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Mineirinho relembra lutas e foca em saborear título: ‘Vivo um sonho’

Brasileiro desembarcou nesta terça-feira em São Paulo após conquista inédita

Coletiva Mineirinho (Foto: Jonas Moura)
imagem cameraMineirinho concedeu coletiva na sede da Red Bull Brasil em São Paulo (Foto: Jonas Moura)
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Lance!
São Paulo (SP)
Dia 22/12/2015
16:37
Atualizado em 31/12/2015
20:17

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Adriano de Souza não quer pensar no futuro enquanto o troféu do Circuito Mundial (WCT) ainda puder ser comemorado. Segundo brasileiro a faturar o maior título da elite do surfe, o atleta de 28 anos desembarcou em Guarulhos (SP) nesta terça-feira, e durante entrevista coletiva em São Paulo, horas depois, fez questão de se mostrar despreocupado com as consequências do feito.

O paulista do Guarujá relembrou as dificuldades que enfrentou na carreira, desde a luta por patrocínios até as provocações do americano Kelly Staler, mostrou-se otimista para a temporada de 2016, quando o torneio terá 10 brasileiros e exaltou o momento que vive a modalidade, especialmente em seu país.

O título inédito no currículo foi conquistado na última etapa deste ano, em Pipeline, no Havaí, em cima do compatriota Gabriel Medina, primeiro brasileiro a se sagrar campeão do mundo, no ano passado.

- Está sendo um sonho viver tudo isso - afirmou o surfista, em suas primeiras palavras aos jornalistas.


Ainda nesta terça, Mineirinho embarca para sua cidade natal, onde participa de um desfile de comemoração pela conquista. Veja como foi a entrevista coletiva do surfista, que esteve acompanhado de seu irmão, Ângelo de Souza.

Luta por patrocínio

Foram muitos anos de batalha. Desde a época do título mundial Junior, quando poucas pessoas acreditavam. Eu tinha 15 anos e fui ao Mundial Sub-21 para ganhar experiência. Conquistar o mundo com pouca idade me abriu portas. Fiz as escolhas certas para ir em busca desse sonhado título mundial. Hoje, o esporte tem uma evolução muito grande. Essa molecada aprende a surfar em seis meses o que eu aprendi em seis anos. Mas aprendi o suficiente para ser campeão em 2015.

Possível era do Brasil no surfe
Acho que só depende dos 10 atletas. No passado, faltava para mim experiência, e hoje vejo que os 10 têm chances reais. Favoritismo vai haver para um lado ou outro, mas nem sempre acontece. O Mick (Fanning, australiano) neste ano desde o início era favorito. Muitas pessoas não entendem que a evolução chegou. Não precisa ser mais provado. Precisa acreditar nos atletas brasileiros. Precisamos acreditar no que a gente tem. Em vez de falar 'tem que fazer isso e aquilo, vamos lá', tem de estar junto na vitória e na derrota.

Relação com Ricardinho, surfista baleado em 2015

Além da força que ele sempre me deu, fomos muito amigos. Em 2007, me puxou para treinar. Uma das coisa que admiro em mim mesmo é enxergar a dificuldade e ir para frente. Tem gente que se olha no espelho, vê a dificuldade e vai embora. Fiquei, em 2007, 20 dias treinando em Teahupo'o. Tinha 19 anos e ele 15. Eu pensava "como pode um garoto desse me dando porrada?". Naqueles 20 dias, ficou marcado que a especialidade do cara era tubo. E no ano passado ele estava em Pipeline. Quando fui campeão, o que me veio à cabeça foi ele.

Conquista de Gabriel Medina em 2014

Foi fundamental a vitória do Gabriel no ano passado. Mostrou um caminho a ser traçado. Antes era o Neco (Padaratz), Teco, Victor Ribas e sempre enxerguei que o melhor brasileiro era o terceiro colocado. Era a referência na época. O Gabriel mostrou o caminho e pensei 'agora é minha hora'. Usei isso como referência.

Vontade de ficar no Havaí após a etapa

Conquistei uma taça, enquanto o Kelly tem 11. E quem ficou foi ele, eu voltei. Então, pensei em ficar. Slater é muito competitivo, um exemplo para mim. Queria muito ficar. Mas tinha de voltar para dar apoio ao Brasil e trazer esta taça.

Guarujá 

Representar o Guarujá para mim é uma honra. É um dos melhores lugares para se aprender a surfar, a onda não é forte, não tem muito risco, e para a base isso é fundamental. É claro que para conquistar o mundo você não pode ficar só no Guarujá. Ir na casa dos caras e ganhar você tem de fazer o triplo do que eles fazem. Tenho muito orgulho de onde venho e é o único lugar do mundo que eu posso chamar de casa. Hoje tem uma nova geração que eu não conheço lá. Mas quando respiro, entro na água lá sinto uma tranquilidade que só tenho lá.

Título sobre Fanning dá mais importância


Com certeza, princialmente pelo ano que ele fez. Um tricampeão do mundo, com a experiência que tem. Ele era o favorito. Mas mesmo assim não abaixei a cabeça. Sempre acreditei que esse dia chegaria. Havaí é consagração. Para você chegar lá e ser campeão, tem de ir muito bem nas outras etapas. Tem de passar por diversas coisas no decorrer do ano. O Gabriel na briga engrandeceu a prova ainda mais, assim como Filipe Toledo, que fez um belo ano. O Owen Wright fez um grande ano e não pôde completar. Tudo estava a meu favor.

