O LANCE! inicia nesta quarta-feira a publicação das entrevistas exclusivas da série especial com os candidatos à presidência do Vasco, com eleição marcada para a próxima terça-feira em São Januário. Por critério editorial, a publicação será por ordem alfabética, com 15 perguntas iguais aos postulantes. Neste primeiro dia é a vez do candidato de oposição Antônio Fernandes, da chapa Novos Rumos. Concorrem também Eurico Miranda (chapa Reconstruindo o Vasco) pela situação e Fernando Horta (Mudança com Segurança) e Julio Brant (Sempre Vasco Livre) pela oposição.
Faça uma apresentação.
Meu nome é Antônio Miguel Fernandes, tenho 61 anos. Sou sócio do Vasco há 30, benfeitor-remido. Tenho três filhos que são sócios proprietários do Vasco. Eu profissionalmente sou contador, administrador de empresas, corretor independente, professor universitário, de MBA e pós-graduação. Atuo em instituições como Faculdade Mackenzie, Fundação Getúlio Vargas... Profissionalmente ocupei cargos executivos em grandes empresas. Comecei a trabalhar com 15 anos como office boy no antigo Banco Lar Brasileiro. Por 19 anos trabalhei no BNDES, onde me aposentei em outubro de 2011. Graças a Deus eu trabalho e gosto de trabalhar. É isso que eu espero contribuir para o Vasco da Gama, que na verdade é minha grande paixão. Só uma coisa é certeza, a gente troca de muitas coisas, menos do clube de coração.
Carro-chefe da campanha.
Primeiro é recuperar o Vasco da Gama um pouco diferente do mote da reconstrução do outro candidato, que é reconstruindo o Vasco. Reconstruindo o que? O que foi destruído nesses anos todos na gestão dele e do antecessor. Não adianta colocar que vou trazer o Messi, o Cristiano Ronaldo... tudo isso aí é mentira, é estelionato. Na verdade, é preciso saber primeiro como estão as finanças do Vasco. Fiz um acompanhamento até 2012, 2013 da situação do Vasco, analisava prestação de contas, incoerências, inconsistência, que mostra que o Vasco não está em uma boa situação nas suas contas, as dívidas não são corrigidas... Nós precisamos fazer um diagnóstico do clube, saber o que precisa. Pagar as dívidas, que assim você ganha credibilidade e os investidores virão. É igual a um país. Um país que não tem estabilidade política, quem é que vai fazer investimento? O Vasco precisa ter credibilidade, as pessoas honrarem com o que se comprometem, não fazer loucuras, na boa técnica.
Planejamento para o futebol.
Você tem que ter um planejamento que envolva para dois anos, mantendo jogadores com experiência, mas com não muita alta faixa etária. Tem de ter equilíbrio, aproveitando bastante as categorias de base. Fazendo, assim, um rito de passagem. Futebol tem de ser comandado por gente do ramo, profissional. A vice-presidência de futebol tem de ter gerência, mas no dia a dia precisa ter profissionais de renome. Eu não conheço o atual gerente Anderson Barros, mas acho que tem conhecimento para o cargo. Eu não mexeria com nada nesse momento vencendo a eleição. O Vasco precisa caminhar para um centro de treinamento, desenvolvendo um projeto específico para ter um na cidade do Rio de Janeiro, com pelo menos cinco campos de futebol, atendendo a base e profissional. E em um lugar próximo a São Januário. O Vasco tem que entrar na competição para ganhar títulos, não pode entrar para lutar contra o rebaixamento. Esse ano, graças a Deus, ao menos já nos livramos disso. O clube em si tem que voltar a ter protagonismo e destaque.
Zé Ricardo fica para 2018?
A princípio, fica. Me parece ser um profissional decente, correto. Como torcedor, tem algumas coisas que acho que não faria, mas isso é com qualquer técnico... Mas entendo que está há pouco tempo e ainda está conhecendo. Porém, se comparado com os antecessores, percebemos que há um ordenamento com o Zé Ricardo. Ele fica para ter mais tempo, conhecermos ele. Terá tranquilidade.
