Grupo extremista que retomou o poder no Afeganistão, Talibã tem histórico de afetar o esporte no país
Dois atletas paralímpicos não conseguem viajar para Jogos de Tóquio devido ao caos causado em solo afegão. Ao L!, especialista em política internacional detalha situação
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A maneira como o Talibã voltou a tomar o poder no Afeganistão rendeu um novo episódio no qual o grupo extremista trouxe impactos para o esporte no país. O Comitê Paralímpico Internacional (IPC) desclassificou os dois atletas que iriam disputar os Jogos Paralímpicos de Tóquio devido ao caos que assola o território afegão. Na última segunda-feira (16), houve uma tentativa de fuga em massa de passageiros no aeroporto de Cabul. Segundo a imprensa americana, uma aeronave militar com capacidade estimada em 100 pessoas levou 640 passageiros (muitos deles afegãos tentando fugir do país).
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Zakia Khudadadi seria a primeira mulher a defender o Afeganistão em uma Paralimpíada. Hossain Rasouli, também atleta de taekwondo, seria o segundo homem do país a disputar os Jogos Paralímpicos. Contudo, a situação em território afegão saiu do controle (o então presidente Ashraf Ghani deixou o país no domingo passado) e mudou os planos de ambos.
Ao LANCE!, o professor de Política Internacional da Universidade Veiga de Almeida (UVA), Tanguy Baghdadi, apontou um fator que culminou na forma como os extremistas voltaram à força ao poder.
- O Talibã estava no poder em 2001 e tinha alianças com grupos terroristas na época, entre eles a Al-Qaeda, que promoveu o atentado ao World Trade Center em 11 de setembro. Como o país não extraditou Osama bin Laden, os Estados Unidos entraram com suas tropas no Afeganistão e, aos poucos, o Talibã foi expulso do poder - e explicou:
- Os Estados Unidos ficaram por 20 anos no Afeganistão e demoraram a deixar uma situação bem clara de quando retirariam suas tropas de lá - completou.
A suspensão dos voos no Aeroporto Hamid Karzai fez os dois atletas deixarem de disputar a Paralimpíada. Esta não é a primeira vez que o Afeganistão deixa de contar com representantes para uma competição esportiva devido a turbulências causadas pelo Talibã.
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Em 2000, o país chegou a ser suspenso e banido da Olimpíada de Sidney devido às condutas rígidas impostas pelo grupo extremista.
O especialista em Política Internacional detalhou como a visão do Talibã, que também esteve no poder entre 1996 e 2001, cerceou o esporte no país em outras situações.
- O Talibã é um grupo fundamentalista sunita. Seu desejo é manter as tradições existentes no século VII d.C., quando surgiu o Islamismo, como os homens, inclusive os atletas não poderem cortar suas respectivas barbas. Há restrições em relação a horários para rezar e até mesmo para fazer esforços físicos. As mulheres sofrem também com bastante opressão, além de ser obrigatório o uso de uma burca completa - contou.
Mesmo com o Afeganistão fora da Olimpíada de 2000, as restrições "adotadas" durante o período no qual o Talibã esteve à frente do poder (entre setembro de 1996 e 2001) rendeu outras situações inusitadas. Pugilistas foram eliminados de competições de boxe por manterem suas barbas fartas (caso de um torneio em Karachi, no Paquistão). A prática do críquete também chegou a ser proibida pelos extremistas.
Além disto, homens foram presos por uma polícia religiosa em uma cidade e tiveram suas cabeças raspadas por usarem bermudas ao jogarem uma partida de futebol.
O professor de Política Internacional expôs como se desenvolveram as negociações para a retirada das tropas americanas de solo afegão nestes 20 anos.
- Barack Obama chegou a cogitar a saída dos soldados, só que, no fim, optou por reduzir o contingente. Já Donald Trump selou um acordo no qual as tropas dos Estados Unidos deixariam o Afeganistão se o Talibã cumprisse as condições previstas. O grupo extremista, porém, não fez o que estava combinado e, inclusive, manteve seus vínculos com o Al-Qaeda. Mesmo assim, o atual presidente americano, Joe Biden, ordenou a retirada das tropas - afirmou.
Tanguy Baghdadi detalhou o que o Talibã fez durante estes 20 anos fora do poder.
- Após este enfraquecimento inicial ao ser expulso do poder, aos poucos o Talibã foi se reestruturando e aumentando seu faturamento. Os extremistas tiveram novas lideranças e foram conquistando os espaços pouco a pouco. Primeiro, em regiões no interior do Afeganistão, depois em capitais provinciais. À medida que ganharam poder pelo país, conseguiram, enfim, chegar à capital Cabul - destacou.
O especialista fez projeções sobre o grupo, que acenou usar um tom mais moderado e prometeu estabelecer diálogos:
- Ao meu ver, agora a cúpula do Talibã que ascendeu ao poder tentará negociações comerciais com Rússia e China. O objetivo será pressionar o Ocidente - complementou.
O presidente dos Estados Unidos, Joe Biden, defendeu a retirada dos soldados americanos e manifestou-se sobre a forma como o Talibã voltou a ascender repentinamente em território afegão.
- Isso tudo realmente se desenrolou mais rápido do que pensávamos. Os Estados Unidos não podem participar e morrer em uma guerra em que nem o próprio Afeganistão está disposto a lutar - disse, prometendo uma resposta "contundente" caso haja ataques do grupo extremista contra o país.
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