Tite vê Seleção Brasileira no auge para Copa do Mundo, mas alerta: ‘Com problema médico, tá fora’
Ao LANCE!, treinador do Brasil admite ansiedade por Mundial do Qatar e revela que parte física será decisiva para definir convocação
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A menos de um mês para anunciar a lista definitiva para a Copa do Mundo, Tite perde o sono pensando na convocação dos 26 nomes que vão representar a Seleção Brasileira no Qatar. O treinador vê em leves corridas na praia e na natação uma forma de tentar relaxar perto do momento mais importante do ciclo de quatro anos.
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De qualquer forma, trabalho é trabalho. Tite tem uma dura missão nas mãos, tendo que fazer um corte significativo em uma das gerações mais promissoras dos últimos anos da Seleção. Em entrevista exclusiva ao LANCE!, o comandante foi enfático: a parte física é colocada como uma das prioridades.
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- Não vi um jogador de alto nível que chegou onde nós chegamos que não goste de vencer. Isso é balela. A pergunta que se impõe é outra: tu gosta de se preparar? Esse processo de pouco tempo é de preparação e antecipação, são seis meses de atenção total com uma equipe toda de trabalho... Física, fisiologia, médica, técnica, só não entro na parte tática porque não tenho o direito ético, cada um exerce uma função em cada um dos seus clubes, por mais que seja parecido na Seleção, às vezes fazemos ajustes. Temos feito um acompanhamento, um approach pessoal para que essa situação toda possa ser antecipada. Não há tempo de recuperação física, não há tempo de recuperação médica. Se estiver com problemas físicos ou médicos, está fora (da convocação), infelizmente está fora. Não há tempo igual aquele outro momento (em 2018) de 27 dias de recuperação e retomada, essa tem característica diferente - afirmou.
Como a Copa do Mundo do Qatar será no fim do ano, a preparação é diferente: a Seleção ficará no CT da Juventus, em Turim, na Itália, para um período de preparação entre 14 e 19 de novembro - a estreia será no dia 24, contra a Sérvia. Menos de duas semanas de intervalo.
- O que nos favorece? O fato de estarmos quatro anos juntos. O modelo, a forma... Hoje o Paquetá sabe a função que vai exercer se for externo, ele é um armador de criação e não profundidade, se for segundo meio-campista ele também já sabe. Ele já trabalhou, já exercitou, já jogou com Casemiro, Fred, Neymar... O tempo e o processo de quatro anos favoreceram nesse item de menos treinos, mas mais ajustes - completou Tite.
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Após a eliminação na Rússia para a Bélgica, Tite considera que o Brasil chega para o Qatar no auge físico, técnico e mental.
- A gente aprende com derrota e com vitória. A competência, por vezes, te dá lições nos dois. Há o jogo do resultado e o jogo do desempenho. O jogo do desempenho se controla. O que eu trouxe da Copa anterior é que foi uma fase de recuperação da Seleção. Foi pouco tempo para acertar muita coisa, quase tudo, para ter sucesso. Foi conseguido em partes, numa classificação com grande desempenho. Estávamos num momento de crescimento na Copa do Mundo, no nosso melhor jogo, e saímos. Saímos pela qualidade do outro lado também. Agora vamos de um ciclo inteiro. São quatro anos com 79 atletas oportunizados, sistemas diferentes, construções diferentes, variações, número de atletas… Tudo isso traz um legado e um aprendizado para chegar num momento de crescimento no seu melhor momento na Copa. Isso quer dizer que vamos ganhar? Não sei. Mas quer dizer que na preparação, pós-2018 até agora, é o seu melhor momento. Ela tem resultados expressivos, que são os melhores da história na Seleção Brasileira, solidez defensiva e uma geração mais jovem, talentosa, que faz o técnico quebrar a cabeça para convocar tantos talentos que têm surgido, principalmente externos, pontas, que agregaram à equipe o que faltava de criatividade e ofensividade - analisou.
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EXISTE ANSIEDADE PELO HEXA?
