio. Mantido após a eliminação no Mundial-2018, Ricardo Gareca trouxe para a Copa América muitos dos jogadores que atuaram na vitória por 1 a 0. Além de Ruidíaz seguir como alternativa, nomes como Gallese, Trauco, Yotún, Tapia, Cueva, Andy Polo, Flores e Guerrero continuam na seleção peruana.
A luta da Seleção Brasileira para reencontrar-se com seu futebol passa por virar a página definitivamente de um fantasma. Cabe aos comandados de Tite saberem em campo contar uma nova história.
REMANESCENTES DA COPA AMÉRICA CENTENÁRIO DE 2016
ALISSON
Titular absoluto de Tite, o goleiro era questionado na meta da Seleção Brasileira no torneio. Ele vinha de uma falha clamorosa contra o Equador, mas foi "salvo" pela arbitragem que, equivocadamente, anulou o gol e garantiu o empate em 0 a 0.
DANIEL ALVES
Capitão do Brasil nesta edição, já era titular sob o comando de Dunga. Vinha tendo desempenho bom, mas não evitou que Ruidíaz surgisse na área e desviasse com a mão para estufar a rede.
FILIPE LUÍS
Assim como na atual convocação, estava "bancado" pelo treinador. Tinha bons momentos ofensivamente, mas, no segundo tempo, deu brecha para Andy Polo avançar como quis pela direita, chegar à linha de fundo e cruzar até Ruidíaz concluir.
PHILIPPE COUTINHO
Esperança de qualidade da equipe comandada por Tite, o meia teve um início promissor na partida realizada em Boston. Contudo, aos poucos foi caindo de produção.
MIRANDA
Atualmente opção de Tite, o defensor era titular no duelo contra o Peru em 2016. Ele também se deixou envolver pela marcação e abriu caminho para a jogada decisiva da vitória peruana.
CASEMIRO
Assim como no ciclo de Tite, era titular absoluto em 2016. No entanto, estava cumprindo suspensão diante do Peru.
WILLIAN
Escolhido para ser o substituto de Neymar na atual edição da Copa América, foi outro jogador designado como titular da partida contra o Peru na edição de 2016. Também teve atuação oscilante.
EDERSON
O goleiro não entrou em campo nos três jogos da Seleção em 2016. Hoje, segue como alternativa a Alisson.
MARQUINHOS
O zagueiro do PSG, que estava entre os convocados de Dunga por ser um dos jogadores com idade olímpica, atualmente é titular de Tite.
ELIMINAÇÃO CAUSOU MUDANÇAS NA SELEÇÃO
A frase “se perder, sou demitido”, proferida por Tite ao falar sobre a disputa da Copa América, tem amparo especialmente pelos desdobramentos na Seleção Brasileira após a eliminação em 2016. Dias após a derrota por 1 a 0 para o Peru, a CBF oficializou a demissão de Dunga do cargo de treinador.
Gilmar Rinaldi também foi afastado do cargo de diretor de seleções da CBF.
À época em seu segundo ciclo (já comandara os canarinhos no Mundial de 2010), Dunga vinha de resultados pouco expressivos em sua nova chance.
Além de a derrota para os peruanos render à Seleção uma incomum eliminação na primeira fase (feito que não ocorria desde a edição de 1987), as Eliminatórias para a Copa do Mundo não traziam um início muito animador para a equipe.
Sob o comando de Dunga, o Brasil também amargava a sexta colocação na busca pela vaga do Mundial-2018.
Após a chegada de Tite, a Seleção engatou uma sequência de vitórias. O fato de garantir a classificação antecipada credenciou o técnico a seguir no cargo após a Copa.
NO PERU, OTIMISMO É POR 'REPETIÇÃO DE HISTÓRIA'
As lembranças da noite daquele 12 de junho de 2016 também contribuem para contagiar os jogadores do Peru às vésperas do reencontro com a Seleção Brasileira. Um dos jogadores que atuaram na Copa América Centenário, Yoshimar Yotún contou suas lembranças sobre o duelo vencido por 1 a 0:
– Eu me lembro da partida contra o Brasil que eu entrei. Foi uma partida boa. Espero ter mais oportunidade e que a partida termine como nos Estados Unidos. Vamos tratar de fazer o que sabemos, de gerar, trabalhar com nossas forças e fazer um bom jogo contra o Brasil.
'Encontramos um gol meio polêmico, mas nos deu a classificação', lembra Yotún
Na partida, Yotún foi lançado por Ricardo Gareca no lugar de Balbín. A equipe, que já havia subido de produção na partida, chegou ao gol logo depois, de maneira irregular.
Questionado sobre a possibilidade de a Seleção Brasileira ver o jogo com ares de “revanche” devido à polêmica, Yotún afirmou:
– Não sei, creio que sim, se fosse ao contrário obviamente teria isso de ter perdido com um gol como todos sabem – e, em seguida, valorizou o desempenho peruano:
– Neste jogo fomos muito bem, defendemos bem. E, nas ocasiões que tivemos, tratamos de terminá-las, o que temos que fazer. Encontramos com um gol meio polêmico, mas nos deu a classificação.
Além disto, mostrou expectativa sobre o duelo:
– É sempre lindo enfrentar uma seleção de alto nível, espero que as coisas nos saiam favoráveis e que a gente siga avançando.
O NASCIMENTO DE UMA NOVA SAFRA
COM A PALAVRA
‘Aquela vitória mudou rumo da seleção peruana’
JOSÉ LUIS SALDAÑA
Repórter do Depor (PER)
Por mais que tenha chamado atenção o tema do gol de mão do Ruidíaz, aquela vitória do Peru sobre o Brasil foi muito importante para dar um rumo definitivo à seleção.
Graças ao desempenho na Copa América, o técnico Ricardo Gareca abriu espaço para firmar uma geração. Nomes como Edison Flores, Andy Polo e Trauco se firmaram de vez. Tanto que, após um início ruim nas Eliminatórias, os peruanos consolidaram seu retorno ao Mundial.
O atual grupo vem ainda melhor. Não só pela motivação da vitória sobre a Bolívia. A equipe está há quatro anos com Gareca. Conseguiu maior ordem tática e conta com o poderio ofensivo de Farfán, Cueva e Guerrero em alta.
Os peruanos darão trabalho à Seleção Brasileira. A esperança é de um jogo acirrado.