Vasco entra em ação sobre anulação da eleição, rebate e pede tempo

Clube protocolou petição nesta quarta-feira na 28ª Vara Cível do TJRJ, com argumentos para que juízo aguarde contestação da parte antes de decidir sobre liminar pedida pela oposição

Petição do Vasco na ação sobre anulação da eleição
Última folha da petição do Vasco na ação da eleição que pede a anulação do pleito do clube (Foto: Reprodução)

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O Vasco entrou nesta quarta-feira na ação impetrada por Alan Belaciano, advogado ligado ao grupo "Sempre Vasco", liderado pelo ex-candidato à presidência Julio Brant, na 28ª Vara Cível do Tribunal de Justiça do Estado do Rio de Janeiro (TJRJ). Com a expectativa para a decisão liminar para esta semana, o clube fez questionamentos, rebateu argumentos e pediu tempo para que se defenda, antes que o juízo responsável decida liminarmente se anulará ou não o pleito. O LANCE! teve acesso a íntegra de sete páginas da petição e destrincha abaixo (confira a última página com a conclusão na imagem acima).

A primeira ação da petição, já cumprida pelo TJRJ, foi o cadastramento dos advogados do Vasco no processo - Rogério Peres, vice-presidente jurídico do clube, Chrisóstomo Telesforo e Bruno Pinheiro Barata, trio que também assina o documento. Nas considerações iniciais, o clube afirmou que "inicialmente, compulsando os autos, verifica-se que não foi expedido mandado de citação ou intimação", com o Vasco descobrindo a existência da ação por conta de matérias jornalísticas. A reportagem do LANCE! na última terça-feira foi usada como exemplo pelo clube.

O Vasco seguiu grifando que um perfil no Twitter teria antecipado na última terça que um integrante da "Sempre Vasco" afirmou que sairia nesta quarta liminar a favor para nova eleição do Vasco. Em nota oficial, o grupo rebateu o tweet dizendo que "essa mentira é típica daqueles que desejam tumultuar o processo e que não respeitam as instituições, notadamente, o Poder Judiciário. Lucram com o caos. Além da indignação e do veemente repúdio, adotaremos as devidas providências para responsabilizar os culpados".

A petição segue com o Vasco dizendo que os representantes jurídicos do clube tentaram despachar com a juíza Glória Heloiza Lima da Silva, que exerce suas funções na qualidade de tabelar, na última terça-feira. Ela será a responsável por decidir sobre esta ação que pede a anulação da última eleição cruz-maltina, realizada entre novembro de 2017 e janeiro deste ano, que culminou com a vitória de Alexandre Campello, que assumiu a presidência para o triênio 2018-2020. O caso passou para esta juíza após o juiz titular, Daniel Vianna Vargas, declarar impedimento no início deste mês.

O Vasco classificou estes fatos como gravosos, afirmando que em sua defesa não só apresentará as razões pelas quais acredita não se mostrarem configurados os requisitos para a liminar, como também, ao final, segundo o clube, "se mostrará absolutamente improcedente a demanda". Para fins ilustrativos, no tocante ao pedido liminar, o departamento jurídico do Vasco já colocou dois pontos na petição: neste momento inexistir exaustiva probabilidade do direito e possível ausência de perigo de demora.

No primeiro ponto, o Vasco argumentou que o pedido, visualmente, é extremamente complexo, tendo 40 folhas de alegações na inicial e mais de 1.110 páginas de documentos, disse também que a Assembleia Geral do clube já teve seu resultado modificado com o afastamento dos votos da urna 7, afirmou ainda que o inquérito policial, recentemente juntado pelo autor, não foi assertivo em detectar se realmente houve fraude nas demais urnas, quantos foram os votos e se estes seriam hábeis a anular todo o procedimento eleitoral (clique aqui e veja a reportagem sobre o inquérito na íntegra).

Ainda no primeiro ponto, o Vasco afirmou que a principal testemunha do inquérito que disse ter votado fraudulentamente em outra urna que não a urna 7 é de uma ex-funcionária que tem uma ação trabalhista contra o clube e que é patrocinada pelo escritório de advocacia do autor da ação. De acordo com a petição do Vasco, esta ex-funcionária é "notória inimiga política do atual presidente da Diretoria Administrativa", mostrando um suposto print de uma conversa no Whatsapp entre a ex-funcionária e Alexandre Campello, com possíveis ofensas.