- A gente elabora internamente. Eu também não posso carregar uma história toda de outras gerações que construíram um legado importante. Temos que focar no momento, temos que potencializar essa geração que vem surgindo e estabelecer uma relação humana de confiança. Para mim, essa é a premissa básica. Num período de quatro anos, somados aos outros dois (2016 até 2018), te dá uma relação de confiança. Quando uma relação de confiança se estabelece dentro de um ambiente de trabalho, é o primeiro passo para o desempenho em alto nível.
LATERAL PREOCUPA? E O EXCESSO DE PONTAS?
- Equilíbrio. Eu vejo toda equipe que for equilibrada está muito mais próxima do objetivo. É um processo evolutivo de fazer com que as atribuições de um zagueiro hoje seja a construção. De 2012 a 2020 foi feito um estudo das compactações das equipes e número de passes na Liga Espanhola. Os jogadores que aumentaram em 30% o número de ações de passes são zagueiros. Dar espaço para que eles possam dar passes e lançamentos também leva vantagem nesse processo construtivo.
- Nós temos uma geração de atacantes de lado, e temos laterais que são mais construtores. Não temos mais Júnior, Leandro, Roberto Carlos ou Cafu. As características são diferentes, compete a nós fazer. Eu queria ter o Roberto Carlos, mas o grande desafio é esse. Eu vou ter o Roberto Carlos para ocupar o espaço onde tem o Vini, o Rodrygo, Antony, Martinelli... Como equilibra setores dentro de uma equipe? Fazendo lateral construtor. Temos Alex Sandro, Alex Telles, Arana... Do outro lado, Militão, ele me disse que o DNA dele começou ali (na lateral), foi onde ele explodiu no São Paulo. Não é uma improvisação, improviso é fazer algo que tu nunca fez. Quem tem bom pé para passe é o Dani (Alves), o meio-termo é o Danilo, quem joga mais de ala Emerson (Royal), quem joga mais de banda é o Rodinei. Depende da função daquilo que precisamos buscar.
MUDANÇAS TÁTICAS PERTO DA COPA PODEM ATRAPALHAR?
- Primeiro lateral que fica não é um terceiro zagueiro, é um lateral de função, ele é um defensor, não um terceiro zagueiro. O volante que afunda e faz a iniciação, não é terceiro zagueiro. É um volante que faz uma função que afunda. O que o Militão te traz? Segurança defensiva e saindo como surpresa, às vezes ele faz isso no Real Madrid, mesmo como zagueiro, ele dá um "turbo", antecipa e sai.
- Em relação à Copa do Mundo de 2018, tem um dado significativo que a gente tem que lembrar bem. O Willian estava muito bem e o Coutinho era um jogador central também, então o Coutinho era sempre utilizado ali no Liverpool, até para a gente se situar no tempo, se não a gente é injusto nas observações. Coutinho, do Liverpool, jogando por dentro, Coutinho, da Seleção, jogando por dentro, Willian de lado em cima do Renato (Augusto) que se machucou. O Renato estava muito perto de voltar para a equipe, ele esteve muito perto de ser cortado, mas ele esteve muito perto de retornar para a equipe, se tivéssemos continuado na Copa. Era o melhor momento da equipe naquele desenho, Coutinho de externo flutuando, Renato pelo lado, Gabriel Jesus e Neymar. (Renato) Um jogador de nível extraordinário, tanto de qualidade técnica, quanto do lado humano, de compreensão de jogo.
- As estruturas de jogo estão dominadas, são quatro anos. O Paquetá sabe de segundo, Antony, sabe, Raphinha sabe, Vini, sabe. Então esses quatro anos facilitaram, é uma situação diferente.
RECADO PARA O TORCEDOR BRASILEIRO
- Ao torcedor, nosso muito respeito, respeito mesmo aos diferentes, para que eles possam se sentir representados pelo meu estilo, mas a dignidade para que a gente possa desenvolver o nosso trabalho, a dedicação, a todo o nosso trabalho e fazer do esporte também um veículo de educação. Lembro perfeitamente quando fomos para Manaus, onde a escola inteira para acompanhar o treinamento e eu pedi a eles, num momento que eu precisava de concentração, que eles ficassem em silêncio. Silêncio absoluto. Então, o esporte como superação, como enfrentamento, como competitividade, como qualidade, ser melhor, porque a vida é assim, porém com valores éticos e educacionais.
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