Exclusivo! Sócios da urna 7 detalham as fraudes na eleição do Vasco
Chamados por X e Y por este LANCE!, dois sócios que votaram na urna sub judice falam como foram aliciados e apontam benefícios como camisas e ingressos para jogos
O LANCE! conversou com exclusividade com dois sócios do Vasco que votaram na urna 7 da eleição do Conselho Deliberativo na terça-feira da semana passada. Eles revelaram como foi o esquema de aliciamento com membro do alto escalão da diretoria do Cruz-Maltino, comandado por Eurico Miranda. Apontaram também as irregularidades e benefícios para o pleito. Na edição impressa no Rio de Janeiro do L! desta quarta-feira você também confere esta reportagem.
A pedido dos sócios, eles serão identificados durante esta reportagem como “X” e “Y”. Nos vídeos, imagem e voz foram distorcidos pela segurança dos denunciantes. O sócio X foi o primeiro a explicar como recebeu a proposta. Ele e o amigo Y nunca pagaram nada ao clube. O aliciador pediu para preencher com todos os dados as fichas, mas não datar, o que possibilitou ser colocada uma data retroativa de um ano na categoria “sócio geral”, quando ela ainda existia.
– Foi oferecida uma ficha de inscrição através de uma pessoa do alto escalão dentro do Vasco. Pediu para que não fosse colocada data nesta ficha. E isso foi em novembro do ano passado. Chegou a ficha para a gente, entregamos, e a carteirinha veio com datas retroativas, de 2015 – disse o sócio X, que completou sobre o número de seu CPF, não respeitado o que cadastrou na ficha e sim colocado número aleatório, inexistente:
– O meu CPF veio com erro, todo errado. Fiquei surpreso ao receber a carteirinha. Apenas imaginei que tinha sido um erro e que alguém que teria outra carteirinha estaria com meu CPF impresso nela.
ASSISTA ABAIXO TODAS AS DECLARAÇÕES DO SÓCIO X
(a matéria segue após o vídeo)
Confraternizações eram oferecidas pelo membro do alto escalão, com distribuição de camisas e ingressos de cortesia para os jogos. O sócio X foi a alguns destes encontros. O aliciador estava presente e ainda entregava fichas nestas ocasiões. Outros dirigentes do Vasco, segundo o denunciante, também estavam presentes, apesar de não terem conversado com os nomes aliciados:
– Teve confraternizações com apoiadores do Eurico. Não falaram nada, mas faziam distribuição de camisas, tinha carros com propaganda do Eurico, meio que sabíamos que ali só estava quem iria votar no Eurico. O responsável pela distribuição das fichas estava presente nestas ocasiões, o Eurico não. Teve um momento que teve entrega de fichas nestas confraternizações, mas foi mais ou menos na minha época. Dirigentes do clube participaram sim, mas não teve contato direto conosco lá.
X e Y se veem como sócios fantasmas. Os dois, com as matrículas de associados, afirmaram não conseguir acesso aos benefícios que teriam, como acesso ao portal e desconto nos ingressos. Ao entrarem em contato com o clube, não eram atendidos ao informarem os seus dados, inexistentes em sistema. O Y chegou a receber uma carta quatro dias antes da eleição com a assinatura do Eurico Miranda, remetida pelo Vasco, e cédula da chapa de situação.
– Não estranhei porque perto da véspera da eleição já desconfiava do que era. Isso porque antes disso eu tinha ido a um jogo e tentei comprar com o cartão de sócio. E aí deu sócio não cadastrado. Então vi que sócio eu não era, estava ali só de fantasma. Tenho o sentimento de que eu fui enganado. Porque achei realmente que eu estava fazendo uma triagem para me tornar sócio. E vi que ele estava comprando votos, que realmente queria comprar votos – afirmou Y, completando que ao lado do amigo X, ao perceber que estavam dentro de um esquema, não votaram em Eurico Miranda e sim em Julio Brant:
– Primeiro conversamos. E chegamos na conclusão de votar no Brant. No dia eu nem ia votar nele, votaria no Horta porque achei que estaria na frente. Mas pela boca de urna o Brant estava na frente e aí votei no Brant. Só pensamos nisso, só votar contra ele. Não pensamos em denunciar porque achamos que não teria necessidade. Pela boca de urna o Brant estava na frente. Foi na hora de contar os votos, principalmente da urna 7, que o Eurico disparou. Conversamos no dia seguinte e resolvemos falar tudo que aconteceu. E não me arrependo. Porque penso da seguinte maneira. Se eu não tivesse aceitado, eu não teria ido, não teria votado no Brant, e não estaria jogando tudo agora no ventilador. Sabiam que ali 90% que estava indo votar era de esquema.
