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Grupo extremista que retomou o poder no Afeganistão, Talibã tem histórico de afetar o esporte no país

Dois atletas paralímpicos não conseguem viajar para Jogos de Tóquio devido ao caos causado em solo afegão. Ao L!, especialista em política internacional detalha situação

Aeroporto no Afeganistão
imagem cameraCaos devido ao avanço dos extremistas impediu participação de atletas na Paralimpíada (Foto: Wakil Kohsar / AFP
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Lance!
Rio de Janeiro (RJ)
Dia 16/08/2021
22:07
Atualizado em 17/08/2021
13:34

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A maneira como o Talibã voltou a tomar o poder no Afeganistão rendeu um novo episódio no qual o grupo extremista trouxe impactos para o esporte no país. O Comitê Paralímpico Internacional (IPC) desclassificou os dois atletas que iriam disputar os Jogos Paralímpicos de Tóquio devido ao caos que assola o território afegão.  Na última segunda-feira (16), houve uma tentativa de fuga em massa de passageiros no aeroporto de Cabul. Segundo a imprensa americana, uma aeronave militar com capacidade estimada em 100 pessoas levou 640 passageiros (muitos deles afegãos tentando fugir do país).  
 
> Veja a tabela e a classificação do Campeonato Brasileiro

Zakia Khudadadi seria a primeira mulher a defender o Afeganistão em uma Paralimpíada. Hossain Rasouli, também atleta de taekwondo, seria o segundo homem do país a disputar os Jogos Paralímpicos. Contudo, a situação em território afegão saiu do controle (o então presidente Ashraf Ghani deixou o país no domingo passado) e mudou os planos de ambos.

Ao LANCE!, o professor de Política Internacional da Universidade Veiga de Almeida (UVA), Tanguy Baghdadi, apontou um fator que culminou na forma como os extremistas voltaram à força ao poder. 

- O Talibã estava no poder em 2001 e tinha alianças com grupos terroristas na época, entre eles a Al-Qaeda, que promoveu o atentado ao World Trade Center em 11 de setembro. Como o país não extraditou Osama bin Laden, os Estados Unidos entraram com suas tropas no Afeganistão e, aos poucos, o Talibã foi expulso do poder - e explicou:

- Os Estados Unidos ficaram por 20 anos no Afeganistão e demoraram a deixar uma situação bem clara de quando retirariam suas tropas de lá - completou.

A suspensão dos voos no Aeroporto Hamid Karzai fez os dois atletas deixarem de disputar a Paralimpíada.  Esta não é a primeira vez que o Afeganistão deixa de contar com representantes para uma competição esportiva devido a turbulências causadas pelo Talibã.

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Em 2000, o país chegou a ser suspenso e banido da Olimpíada de Sidney devido às condutas rígidas impostas pelo grupo extremista.

O especialista em Política Internacional detalhou como a visão do Talibã, que também esteve no poder entre 1996 e 2001, cerceou o esporte no país em outras situações.  

- O Talibã é um grupo fundamentalista sunita. Seu desejo é manter as tradições existentes no século VII d.C., quando surgiu o Islamismo, como os homens, inclusive os atletas não poderem cortar suas respectivas barbas. Há restrições em relação a horários para rezar e até mesmo para fazer esforços físicos. As mulheres sofrem também com bastante opressão, além de ser obrigatório o uso de uma burca completa - contou.

Mesmo com o Afeganistão fora da Olimpíada de 2000, as restrições "adotadas" durante o período no qual o Talibã esteve à frente do poder (entre setembro de 1996 e 2001) rendeu outras situações inusitadas. Pugilistas foram eliminados de competições de boxe por manterem suas barbas fartas (caso de um torneio em Karachi, no Paquistão). A prática do críquete também chegou a ser proibida pelos extremistas.

Além disto, homens foram presos por uma polícia religiosa em uma cidade e tiveram suas cabeças raspadas por usarem bermudas ao jogarem uma partida de futebol. 

Afeganistão
Imprensa americana contabilizou que 640 pessoas viajaram em aeronave militar americana (Reprodução)

O professor de Política Internacional expôs como se desenvolveram as negociações para a retirada das tropas americanas de solo afegão nestes 20 anos.

- Barack Obama chegou a cogitar a saída dos soldados, só que, no fim, optou por reduzir o contingente. Já Donald Trump selou um acordo no qual as tropas dos Estados Unidos deixariam o Afeganistão se o Talibã cumprisse as condições previstas. O grupo extremista, porém, não fez o que estava combinado e, inclusive, manteve seus vínculos com o Al-Qaeda. Mesmo assim, o atual presidente americano, Joe Biden, ordenou a retirada das tropas - afirmou.

Tanguy Baghdadi detalhou o que o Talibã fez durante estes 20 anos fora do poder.

- Após este enfraquecimento inicial ao ser expulso do poder, aos poucos o Talibã foi se reestruturando e aumentando seu faturamento. Os extremistas tiveram novas lideranças e foram conquistando os espaços pouco a pouco. Primeiro, em regiões no interior do Afeganistão, depois em capitais provinciais. À medida que ganharam poder pelo país, conseguiram, enfim, chegar à capital Cabul - destacou.

O especialista fez projeções sobre o grupo, que acenou usar um tom mais moderado e prometeu estabelecer diálogos:

- Ao meu ver, agora a cúpula do Talibã que ascendeu ao poder tentará negociações comerciais com Rússia e China. O objetivo será pressionar o Ocidente - complementou.

O presidente dos Estados Unidos, Joe Biden, defendeu a retirada dos soldados americanos e manifestou-se sobre a forma como o Talibã voltou a ascender repentinamente em território afegão.

- Isso tudo realmente se desenrolou mais rápido do que pensávamos. Os Estados Unidos não podem participar e morrer em uma guerra em que nem o próprio Afeganistão está disposto a lutar - disse, prometendo uma resposta "contundente" caso haja ataques do grupo extremista contra o país.

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