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Dupla brasileira sai da sombra e vira ‘grande’, mas luta para pagar contas

Maria Elisa e Carol veem parceria dar fruto e se tornam perigo para rivais, graças ao dinheiro dos próprios bolsos. Nos EUA, elas visam evolução e prêmio para pagar salários

Carol Solberg e Maria Elisa lutam para se manter entre as melhores duplas do mundo
Divulgação

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Dupla brasileira mais bem posicionada no ranking do Circuito Mundial de vôlei de praia na temporada, na quarta colocação, Maria Elisa e Carol testam suas habilidades nas areias enquanto fazem contas para pagar uma equipe que cresce na mesma proporção das ambições das duas.

Veteranas no assunto, elas decidiram investir dinheiro dos próprios bolsos para elevar a performance e competir de igual para igual contra as melhores do cenário. Ainda que o plano tenha começado de forma despretensiosa, as conquistas começaram a aparecer.

Nesta quarta-feira, a parceria estreia no Major de Fort Lauderdale (EUA), etapa cinco estrelas do Circuito Mundial, a partir de 13h30 (de Brasília), contra as ucranianas Davidova e Schypkova, em busca da evolução e de um prêmio de 40 mil dólares (cerca de R$ 130,6 mil). Um valor fundamental para custear os salários de técnico, preparador físico, fisioterapeuta, estatístico e outros. 

– O cartão de crédito chega no fim do mês. Tivemos a sorte de vencer torneios, e a conta tem fechado. Mas, se não chegamos à final, não fecha. Bons profissionais não são de graça. E não dá mais para trabalhar só pela amizade – contou Maria Elisa, de 34 anos, ao LANCE!.

No ano passado, as duas gastaram praticamente o mesmo valor da premiação da etapa americana em viagens, alimentação e hospedagem no Circuito. Ao entrarem no top 3 nacional, ganharam ajuda da Confederação Brasileira de Vôlei (CBV) com passagens e despesas básicas nos torneios fora do país.

Atualmente, elas aparecem à frente no ranking de entradas da Federação Internacional (FIVB) de duas equipes formadas por pelo menos uma medalhista olímpica, e que também disputarão a etapa: Ágatha, que joga ao lado de Duda, e Bárbara Seixas, hoje com Fernanda Berti. Em melhor situação, as rivais contam com patrocinadores.

– É muito chato, mas eu sabia que teria gastos, pois vim de uma gravidez. Olho como um investimento na minha carreira. Quando vamos bem, termino o torneio e pago todo mundo, sem ter de botar do meu bolso. Se não vou bem, simplesmente pago do meu. Mas uma hora vai pintar alguma coisa – disse Carol, de 30 anos, e mãe de José, de cinco anos, e de Salvador, de um ano e sete meses.

Maria Elisa e Carol estão em segundo lugar no ranking brasileiro e disputam com Ágatha/Duda posto de dupla número 1 do Brasil no momento. 

Mais duplas do país avançam

Mais duas duplas brasileiras conquistaram ontem a classificação para a fase de grupos do Major de Fort Lauderdale (EUA). No qualificatório, Taiana e Carol Horta venceram as sérvias Matic e Milosevic e as neozelandesas Wills e Polley.

No masculino, e Pedro Solberg e George bateram os chineses Gao e Li, e Rumsevicius e Kazdailis, da Lituânia. Já Álvaro Filho/Saymon passaram pelos chineses Wang e Zhou, mas perderam para os tchecos Perusic e Schweiner e, assim, não se classificaram.

BATE-BOLA
Maria Elisa Jogadora de vôlei de praia

‘Hoje, eu sou uma jogadora mais lúcida. Entendo mais as partidas’

A dupla ficou mais visada? Como sente a parceria no cenário?
Os times hoje estão muito profissionais. O conteúdo que as duplas têm da gente está maior. Desde o início, nossa postura não mudou por termos virado primeiras do ranking. Sabemos que podemos perder para qualquer time. Não começamos com um ranking bom. Jogávamos os qualificatórios e focávamos em todos os jogos, sem saber o que poderia acontecer. Agora, buscamos sempre jogadas novas para surpreender.

Como se sente aos 34 anos?
Hoje, eu entendo mais o jogo. Sempre tive habilidade, mas não compreendia tanto por que ganhava ou perdia. Sou uma jogadora mais lúcida agora.

