Bellucci afirma que o mental foi seu ponto forte da carreira e diz: ‘Saio satisfeito com o que fiz pelo tênis’
Brasileiro encerrou sua carreira nesta quarta-feira
Thomaz Bellucci concedeu uma longa entrevista coletiva após seu último jogo na carreira na noite desta quarta-feira no Rio Open onde caiu diante do argentino Sebastian Baez por 6/3 6/2.
Ele recebeu homenagem com alguns de seus ex-treinadores na quadra como João Zwetsch, Leo Azevedo e também seus amigos André Sá e Marcelo Melo: "Sabia que teria alguma coisa, mas nunca sabemos como vai ser, quais sentimentos e emoções no momento. Foi muito legal ter homenagem, ter contato com a torcida, muitas palavras legais da minha família e amigos nos quase vinte anos do circuito, treinadores. Foi muito legal ter vivido esses momentos. Passou um filme na minha cabeça. Você cai na real que tudo passou muito rápido. Hoje foi um dia muito especial, estou muito feliz por tudo o que aconteceu. Foi o momento certo de fazer outra coisa na minha vida e saio satisfeito pelo que fiz no tênis".
Bellucci por vários anos liderou o tênis nacional e chegou ao 21º lugar no ranking. Acabou muito cobrado e criticado quando não vinham os resultados. E ele sentiu um pouco disso: "Quando as pessoas colocam muita expectativa nas suas costas você acaba sentindo isso. Quando você tem vários ídolos dentro de um país isso acaba sendo diluído entre os atletas como exemplo a Argentina, Espanha, Estados Unidos e outros países como inúmeros atletas. No Brasil sempre fui eu nos Grand Slams, às vezes um ou outro passava o quali , entrando no top 100 e saindo. Sempre a expectativa em cima de mim . De certa forma isso não foi bom. Eu também me colocava muita responsabilidade de avançar nos torneios de retribuir de certa maneira essa expectativa. São coisas que você chega em certo nível profissional você precisa lidar com esse tipo de pressão, expectativa que é gerada em cima de você. Consegui fazer isso. Momentos como a Copa Davis aqui no Brasil que consegui jogar bem , levar o Brasil no Grupo Mundial com praticamente um jogador no top 100 era eu Marcelo e Bruno na dupla . Sinto que consegui retribuir para o tênis brasileiro, representando o país no Rio Open, no Brasil Open quando tinha na época que tinha, todos os challengers. Não foi fácil, mas dei minha contribuição. É responsabilidade que qualquer atleta precisa lidar. As lesões são difíceis. Ao fim da minha carreira, últimos quatro cinco anos, vivi muito isso. Comecei a sentir que já não tinha o nível que esperava ter. Daí mudei a fichinha na minha cabeça. Falei que não dava pra fazer isso. Tênis é um esporte muito difícil. Além de ser um jogador você precisa ser atleta e nos últimos anos não conseguia mais ser. Meu físico não era o suficiente para jogar o que jogava antes. Maioria acaba se aposentando por causa disso. Não é porque não quer mais jogar, é porque não consegue. Mas estou feliz com tudo que conquistei no tênis".
Bellucci foi questionado sobre o que vai sentir o que não irá sentir falta na carreira: "Talvez não sinta tanta falta de horas e horas dentro de quadra treinando , na fisioterapia, lesão, longe da família, namorada, longe de tudo e todos que me importavam. Perdi muitos aniversários de família , Natais, Reveillons todos praticamente. Momentos que são importantes. Essas questões vou sentir falta. Mas são coisas que você precisa fazer pra jogar em alto rendimento. Nenhum atleta de alto rendimento consegue alcançar nada sem abrir mão de tudo isso. Sempre fui 100% focado na minha carreira. Tudo tem seus prós e contras. No pró o lado financeiro, dar segurança pra sua família cedo".
Ao ser perguntado sobre falta de reconhecimento, ele pontuou: "Reconhecimento é o que vem de fora não de dentro. Todo mundo acha que eu preciso falar que eu merecia mais reconhecimento , ninguém me valorizava. Acho que precisa ser ao contrário. Muita gente diz que reconhecimento vem depois que o atleta se aposenta né e às vezes as pessoas olham pra trás e veem tudo que conquistei, quão difícil fazer tudo que fiz. Isso é muito difícil. Você faz tudo sozinho, ninguém te ajuda. Quem me ajudou na carreira foram meus pais, pagando viagens pagando tudo, treinador, passando perrengues, tudo, hotel, comida. Nunca tive nada de graça. Você olha pra trás e é 99% tudo que passou é o que você se dedicação. Tênis é isso. Muito suor. Dia inteiro assim. Acaba a carreira joelho arrebentado, quadril caindo as pedações. Alto rendimento é assim".
Sobre a parte psicológica, Thomaz apontou ter sido forte nessa época e só lamentou um pouco a parte física: "Tive sempre muitos psicólogos na minha carreira. Todo mundo falava que tinha problemas mentais, mental é fraco. Mas o meu mental acho que era minha melhor parte eu acho, técnico e mental. Físico foi uma coisa que me barrou para alcançar maiores resultados. Mas sempre me dedicava 100%, sempre tive os melhores médicos, nutricionistas. Lado mental no esporte é muito duro. Você vê muitos atletas sofrendo, ganhando milhões e são pessoas infelizes , com depressão. Tênis é igual, é muito difícil. É difícil você saber lidar com fama e sucesso desde pequeno e eu passei por muitos momentos difíceis na carreira. Se não tivesse treinadores que tive - treinadores eram verdadeiros segundos pais pra mim na época não tinha instagram, skkype, nada pra gente conversar. Falar pra essa garotada pra se garrar na equipe, pessoas que estão próximas pois isso é muito importante pra valorizar quem se importa com você. Quem está nas mídias sociais às vezes não está nem aí pra você e sim pelo seu sucesso e o que você alcança. Esteja perto de quem realmente por quem se importa com você".
Sobre o pós-carreira, Bellucci pretende se especializar e seguir no tênis ou como treinador ou implementando seu método com tudo o que aprendeu. O que ele não quer é viajar como um louco pelo mundo com jogadores.
"Tenho conversado com bastante gente, empresários e treinadores que estão dentro desse projeto. Projeto que em um ou dois anos eu possa montar um lugar que possa colocar todas as minhas ideias como ex-jogador, montar uma metodologia minha, coisas que aprendi. De uma certa maneira de passar minha experiência a jovens atletas. Tenho muito a contribuir como treinador agora, me especializar, fazer cursos, estar mais envolvido no mundo dos treinadores de uma certa maneira. Hoje minha visão é muito como jogador e preciso mudar essa perspectiva e tem que estar preparado para ser um treinador. Espero de uma certa maneira estar envolvido no tênis. Não pretendo viajar igual a um louco e ficar fora 7 ou 8 meses por ano , mas pretendo estar no circuito não tão fisicamente como sempre tive em todos os torneios. Mas sim estar envolvido no tênis de certa maneira".