Planejamento para a estrutura.
Tem gente que trabalha no Vasco a vida toda. Precisamos cuidar da estrutura. Negociaremos com a prefeitura e o governo do Rio de Janeiro para melhorar o entorno de São Januário. Temos a Lagoa que é praticamente uma sede de remo, pouco utilizada, Calabouço... E São Januário temos de fechar a ferradura. Para no dia de jogo o nosso torcedor ficar o dia inteiro conosco, com um edifício garagem, shopping, pontos que trazem dinheiro para o Vasco e satisfação para os frequentadores. Coisas pequenas e grandes, com recursos sendo buscados, o que é essencial para a gestão que entrar. Reformar as cabines de imprensa também é importante, a estrutura de hoje é a da década de 1970...
Em um clube que o passivo tributário é grande, tem muitas dívidas trabalhistas, qual é o plano para tentar sanar isso e cumprir o orçamento?
Agora você tem alguns mecanismos, como o Profut, Refis, várias maneiras para parcelar as dívidas tributárias. Mas isso passa a ser o dia a dia. A maioria é de folha de pagamento. INSS que não foi recolhido, FGTS... Pelo balanço de 2016, o Vasco tem parcelados com a Cedae R$ 7,6 milhões. FGTS, R$ 18 mi. Multas do Banco Central, R$ 5,4 mi. Ajustes de condutas trabalhistas, R$ 18 mi. Profut e INSS, R$ 39 milhões. Dívidas executadas, R$ 56 milhões... Somando tudo, R$ 165 milhões. E valor face, sem atualização. Processos trabalhistas, face de R$ 50 milhões. Com isso, além do corrente, tem que pagar o passado. Para resolver, tem que chamar e chegar no consenso. O Vasco tem que ter um padrão de gestão financeira para ajustar o passado e equacionar o futuro.
Qual o ponto que considera mais vulnerável da administração do clube no momento?
Um ponto? Difícil. É um conjunto de coisas. Não tem transparência nenhuma, antipatia, imagem do clube associada ao mandatário, uma agressividade absurda, futebol perdeu a força, não tem representação forte nas federações, não tem receita corrente regular que dê tranquilidade... Não teve interesse nos anos todos para o clube crescer. O mais grave é o conjunto da obra. As bravatas... Você viu Ronaldinho Gaúcho jogar no Vasco? Vasco não joga no Maracanã... Jogou, não jogou? Informo para o veículo de comunicação A e os demais não informo... Isso é queimar o dinheiro que não é seu. Não é profissional.
Primeira atitude, se eleito.
Conhecer o clube, chamar as forças políticas para uma pacificação, mostrar que todos nós somos vascaínos, que o objetivo é cuidar do Vasco. Não quero que nenhum conselheiro vá em uma reunião e que não possa falar, que seja agredido... O Vasco não pode ter inimigos e sim amigos. Tomar as medidas emergenciais para buscar parceiros de negócios, revisando a situação das dívidas e entendendo como funciona o futebol e as categorias de base.
Quais os planos para São Januário e um possível CT?
São Januário a ideia é um projeto que entendemos de ter auxílios no entorno de São Januário. Ter passagens diretas para a Avenida Brasil e Linha Vermelha, melhorar segurança, estacionamento, deixar as pessoas bem de assistirem os jogos, fechar a ferradura para ter a capacidade aumentada para 40 mil torcedores. São Januário tem que ser modernizado, ter uma estrutura que se pague, não é de outro mundo. Já Centro de Treinamento tem que ser em um terreno com no máximo 50 quilômetros de distância de São Januário, cinco campos de futebol, toda a estrutura médica, de tratamento, Caprres deslocado para o CT, alojamento para as categorias profissional e de base, um local bom.
O que fazer para crescer e dar credibilidade à marca Vasco?
