Guinadas no mercado e contraste financeiro: os efeitos do modelo mexicano de transmissões de jogos
Com modelo de direito de transmissões semelhante ao proposto na MP 984, Liga MX é marcada por idas e vindas e dá margem para distanciamento entre equipes
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A Medida Provisória nº 984, editada por Jair Bolsonaro e que deu prerrogativa para que os times mandantes no Brasil negociem exclusivamente os direitos de transmissões com as emissoras de televisão, está em debate em solo tupiniquim mas já é corriqueira em outra competição tradicional. Desde que houve mudança em relação às tratativas de exibição, a Liga MX não só viu clubes acirrarem o mercado como também abriu caminho para outras plataformas entrarem em campo definitivamente.
- Esta liberdade para cada clube negociar seus direitos com a emissora que fizesse a melhor oferta expandiu o mercado. Há condições dos clubes assinarem vínculos com diversas emissoras ao mesmo tempo - afirmou Mario Pala, chefe de reportagem da ESPN México, ao LANCE!, que detalhou como é o panorama da relação dos clubes com os canais:
- Muitas equipes tiveram parceria duradoura com a Televisa. Somente nos últimos tempos, houve esta abertura um pouco maior - completou, referindo-se ao conglomerado de canais que ganhou notoriedade como exportador de novelas e por produzir por décadas os seriados infantojuvenis "Chaves" e "Chapolin".
Com direito a guinadas como entrada de uma nova concorrente no mercado, elevação de valores e abismos entre clubes, a Liga MX (que também é transmitida nos Estados Unidos e rendeu um bom faturamento, conforme mostraram as estimativas dos acordos iniciais) é marcada por situações curiosas nos seus bastidores.
A SAGA DO CHIVAS GUADALAJARA
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A abertura de mercado proporcionou um salto exponencial para o Chivas Guadalajara, uma das equipes mais vitoriosas do México. Porém, os US$ 39 milhões anuais (segundo dados estimados pelo site mexicano "90 min") só aconteceram, de acordo com Mario Pala, após uma mobilização intensa bo clube.
- O Chivas não conseguia chegar a um denominador comum com nenhuma emissora. Por isto, investiu muito e criou seu canal próprio, uma plataforma digital. Por alguns meses, as partidas eram exibidas exclusivamente na Chivas TV. No entanto, o apelo do clube, que tem um bom número de torcedores, fez com que diversas emissoras abrissem negociações e aceitassem o que os dirigentes pediam - afirmou.
Hoje, o Rojiblanco mantém a exibição dos jogos em seu canal oficial, mas também "entra em campo" nas concorrentes Televisa e TV Azteca, além do grupo Multimedios.
FOX SPORTS MÉXICO: DA GUINADA FINANCEIRA À INCERTEZA PARA CLUBES
A forma como a Fox Sports Latinoamerica entrou em cena no mercado de transmissões do México mudou o panorama das cotas do faturamento com televisão no país. Equipe que ganhou espaço em especial por sua sequência de boas campanhas no século XXI, o Monterrey acertou um acordo que previa US$ 23 milhões por ano até 2023.
Os vencedores da Liga dos Campeões da Concacaf de 2019 rendem uma situação curiosa.
- Trata-se de um clube com grande poderio financeiro inclusive para formar seu elenco. Mas os Rayados ainda não contam com uma grande torcida no âmbito nacional - frisou Pala.
O canal ainda injetou uma boa quantia financeira em clubes como o Tijuana até 2023 e assinou até 2024 com o Santos Laguna (US$ 12 milhões cada). Porém, a fusão da rede original com a Disney trouxe um enigma tanto para estes clubes quanto para León, Pachuca e Querétaro.
Segundo a imprensa mexicana, o grupo AT & T e até um consórcio no qual os clubes da Liga MX seriam os investidores são os caminhos mais cotadas. O L! apurou que, diante do impacto do COVID-19 no país, o desfecho tem boas chances de acontecer em agosto.
AMÉRICA, O PREÇO DE UMA FIDELIDADE
Outro clube com grande torcida do México, o América ficou muito para trás em relação aos rivais nas transmissões como mandante. Atualmente, estima-se que receba US$ 13 milhões anuais (um terço da quantia do Chivas Guadalajara).
- O América sempre manteve seu acordo com a Televisa. É uma parceria já bastante duradoura - declarou Mario Pala.
O acordo com o conglomerado permite que as transmissões cheguem na TV aberta pelo Canal 5 e pela emissora TUDN, voltada para TV por assinatura.
Já para o Cruz Azul, outra equipe que tem notoriedade no país, a migração da TV Azteca para a Televisa significou uma mudança de rumos. La Maquina Celeste passou a receber US$ 13 milhões anuais por suas partidas como mandante.
Outra equipe remunerada pelo conglomerado é o Pumas. São US$ 10 milhões por ano em seus jogos, que são transmitidos nos canais Las Estrellas e TUDN. Haverá nova negociação da rede com América e Pumas neste ano.
A Televisa também fechou acordo com o Tigres (são US$ 9 milhões anuais e jogos distribuídos pelo Canal 5, TUDN e Affizionados até 2023) e Toluca (que recebe US$ 8 milhões para seus jogos serem exibidos nos canais Las Estrellas e TUDN).
VALORES EM JOGO
A mudança na forma dos direitos de transmissão cobrou seu preço para alguns dos clubes. Embora tenha selado acordo tanto com a Televisa quanto com a TV Azteca, o Veracruz embolsa US$ 3,5 milhões com direitos de transmissão em suas partidas (que só ganham espaço contra adversários de maior expressão).
O Puebla, mesmo tendo transmissão de seus jogos veiculado na Televisa, TV Azteca e Sky Sports, recebe US$ 4 milhões anuais. Antes de ter mudado de cidade, de nome e se tornado Mazatlán, o já extinto Monarcas Morelia recebia US$ 4,5 milhões, somando as cotas da TV Azteca e do Sky Sports.
Mario Pala é categórico sobre o assunto.
- As equipes com menor apelo não têm para onde fugir. Por isto, os valores acabam sendo baixos - declarou.
PANORAMA É DESAFIADOR
Por mais que a pluralidade tenha aquecido o mercado nas transmissões, há um sinal de alerta quanto ao modelo mexicano.
- Fica ainda mais notável a diferença entre as equipes grandes e as de menor porte. Isto ao final se torna uma concorrência desleal também porque há equipes que são mais ricas e tendem a sair na frente - diz Mario Pala, chefe de reportagem da ESPN México.
Outro desafio é o impacto da pandemia do novo coronavírus. Em maio, o vice-presidente do Grupo Televisa, Alfonso de Angoitia, admitiu ao jornal "El Economista" que a emissora pretende renegociar os valores com os clubes.
- Isto inclui produções e aquisiões de conteúdo. Além do que, a maioria das ligas estão suspensas e, por isto, vamos renegociar estes acordos - disse sobre o conglomerado que tem vínculo mais firme com América, Cruz Azul, Pumas, Tigres, Chivas, Necaxa, Toluca e Juárez.
O risco das tramas futebolísticas pararem de ter tantas reviravoltas pode ficar maior na Liga MX.
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