Qual a sua perspectiva para a disputa da Olimpíada de 2020?
É uma escada ingrime. A dificuldade me motiva. Isso pode me trazer algo grande, mas só pensarei nisso depois.

Como lida com essa indefinição financeira da equipe?
Nosso staff aumentou. Infelizmente, estamos indo em câmera lenta. Queremos ter um fisiologista, mas temos que ter paciência. E gostaríamos de pagar melhor quem está conosco. Pagamos o que podemos.

E a premiação das etapas do Brasileiro? O quanto este dinheiro ajuda?
A premiação ajuda, mas antes tínhamos 12 etapas do Circuito. Se você pensar, eram 12 salários. Agora, são apenas sete. Por outro lado, melhorou, porque a CBV paga hoje aos três primeiros times o nos torneios internacional. Nós passamos por uma fase em que pagávamos tudo. Fizemos grandes resultados no Mundial e pelo menos saímos do 0 a 0. Não vivi isso no meu ciclo olímpico de Londres-2012. Temos uma comunicação boa com a CBV. Não só os atletas estão vivendo uma crise, então a parceria é fundamental.

BATE-BOLA
Carol Jogadora de vôlei de praia

‘Em nenhum momento penso em não seguir em frente no vôlei’

Qual foi a importância de encerrar a parceria com sua irmã Maria Clara e buscar outros desafios?
Qualquer mudança é enriquecedora. Passei quase 13 anos jogando com a Maria, naquele ambiente de família. Foi muito especial. Comecei nova, com 15 anos já era profissional. Eu me sinto privilegiada por ter dividido tantas alegrias e tristezas ao lado dela, e da minha mãe (Isabel). Mas quando você muda, abre a cabeça, aprende. Hoje, eu me sinto bem forte e confiante.

Em 2016, você estava em baixa no cenário e a crise piorava. Pensou em focar só na maternidade?
Em nenhum momento penso em não seguir em frente. Sou muito feliz em quadra. Isso me alimenta. Talvez eu não vá fazer tanto dinheiro no vôlei, mas foi o que escolhi para a vida.

Pensa em Tóquio?
É meu sonho, é claro. Mas não temos garantia de nada. Vivo dia após dia.

Como é o ambiente com a Maria Elisa?
É muito fácil a relação com a Maria. Somos diferentes de gostos, como música e filmes, por exemplo mas damos risada. Nos respeitamos e nos ajudamos na vida da outra. Acreditamos que a relação fora é tão importante quanto dentro.

Com a palavra

Sacrifício é de todos

Luciano Kioday
Técnico de Maria Elisa/Carol

Começamos essa história com um pouco de sacrifício de todo mundo. Colocamos nossa energia e todos têm se sacrificado. As meninas entram com a parte do dinheiro e todos aceitam ganhar pouco, porque acreditam na ideia. Vivemos uma história tão legal e não sabemos até que ponto poderemos levar. Na maioria dos torneios, mesmo com os bons resultados, o ganho é mínimo. Mas nós queremos muito ir à Olimpíada.

No vôlei de praia, você não é obrigado a ser dar bem com seu parceiro. Mas se isso acontece, é um passo à frente. Eu já trabalhei outra vez com a Carol, e conhecia a Maria desde quando era jogador, e era amigo. Tudo isso facilitou. Tomamos cuidado desde o início. Sabíamos que estava todo mundo na nossa frente. Ganhando ou perdendo, daríamos nosso melhor. Mantemos os pés no chão, mas é sempre bom ter um início tão feliz como estamos tendo.

A TRAJETÓRIA

2017
Campeãs da etapa Challenger do Circuito Brasileiro no Rio de Janeiro; 5 lugar em Open Moscou do Circuito Mundial; 5 lugar na Copa do Mundo em Viena; Campeãs da etapa de Haia do Circuito Mundial; Vice-campeãs etapa em Campo Grande do Circuito Brasileiro; Vice-campeãs da etapa em Natal do Circuito Brasileiro; Campeãs da etapa de Itapema (SC) do Circuito Brasileiro.

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2018
Vice-campeãs da etapa de Haia do Circuito Mundial; Campeãs da etapa de Fortaleza do Circuito Brasileiro. Na etapa de João Pessoa, ficaram nas quartas.

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