Do interior do Brasil para o mundo, Vic ‘colou’ em família de craques e hoje lidera geração do vôlei de praia
Sul-mato-grossense chamou atenção de Cida Lisboa, mãe da campeã do Circuito Mundial Duda, foi morar em celeiro de talentos e hoje é aposta da CBV para renovar a modalidade
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Paixão. Mesmo quando, à primeira vista, bate a sensação de estranheza. Dedicação. Mesmo quando a vontade é largar tudo e viver na zona de conforto parece a melhor saída. Em um país carente de incentivos para que se prospere no alto rendimento, Vic, de 22 anos, surgiu no interior, aproveitou as oportunidades, colou em um verdadeiro celeiro de craques e hoje é aposta do país para tentar recolocar a modalidade em destaque no cenário mundial.
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Com um currículo recheado de conquistas, a brasileira de Ivinhema, no Mato Grosso do Sul, lidera a delegação do vôlei de praia brasileiro nos Jogos Pan-Americanos Junior de Cali, na Colômbia, competição que, nesta modalidade, conta com atletas sub-23 e dará aos campeões uma vaga nos Jogos Pan-Americanos de Santiago-2023.
Vic forma dupla com Tainá nas principais competições, como o Circuito Mundial e o Circuito Brasileiro, mas, no evento colombiano, ela vai tentar o ouro com Thainara, de 20 anos, uma vez que a parceira habitual tem 26, acima do limite. Elas estreiam nesta quarta-feira, às 11h40 (de Brasília), contra Antígua e Barbuda.
Na década em que o mundo do vôlei de praia observou os europeus acabarem com a hegemonia de Brasil e Estados Unidos, ao ponto de a delegação verde e amarela deixar os Jogos Olímpicos de Tóquio sem medalha pela primeira vez na história, Victoria Lopes caminhava passo a passo para se tornar "grande".
Inicialmente, ela chamou a atenção nas disputas regionais do vôlei de quadra em seu estado. Graças à habilidade, a jovem foi convidada para migrar para a praia.
- Eu comecei jogando o vôlei indoor na minha escola. E fui chamada por um treinador lá do mesmo estado, o Antônio Carlos, o D’Lua, em Três Lagoas (MS), e aceitei o convite. Chegando lá o treinamento era na areia. Eu achei aquilo um pouco estranho, mas fui treinar. Aí disputei minha primeira etapa e foi amor à primeira vista. Depois de jogar a primeira competição me apaixonei pelo vôlei de praia e não larguei mais - disse Vic, ao LANCE!.
Em 2015, Cida Lisboa, mãe e técnica de Duda, campeã do Circuito Mundial de 2018 ao lado de Ágatha, viu potencial em Vic e a convidou para viver e treinar junto com a filha em São Cristóvão (SE).
O entrosamento deu certo, e as duas foram campeãs mundiais sub-19 em 2016. Desde então, Vic mora na cidade sergipana e tem Cida como treinadora e virou uma “irmã” de Duda, com quem mantém fortes laços de amizade.
- Eu e Duda nos consideramos irmãs mesmo. Há cinco anos a Cida, mãe da Duda, me convidou para morar e treinar lá em São Cristóvão (SE). Então passamos sempre muito tempos juntas, jogando os mesmos campeonatos. Compartilhávamos diversos momentos, viajávamos de férias juntas. Sempre fizemos questão de estarmos próximas. Nossa relação é essa, como irmãs mesmo - conta Vic.
Em Itapema (SC), em novembro, Vic alcançou seu melhor resultado no Circuito Mundial até agora em etapas 4 estrelas, ao terminar em quarto lugar ao lado de Tainá.
- Eu e Tainá nos dedicamos muito. Sabemos que temos que dar 100% ao vôlei de praia. Eu renunciei a muitas coisas, como festas e passeios, de estar com a família em datas especiais, tudo isso para estar ali treinando. É um esforço de nós duas para seguirmos trabalhando e evoluindo - destacou Vic, satisfeita com a escolha pela carreira que seguiu e cheia de perspectivas para o ciclo olímpico.
- Em 2016, quando entrei no ranking do Open, que é a categoria profissional, vi que poderia me sustentar com o vôlei de praia. Poderia me manter, investir nesta carreira, me dei conta que tinha me tornado uma atleta profissional.
Pan serve de laboratório para renovação na modalidade
Em Cali, as duplas foram divididas em quatro grupos de quatro, que jogam entre si. Os dois primeiros de cada seguem para as quartas de final. No feminino, o Brasil está no Grupo C, ao lado de Antígua e Barbuda, Venezuela e Canadá. No masculino, a dupla brasileira formada pelos gêmeos Rafael e Renato Andrew está no Grupo B, com Costa Rica, Bolívia e Cuba.
Vic e Thainara enfrentariam na terça-feira a dupla de Antígua e Barbuda, mas as adversárias não se apresentaram. As brasileiras seriam declaradas vencedoras por WO, mas a organização do Pan Junior decidiu rever a decisão e remarcou a partida para esta quarta-feira, às 11h40 (de Brasília).
- Estou feliz demais de poder estar nos Jogos Pan Americanos Junior. E feliz em poder defender nosso país mais um vez. É sempre uma honra defender a nossa bandeira. Tivemos algumas semanas em Saquarema, com treinamentos intensos, para poder chegar aqui e lutar pelo lugar mais alto do pódio. Eu espero poder levar o ouro para o Brasil. É sempre uma responsabilidade muito grande, eu sempre sonhei viver esse momento. Mas me sinto muito preparada para levar mais uma medalha para o Brasil - disse Vic.
A oportunidade de observar a nova geração em um evento multiesportivo motiva o campeão mundial Guilherme Marques, hoje gerente de vôlei de praia da Confederação Brasileira de Vôlei (CBV).
A entidade pretende observar as jovens promessas ainda mais de perto ao longo do ciclo olímpico, com o objetivo de aumentar a competitividade interna para os Jogos de Paris-2024 e Los Angeles-2028.
- Estamos bastante animados com a possibilidade de jovens jogadores, que estão em nosso radar como promessas para o futuro, jogarem uma competição internacional tão importante. Esta é a primeira edição dos Jogos Pan-Americanos sub-23 e vai proporcionar uma experiência muito interessante para estes jovens. A participação deles em eventos deste porte faz parte da formação destes atletas. Teremos a possibilidade de observar como eles se comportam dentro de quadra, em situações novas de jogo, e as atuações fora de quadra. É uma oportunidade de avaliar os novos talentos - disse Marques.
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