Tranquilo, sem pressão e sem querer provar nada a ninguém. Este é o Filipe Toledo que, a partir desta sexta-feira, tentará o título da etapa de Teahupoo, no Taiti, do Circuito Mundial de surfe (WCT), para se manter na disputa pelo troféu de campeão do mundo.
Com o triunfo em Jeffreys Bay (AFS), quando levou o Brasil ao topo no evento pela primeira vez, em julho, o paulista ligou o alerta dos adversários e mostrou que deu a volta por cima após ser barrado da disputa em Fiji, devido à suspensão da Liga Mundial de Surfe (WSL) por mau comportamento em Saquarema (RJ). Na ocasião, ele cometeu uma interferência em onda do americano Kanoa Igarashi no terceiro round, contestou a arbitragem e até invadiu a área dos juízes.
Nesta semana, Toledo voltou a ser punido pelo mesmo motivo e contra o mesmo rival no US Open, e foi terceiro. Mas manteve a calma.
Ao LANCE!, Filipe descartou o favoritismo, relembrou o susto causado por um tubarão na África do Sul e disse ter se sentindo injustiçado pelo resultado na etapa fluminense.
O paulista é o sétimo colocado no ranking, e segundo melhor brasileiro. O mais bem posicionado é Adriano de Souza, em quinto. O australiano Matt Wilkinson lidera a lista. A primeira chamada em Teahupoo acontece nesta sexta-feira, às 14h (de Brasília).
Depois de ficar fora da etapa de Fiji, você imaginou que poderia fazer uma competição tão impactante como foi em J-Bay?
Eu apenas queria esquecer tudo o que aconteceu e dar uma resposta à altura. Foi isso o que eu fiz!
Você atribui seu bom desempenho na última etapa a algum fator em especial? Diria que a punição despertou algo para chegar mais consciente?
Eu estava muito à vontade em Jeffreys Bay, depois de 10 dias de treino que fiz nas Maldivas. Minha prancha estava voando, literalmente (risos), e, além do mais, eu não gosto de me sentir injustiçado. Então, fui lá e coloquei para fora algo que estava me incomodando. Mostrei dentro da água o meu melhor surfe, justamente onde mais amo estar!
Qual é a sua perspectiva sobre ser campeão mundial este ano? Acredita que as chances são fortes considerando os bons resultados e o respeito que você tem imposto nos adversários?
Só quero deixar acontecer. Não sou nenhum candidato ao título este ano, então vou sem pressão nenhuma. Vamos ver no que vai dar.
A presença de tubarões voltou a assustar em Jeffreys Bay. Acredita que vocês surfistas estão seguros em etapas como esta? Você se sente confortável competindo em Jeffreys Bay ou acha que a WSL deveria rever os locais nesse aspecto?
Dizer que estamos seguros em Jeffreys Bay seria displicência minha. Mas acredito que a Liga Mundial tem feito um excelente trabalho no sentido de prevenir algo mais sério.
O que passou pela cabeça ao saber que sua bateria do quarto round estava sendo interrompida por causa de um tubarão? Deu medo?
É claro que dá aquela sensação de que poderia acontecer algo conosco, mas a equipe de segurança de água estava muito próxima do local e atenta, então me senti tranquilo.
O que a experiência de ser pai trouxe de novidade para você como atleta? Como tem sido conciliar a família com as novas responsabilidades e os objetivos no esporte?
Minha filha tem sido minha inspiração para surfar! Minha esposa é uma benção em minha vida e isso tem me motivado ainda mais a brigar por melhores resultados. Ser pai de família tem sido um desafio muito interessante, mas, ao mesmo tempo, prazeroso! A gravidez dela foi um inesperada. Eu não esperava ser pai com 21 anos, mas aconteceu e foi uma bênção. Acho que sou um atleta mais experiente nesta fase da vida.
* Por causa de uma dengue, a namorada do surfista, a modelo Ananda Marçal, suspendeu o uso de pílulas anticoncepcionais e engravidou. Mahina nasceu em outubro do ano passado.
A entrada do surfe nos Jogos Olímpicos de Tóquio tem sido comentada por vocês da elite ou ainda parece uma realidade distante? O ciclo olímpico começou sem os astros...
Na verdade, não tenho me preocupado muito com isso. Quero apenas fazer da melhor forma o que mais amo fazer, que é surfar! Apenas espero que sejam muito coerentes ao convocar nossos atletas. Não tem como colocar nomes sem experiência de surfista do WCT.
Como foi a ideia de mudar a cor do cabelo para verde na última etapa? Gostou do visual?
Na verdade, é prateado! Embora tenha ficado com cor de tudo, menos prateado (risos). Estávamos em casa sem nada para fazer, então resolvemos experimentar. Como sempre, as besteiras vêm quando estamos sem nada para fazer.
Qual é a importância de ter vencido em um local de ondas grandes, como J-Bay, que muitos afirmam não ser sua especialidade? Hoje você ainda se considera um surfista melhor em ondas baixas ou acredita que essa diferença não é mais tão relevante?
Acho que eu não tenho de provar mais nada para ninguém! Embora possamos morrer e não agradar a todos, eu me sinto cada dia mais à vontade em qualquer condição, e esta experiência virá com o tempo. Meu desempenho em Margaret River (AUS) este ano, onde tinha de 12 a 15 pés nas maiores séries, me trouxe uma confiança ainda maior. A cada dia eu me sinto mais amadurecido para disputar o título mundial!