ASSISTA ABAIXO TODAS AS DECLARAÇÕES DO SÓCIO Y
(a matéria segue após o vídeo)
O LANCE! entrou em contato com o Vasco que informou "lamentar a exposição que seus sócios estão sendo submetidos com a série de inverdades sobre o processo eleitoral que estão sendo veiculadas”. Na semana passada após a eleição, Eurico Miranda havia dito que o clube teria condições de provar que todos estavam regulares, apesar de não ter descartado que existisse “um ou dois” irregulares. Vale lembrar que com a urna 7, sub judice, Eurico Miranda foi o vencedor do pleito com 2111 votos, enquanto Julio Brant teve 1975 votos. Sem a urna 7, Julio Brant venceria com 1935 votos, e o atual mandatário cruz-maltino ficaria com 1683 votos.
A questão está nas mãos da Justiça, que ainda não tem data para a decisão final.
LINHA DO TEMPO
Contato inicial
O sócio X recebeu o contato do membro do alto escalão do Vasco em novembro de 2016, com fichas a serem preenchidas com todos os dados, mas sem a data. No cadastro final, foi colocado uma data retroativa de um ano para ser incluído como “sócio geral”, quando ainda existia.
Confraternizações
Nomes que acabaram votando na urna 7, a sub-judice, foram chamados para participarem de confraternizações de apoiadores de Eurico Miranda, comandada pelo membro do alto escalão do Vasco que os aliciaram. Brindes eram oferecidos, como camisas e ingressos para jogos.
Carteirinhas
Sócios X e Y são amigos e votaram na urna 7. Preencheram as propostas em novembro de 2016, com as carteirinhas chegando em suas residências somente dois meses antes do pleito e com erros de CPF e datas de admissão. Ficaram neste período alheios aos acontecimentos.
Esquema percebido
Com todos os indícios, os sócios X e Y afirmaram perceber que estavam dentro de um esquema, sendo sócios fantasmas para a situação, na eleição. Por isso, já decidiram que não votariam em Eurico Miranda e sim no candidato que teria maior chance de vencer, Julio Brant.
No dia da votação
No dia da eleição os sócios X e Y votaram em Julio Brant. O Y, mesmo recebendo a cédula de Eurico Miranda quatro dias antes, “traiu” o esquema. No dia seguinte, a dupla se reuniu e decidiu que jogaríam o caso no ventilador.
Pós-eleição
Os dois confiam na Justiça e que a urna 7 será anulada, com Eurico Miranda perdendo a eleição para Julio Brant. E irão procurar a regularização no clube como sócios, com dados certos e passarão a pagar, deixando a era fantasma.
NA JUSTIÇA
HD apreendido
Em agosto deste ano, em ação conjunta entre a Justiça e a polícia militar, um HD do banco de dados da secretaria do clube foi apreendido na empresa que administra os dados de pagamento do Vasco. A oposição confia neste HD para comprovar as irregularidades na lista de sócios.
Urna separada
No dia 30 de outubro, a juiza Maria Cecília Pinto Gonçalves, da 52 Vara Cível do Tribunal de Justiça do Estado do Rio, decidiu que 691 sócios votariam em uma urna separada (apenas 475 compareceram na votação). Elas entraram no quadro social entre novembro e dezembro de 2015, limite para estarem aptas ao voto e, de acordo com a oposição, não houve comprovação de pagamento. Como não houve tempo hábil para a apuração junto ao clube, a juiza tomou esta atitude.
Decisão na véspera
No dia 6 de novembro, uma audiência no Juizado Especial do Torcedor e dos Grandes Eventos do Rio de Janeiro determinou um rito a ser seguido na eleição, como por exemplo a proibição da votação de membros da Força Jovem, mesmo que fossem sócios.
48h e liminar
A juíza Maria Cecília Pinto Gonçalves determinou que o Vasco apresentasse os documentos comprobatórios de pagamento dos sócios e a chave do cadeado da urna 7. Três pedidos de liminares foram feitos por pessoas ligadas à diretoria, onde o clube não fosse obrigado a apresentá-los. Até o fechamento desta edição, a Justiça havia indeferido dois dos três pedidos.
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