‘Minha carreira não precisa ser recuperada’. Mas o velho Luxa mostra sua cara no Vasco
Características famosas do treinador que fez tanto sucesso em décadas passadas voltaram a ser vistas no trabalho que tirou o Cruz-Maltino da lanterna e colocou no meio da tabela
Quando Vanderlei Luxemburgo foi contratado pelo Vasco, no início do Campeonato Brasileiro, houve quem criticasse tanto o clube, por ter apostado num treinador desempregado desde 2017, quanto o próprio técnico, por ter topado o desafio de tirar o time da zona de rebaixamento - o que se mostrava, à época, quase insolúvel. Faltam 11 rodadas para o fim da competição e assim como o Cruz-Maltino está mais perto G6 do que do Z4, o trabalho em curso é dos que gerou maior arrancada no país.
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Mas ai de quem transparecer ao treinador vascaíno que o minimiza. No último domingo, o Vasco se tornou o primeiro time a derrotar o Internacional, em casa, neste Brasileirão. Ainda quebrou um tabu de 12 anos sem vencer no Beira-Rio. Após a partida, o técnico, mesmo em tom calmo, foi firme ao responder uma pergunta sobre possível "retomada" na carreira.
- Um pouco de covardia. "Recuperar uma carreira"... minha carreira não precisa ser recuperada, é brilhante. Toda a minha trajetória. Eu quis voltar. Tinha outras atividades (empresário do ramo audiovisual e de bebidas). Mas ninguém tem o direito de querer parar alguém de trabalhar. As pessoas teimam em fazer isso. Eu aprendi foi a usar os termos de hoje em dia: marcação alta, jogo reativo... mas, dentro de campo, não mudou absolutamente nada. Se tiver bons jogadores, tem que montar boa equipe. Se não tiver bons jogadores, tem que montar de acordo - devolveu o treinador, antes de completar:
- O Vasco não tem uma equipe igual a do Flamengo. Então tem que saber ficar retraído. E eu não preciso reconstruir nada. Só se eu tivesse algo muito desagradável. Mas poucos profissionais no futebol mundial devem ter a carreira que eu tenho - afirmou.
Na prática, Luxa comanda um Vasco que, embora no meio da tabela, esteve afundado na zona de rebaixamento e, atualmente, tem um dos melhores desempenhos do segundo turno. Enquanto obtinha os primeiros pontos, o time ganhou padrão. Primeiramente, a força na marcação com os três volantes. Mais recentemente, ele permitiu à equipe ser mais ousada, adotando o 4-2-3-1 tão comum no futebol brasileiro atual.
Mas também há argumentos para os críticos do comandante de 67 anos. Afinal, não deixou saudade na maioria do clubes por onde passou nos últimos anos. Os últimos títulos foram o Campeonato Pernambucano de 2017, com o Sport; o Carioca de 2011, com o Flamengo; e o Mineiro de 2010, com o Atlético. Mas a maioria dos 30 troféus que levantou foram nas décadas de 1990 e 2000.
Por onde passou, Vanderlei deixou algumas polêmicas, mas também colecionou elogios em relação à capacidade de leitura das partidas. E tal virtude tem sido vista à exaustão no Vasco. Mais recentemente, diante do Botafogo, travou a evolução do time de Alberto Valentim na segunda etapa. Contra o Internacional, fez uma substituição e três trocas de função ainda no intervalo, e o gol da vitória saiu nos primeiros minutos da etapa final.
Restam 11 rodadas a serem disputadas, nem livre do rebaixamento o Vasco está ainda. Mas o time cruz-maltino está em alta. Assim como também está o comandante. A recente sondagem do Internacional prova que o mercado, se antes pareceu tê-lo esquecido, novamente lhe vê com bons olhos.