O Vasco precisa, primeiro, retomar a sua identidade. O clube só é essa potência porque é uma mescla de vários vascaínos que em sua história contribuíram para o crescimento do Vasco. São Januário só foi erguido pelos imigrantes terem doado cimento para construção. Primeiro clube com negros. Principal palco de espetáculos do governo de Getúlio Vargas. Para resgatar isso, tem que tirar tudo de errado que aconteceu nos últimos 20 anos. Precisamos trabalhar mais a imagem dos ídolos que não estão mais em atividade. Usar o que é de moderno hoje, a internet, pelo bem. Entrar em São Januário e sentir um clima sem peso, mais tranquilo.
Com você no comando, o investimento nos esportes olímpicos será forte ou ficará em segundo plano pelo futebol?
Vamos trabalhar com os esportes que são tradicionais ao Vasco. Remo, basquete, futsal, natação e resgatar o atletismo. Dar a cada esporte um projeto próprio, têm condições para isso. Explorando as Leis de Incentivos Fiscais, hoje pouco feito pelo clube. O carro-forte é o futebol, quem diz que o contrário é mentira. Mas essas cinco modalidades que citei são importantes e conseguem patrocínio. Isso ajuda a melhorar a imagem do clube. Colocando especialistas em cada área.
Qual o plano para trabalhar o programa de sócio-torcedor?
Primeiro temos que conhecer esse plano pois hoje entendemos que ele não funciona. No início da gestão passada, o plano de sócio-torcedor que foi definido foi para a empresa que é responsável pelo do Internacional, que é um sucesso. Por razões internas, rescindiram esse contrato no Vasco. Aí contrataram outra que até o cadastro foi perdido. Hoje não me agrada, tem sócio que não consegue pagar não porque não tem dinheiro e sim por não ter uma condição de pagamento adequada. Garantindo receita fixa para o Vasco.
Na questão de patrocínio e fornecedora de material esportivo, o que fará se eleito?
Vamos conhecer os contratos vigentes. Verificar se é dentro do padrão Vasco ou se estão fazendo um favor. Fornecedor de material esportivo tem de ser parceiro, já que se fica por longo tempo. Tem que ser um mundial, com padrões ambientais na fabricação. Não é só por dinheiro que devemos assinar com alguma empresa. A camisa não pode virar macacão de Fórmula 1, tem de ser poucos, mas bons anunciantes, que tenham compromisso conosco. Devemos tomar ações rapidamente.
É a favor de uma reforma estatutária? E é a favor do Vasco passar a ter uma eleição direta?
Sim e sim. O estatuto precisa ser revisto. Várias coisas estão inadequadas. Não se deve ter membro do Conselho Fiscal atuando no Deliberativo. Pessoa da Diretoria Executiva sendo conselheiro, vai votar a favor dela própria. Além da eleição. Está elegendo uma ideia. No modelo ideal, a pessoa que você quis eleger, você descobre após a eleição, no Conselho Deliberativo, que não será presidente. O estatuto foi revisto recentemente para se adequar ao Código Civil, mas precisa de muito mais. Além do mais de que não podemos ter presidentes vitalícios, em quase 50 anos foram apenas cinco presidentes no Vasco, nenhuma renovação. Isso é inadmissível.
Deixe seu recado ao torcedor.
Torcedor e sócio vascaíno, entenda e acredite que a minha candidatura é voltada para o bem do Vasco. Ela foi lançada no último dia das inscrições das chapas justamente em função dos mesmos erros de 2014, a divisão das forças de oposição. A ideia do grupo foi lançar meu nome em função ao meu histórico de militância no Vasco, há mais de 20 anos. Tenho reconhecimento na minha profissão, na academia. Sou independente. E como todo vascaíno, pela paixão que tenho pelo Vasco. De olho na união de toda oposição, para dar condições da oposição vencer essa eleição. Ainda é possível, temos que enaltecer as qualidades de todos candidatos. Podemos derrotar não o Eurico, mas sim o Euriquismo. Toda uma cultura que não serve para o Vasco. Se não for possível agora para mim, pode ser no futuro. Queremos agora falar um idioma único. A torcida pode esperar um cara doido pelo clube. O Vasco voltará a ser o Expresso da Vitória, o protagonista do mundo.