Por fim no primeiro ponto, o Vasco argumentou que com a desistência da Chapa Branca, a Mudança com Segurança, encabeçada por Fernando Horta, necessariamente a Chapa Azul, a Reconstruindo o Vasco, liderada por Eurico Miranda, elegeria membros para o Conselho Deliberativo, "mesmo que fosse com apenas um único voto". Vale destacar que Horta, horas após o início da votação, anunciou que estava apoiando Julio Brant, mas mesmo assim as suas cédulas seguiram nas cabines de votação e a ata oficial publicada pelo Assembleia Geral, então presidida por Itamar de Carvalho, contabilizou os votos individuais dele - 429, não considerando a urna 7.

No segundo ponto, o Vasco afirmou que a Assembleia Geral que se pretende anular se encerrou em 7 de novembro de 2017, o pleito em 19 de janeiro de 2018, tendo somente o pedido de liminar distribuído em 30 de agosto de 2018, o que não demonstra, segundo o clube, a citada urgência. Vale destacar que este é o segundo pedido de anulação da eleição do Vasco feito pelo advogado do grupo opositor, que tentou a primeira vez em junho na 52ª Vara Cível do TJRJ, mas que acabou negado, sem mérito, pela juíza Maria Cecília Pinto Gonçalves, a que anulara a urna 7 no início do ano (clique aqui e relembre a reportagem).

Ainda no segundo ponto, o Vasco afirmou que se a liminar for deferida, "criar-se-à um universo de imensa insegurança jurídica que certamente ocasionará no total colapso do clube, especialmente financeiro, que culminará na suspensão de cerca de 80 acordos judiciais e extrajudiciais já realizados com credores, razão pelo qual restabeleceria a execução de mais de R$ 200.000,00 (duzentos milhões de reais) [nota da redação: na petição protocolada pelo Vasco consta exatamente desta forma, com o valor em extenso não sendo o mesmo reproduzido em numeral], isso somente na esfera cível, fora os parcelamentos tributários realizados e os acordos trabalhistas e esportivos que visam todos à equação do passivo financeiro encontrado pela atual administração, jogando por terra todo o trabalho realizado pelas empresas de consultoria financeira contratadas pelo réu, entre elas a KPMG, a BDO e à Grand Thorton".

Por fim no segundo ponto, o Vasco argumentou que "caso seja deferida a tutela pleiteada pelo autor, sem a oitiva da parte ré, estará sendo violado o direito de 150 conselheiros eleitos (...) que vem atuando junto ao Conselho Deliberativo" e que "existe flagrante perigo de irreversibilidade sobre eventual medida anulatória em sede liminar, posto que impediria a manutenção do cenário de credibilidade do réu perante o mercado, o que poderá impactar frontalmente os acordos até então celebrados, culminando, ainda, em incalculáveis prejuízos financeiros e esportivos, como por exemplo, a incapacidade da manutenção de pagamento de salário e obrigações de funcionários e de atletas do futebol profissional, de base e dos esportes amadores".

Na conclusão, o Vasco alegou que "já se verifica que qualquer medida antecipada neste momento sem que sejam apresentadas todas as questões de fato e de direito capazes de obstar esta aventura jurídica irresponsável e inconsequente, além de extremamente gravosa, violará os princípios constitucionais do contraditório, da ampla defesa e do devido processo legal, razão pela qual espera o réu que esse juízo se dignará de analisar o pedido de urgência somente após a apresentação da contestação, onde serão combatidos todos os argumentos falaciosos apresentados pelo autor em sua petição inicial". Terminou dizendo que confiar a magistrada, "por razões de conveniência, boa-fé e cautela, se dignará de aguardar a juntada da contestação para que se analise o pedido de tutela de urgência".

O LANCE! procurou os envolvidos após a petição. O Vasco afirmou que não iria se pronunciar sobre o caso, mesma posição dada pelo grupo "Sempre Vasco". A reportagem também procurou o TJRJ para um posicionamento pela demora na citação alegada pelo clube e a tentativa de encontro dos representantes jurídicos cruz-maltinos com a juíza tabelar que decidirá o caso, mas não teve um retorno até esta publicação.

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