Ser o cara a ser batido deixa 2016 mais difícil?

Eu não sei nem o dia de amanhã. Quero mesmo viver intensamente, saborear o troféu com minha família e amigos, estar em casa, dormir na própria cama. É o que me faz feliz neste momento. É claro que voltarei aos treinamentos, tenho um caminho a ser traçado. Vou em busca, não sei onde vou parar. A única coisa que prometo é que em 2016 vou lutar até o fim, independentemente das dores, o que for.

Quando vai largar o troféu

Demorou tanto para eu conquistar esse troféu, já querem que eu largue? (risos)

Dificuldades que projeta

Assédio, conseguir se concentrar serão as dificuldades.Não sou mais o cara que está em busca. Terei de fazer outro tipo de treinamento para voltar ao meu equilíbrio. Surfe para mim é tudo. É o que me deu cultura, uma vida, me permitiu ajudar minha família. Agradeço por fazer parte disso. Ninguém sabe o dia do amanha, então aproveito ao máximo o dia de hoje. O futuro pertence a Deus.

Potencial de ídolo nacional

Estou um pouco velho (risos) para isso. Fico feliz em ver onde meu esporte chegou. Não depende só de nós atletas brasileiros. As coisas têm de andar em conjunto. Se os brasileiros fizerem sucesso mundo afora e a mídia não acompanhar, o público não vai saber o que está acontecendo. Hoje, o esporte está onde está por causa de vocês que estão divulgando, dando esse espaço para nós. Um garoto que quer chegar aonde cheguei hoje está acompanhando.

Brasileiros do passado

Os pioneiros deixaram algum buraco. Eles não sabiam como fazer para ser campeão. Foram com uma enxada, ficaram uns buracos. Hoje essa geração está sabendo como fazer, mas devemos muito a eles, que no passado viraram referência para nós. O surfe no Brasil é muito jovem. Em Bells Beach (AUS) ele tem 54 anos. No passado, década de 60 e 70, eles começaram na base bruta, enquanto australianos estavam em roupa de borracha. Tirar esse espaço deles hoje mostra que evoluímos muito.

Pressão que sofreu no Havaí

Chegar em terceiro me ajudou. A pressão estava no Mick e no Filipe. Eu era a última batera do round, assistia a tudo e tinha o exemplo deles antes de entrar no mar, o que me ajudou muito. Deus me colocou ali naquela posição para seguir em frente. Não escolhemos, e eu queri estar em primeiro o tempo inteiro. Mas acabou me ajudado para que eu tivesse mais força.

Popularização do surfe

Vamos em busca disso. Os atletas vão em busca infinita por novos títulos. Mas mostrar o quanto o esporte é profissional sem vocês mostrarem não adianta nada. Se eu falar e não mostrarem fica vago. Quero ajudar a divulgar o esporte. Quando acabar essa correria de títulos, vou querer fazer um projeto social e espremer o máximo o que esse troféu me deu para os atletas que possam surgir no futuro e, quem sabe, mais campeões mundiais no futuro.

Reação dos "gringos" ao momento dos brasileiros

É como se eu te perguntar: "o que você sentiria se um americano fosse campeão mundial?" Seria tirar o nosso espaço. Eles estão indignados. Os brasileiros foram comendo pelas beiradas e, quando morderam a isca, não quiseram mais largar. Convivo com os brasileiros e vejo que eles querem aproveitar o momento, colocar seu nome na história. Eu também quero.

Surfe na Olimpíada de Tóquio-2020

Eu gostaria muito. Seria mais uma cereja no bolo. É o maior evento de esporte do planeta, visto pelo mundo inteiro. Mas falando como entidade, não sei se não geraria um conflito com a Liga Mundial (WSL). Como atleta, gostaria muito de ter a oportunidade de defender o Brasil em uma Olimpíada. Tomara que dê certo.

Episódio marcante em Porto RIco

Surfe é um esporte muito mental. Se você se cobrar e quiser muito algo, quando perder a dor vai ser muito forte. Mutas derrotas me fizeram ser quem sou hoje. Em Porto Rico, Kelly forçou a interferência, os juízes me puniram e perdi a bateria que estava ganhado. Ele foi malandro. Não tiro a razão dele. O esporte hoje é isso. Saí tranquilo, mas ele pegou o microfone e falou muito mal de mim, que eu não sabia surfar. Muitos quando ouvem uma mensagem dessa de um atleta como ele ficam acanhados, mas isso me deu forças. Venci meu adversário, peguei ele nas quartas. Comecei com a melhor nota, ele fez uma nota razoável, mas depois veio uma onda que não dei tanta importância. Kelly vai muito a Porto Rico e essa onda foi 10. Eu deixei um 10 passar. Quando escutei a nota, vi que esteve na minha mão e deixei escapar. Coloquei na minha cabeça que iria caminhando até lá, com minhas bagagens. Falei que queria amargar aquela derrota. O cara veio tirar a foto, falei 'pode' e ofereceu carona, mas eu quis ir andando.Quando perdemos, não damos importância. Mas ao longo dos anos, vemos como os erros formam quem você é. Fico triste de ter andado 10 km com prancha e mala, mas depois daquilo tive sete vitórias consecutivas em cima dele. Queria mostrar a ele que não estava ali para brincar. Ele engoliu essas sete derrotas com muita infelicidade.

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