Sócios da polêmica urna 7 citam irregularidades na eleição do Vasco

À TV Globo, dois sócios que votaram no pleito do Conselho Deliberativo do clube disseram que nunca pagaram mensalidades e que teve orientação a voto para Eurico Miranda

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Em entrevista à TV Globo, dois sócios do Vasco que votaram na polêmica urna 7 da eleição do Conselho Deliberativo na última terça-feira admitiram ter irregularidades no processo. Com a contabilização destes votos, Eurico Miranda pela chapa Reconstruindo o Vasco foi a vencedora. Sem estes votos, a vitória ficou com Julio Brant na chapa Sempre Vasco Livre.

Por questões de segurança, estes dois sócios pediram para não serem identificados. Um disse que não pisou em São Januário desde março deste ano e os dois garantiram nunca ter pago nada ao Vasco. Também teve pedido para que se virasse associado e votasse em Eurico Miranda em março deste ano, sendo que a sua inscrição no clube foi registrada em dezembro de 2015.

- Um amigo meu ligado ao Vasco foi até minha casa e pediu para eu ser sócio do Vasco, para votar no Eurico Miranda. Isso foi em março desse ano. Nunca fui em São Januário para assinar nada. Nunca paguei nada – disse o sócio “A”, que completou que foi para o estádio somente no dia da votação e não seguiu a orientação de votar em Eurico Miranda:

- Esse meu amigo que me pediu para votar no Eurico Miranda. Ele me pegou e levou para votar. Ele achava que eu ia votar no Eurico... só que eu votei no Júlio. Eles falavam que se o Eurico ganhasse a gente teria benefícios. Muitos benefícios. Que a gente ia ter um leque para explorar.

Em comparação com o sócio "A" ouvido pela reportagem, o sócio “B” esteve em São Januário antes da eleição, indo até ao estádio para fazer o cadastro de sócio. Além de sua ficha, encaminhou junto a de outros amigos que também queriam se associar. E por conta de ter sentido medo, votou em Eurico Miranda:

- Eu entrei de sócio no final de 2016. Na lista está que minha adesão foi em dezembro de 2015. Eu na época tinha muita vontade de virar sócio, porém não tinha condição para isso. Um amigo me levou até a um segurança do Vasco e perguntou se tinha como me colocar no esquema. Esse segurança perguntou se eu queria mesmo e me deu uma ficha para preencher. Jamais paguei um centavo. Tinham pessoas com 20 fichas, pessoas com 10 fichas. São pessoas que preenchem 10 fichas ali na hora e levam mais dez para casa para outras pessoas preencherem. E fica nisso. Até um pouco tempo antes da eleição, recebi muitas ligações. Eles só falavam que eram do Vasco. Perguntavam se eu ia buscar a carteirinha e também se eu iria votar. Não chegava a ser uma intimidação, mas era uma pressão para que eu desse uma resposta a eles.

Na noite da última quinta-feira, na primeira entrevista coletiva após a eleição, Eurico Miranda rebateu as acusações, disse que comprovaria as regularidades por parte do Vasco, mas não descartou que possa ter "um ou dois" irregulares no caso:

- Pelo que entendi, você proclama o resultado e coloca a urna 7 sub judice. Tudo bem. Deve estar na ata, não sou eu que faço. A ata da assembleia claro que vai constar, não tem nenhum problema. A urna está sub judice, mas isso não influi no resultado. Se comprovar amanhã que os votos ali são irregulares é uma coisa, mas isso depende de comprovação. Eu não tenho dúvida que talvez possa se fazer lá em um ou dois, pode acontecer. Em relação da parte do Vasco, não pode acontecer com nenhum. Todos estão devidamente registrados na secretaria. Todos estão devidamente com suas contribuições registradas na contabilidade. Isso é o que importa. Apesar de ela não gostar sobre o fato de alguém pagar, alguém paga tudo bem. Está bom, e daí? Se pagou, pagou. Ótimo. O importante é saber se o dinheiro entrou. O volume é tão pequeno que não fico nem preocupado com a origem desse dinheiro. Ficaria preocupado com volume grande. Vem aqui para pagar 300 reais, 400 reais de dez associados... Qual é o crime? Não vejo crime nenhum nisso.

A ação que resultou na separação da urna 7 na votação do Vasco nesta semana foi impetrada pela chapa de Fernando Horta, então candidato no pleito, mas que no meio da votação retirou a candidatura em apoio a Julio Brant. Foi elaborada por eles uma lista com 691 sócios com suspeita de irregularidades - 475 acabaram votando no dia da eleição, sendo cerca de 90% dos votos a Eurico Miranda.

A juíza acatou o pedido e deu uma liminar para a votação destes sócios em separado. Estes 691 nomes são referentes a sócios que entraram no quadro social do Vasco entre os meses de novembro e dezembro de 2015. Não teria comprovação de pagamento desses sócios, levando até em consideração o balanço fiscal do clube. No despacho da última quarta-feira, ela determinou que em 48 horas todos os comprovantes sejam entregues em juízo - o Vasco recebeu a notificação nesta sexta e tem até terça para cumprir.

Os sócios sob suspeita na decisão da juíza entrariam na contagem somente depois de apurados por completo. O resultado final da eleição do Vasco com as sete urnas apuradas foi de Eurico Miranda vencedor com 2111 votos, enquanto Julio Brant teve 1975 votos. Sem a urna 7, Julio Brant venceria com 1935 votos, e o atual mandatário cruz-maltino ficaria com 1683 votos.

O Vasco proclamou o resultado com a urna 7, o que não deveria ter sido feito, o que resultou nesta última decisão da Justiça. A "urna da discórdia" no mesmo dia foi levada por policiais militares para ser entregue em juízo, faltando ainda a chave do cadeado - o que a juíza mandou ser entregue no último despacho também em até 48 horas.

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