De olho no que apitam! Ex-árbitros detalham as regras para a marcação ou não por ‘toque de mão’
Da orientação quanto ao local onde é considero falta até as exceções quando a bola desvia no braço, o LANCE! mostra onde a arbitragem tem de assinalar infração
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Por mais que a International Board (IFAB) promova mudanças e atualmente haja o recurso do VAR, as discussões sobre a marcação de toque de mão não saem de campo, em especial quando o assunto é marcação de pênalti. Na reta final do Brasileiro-2020, o LANCE! pede ajuda a ex-árbitros para detalharem as mudanças e traçarem um panorama da arbitragem no país.
A mais recente diretriz da IFAB (divulgada em junho do ano passado) especificou a partir de qual parte do braço há margem para considerar pênalti, conforme detalhou o ex-árbitro Márcio Chagas da Silva.
- Atualmente, se bate na junção do cotovelo com a axila do jogador, não é considerada uma infração - apontou.
Aos olhos do ex-árbitro Márcio Rezende de Freitas, as orientações quanto ao toque de mão renderam mais desafios para quem conduz o jogo.
- Tentaram simplificar e acabaram complicando mais. Para um pênalti ser assinalado, o jogador precisa esticar sua mão ou seu braço para interceptar a trajetória da bola. Mas há muitas nuances que dão margem para subjetividade de quem apita. Arbitrar não é só soprar um apito se a bola bateu na mão ou no braço de um defensor dentro da área. É interpretar a jogada, saber se o desvio aconteceu em um movimento natural ou não - disse.
Outra decisão sobre a marcação de toque de mão é em relação ao carrinho. Segundo Freitas, a maneira como o atleta cair para tentar desarmar o adversário será decisivo.
- O jogador assume o risco de cometer uma falta ou pênalti por toque de mão em um carrinho. É considerada falta se ele abrir os braços de maneira antinatural ou, claro, tentar um bloqueio. Agora, quando o jogador usa o braço ou suas mãos como apoio, ancora o seu corpo, o movimento é considerado natural e não será marcada infração caso haja um toque - destacou.
DISCUSSÕES SOBRE O IMPACTO DO DESVIO NO CORPO E ATÉ 'DEPENDÊNCIA' DO VAR: EX-ÁRBITROS AVALIAM CONTROVÉRSIAS RECENTES
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A discórdia sobre um pênalti marcado ditou o último fim de semana (e chegou até a uma discussão áspera entre o jornalista Mauro Cezar Pereira e a comentarista Nadine Bastos). Na vitória por 2 a 1 do Internacional sobre o RB Bragantino, o árbitro marcou pênalti em lance que a bola cruzada por Patrick bateu no braço de Weverton após desviar na barriga do defensor (veja os gols aqui).
Está escrito na regra da CBF que "não é considerado toque de mão quando a bola é desviada diretamente do próprio corpo (inclusive do pé) do próprio jogador" ou de um atleta que esteja próximo. Após intervenção do VAR, o árbitro Sávio Pereira Sampaio marcou pênalti a favor do Internacional.
Porém, de acordo com o "Blog do Rodrigo Mattos", do UOL, internamente a entidade tem um conceito que diferencia uma disputa de bola e o pênalti é marcado quando o defensor tem condições de prever a sua trajetória. Por isto, a CBF orienta a marcação de falta ou pênalti, independentemente dela tocar em outra parte do corpo do atleta, caso não tenha acontecido um desvio significativo.
Sávio Pereira Sampaio entendeu que a posição do braço de Weverton era antinatural e o desvio em seu corpo não afetou a vantagem tática. Ao rever o lance no VAR, o pênalti a favor do Internacional foi assinalado. Márcio Chagas da Silva discorda da decisão do árbitro do jogo no Beira-Rio.
- No meu entender, o jogador (Weverton, do RB Bragantino) estava a uma distância curta do adversário, não ampliou seu espaço corporal para levar vantagem. A bola resvalou no seu braço após o desvio no seu corpo - diz o ex-árbitro, que mostrou preocupação com os novos rumos da arbitragem:
- Na realidade, me surpreendeu a interferência do VAR nesta jogada que é interpretativa. O árbitro estava bem posicionado, apontou a cobrança de escanteio, mas o VAR prevaleceu. O VAR tem sido uma "bengala" hoje - completou.
Márcio Rezende de Freitas também mostra preocupação com a maneira como o recurso tecnológico vem tomando conta do futebol.
- Diria que é uma "VARdependência". Bons árbitros de campo estão mudando seu comportamento. A ideia inicial era que o VAR contribuísse em dúvidas como gol ou não gol, cartão, identificação de jogador, por exemplo. Mas agora estão subvertendo as coisas. O VAR virou uma "muleta", o árbitro fica em campo ouvindo o que vem de cima - avaliou.
Márcio Chagas da Silva vê uma imprecisão nos critérios de toque de mão.
- O que era para ser uma orientação deu maior margem para uma polêmica ainda maior. Em um jogo apontam que foi mão, no outro dizem que não foi. E na dúvida, quem se sente prejudicado culpa a arbitragem - disse.
Por mais que os padrões sejam adaptados, o apito segue na berlinda.
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