Bahia usará camisa 24 em campanha contra homofobia nesta terça-feira
Pelo respeito e dignidade humana, clube faz ação com número tabu no mundo do futebol e faz crescer discussão a respeito da garantia de direitos individuais no Brasil
Nesta terça-feira, o volante Flávio, do Bahia, entrará em campo vestindo a camisa 24. Essa ação singela é um audacioso passo na luta contra a homofobia no futebol brasileiro encampada pelo clube, que desde 2018 está na linha de frente de uma corajosa campanha contra preconceitos como o machismo, o racismo e a homofobia.
O esforço acontece para debater o respeito no futebol e discutir um símbolo dessa agressividade em torno do número 24 entronizado com o lançamento do jogo do bicho, em 1892, como o "número do veado", animal associado pejorativamente à homossexualidade. Historicamente, o número não existe nos uniformes de futebol masculino numa manifestação implícita de discriminação.
A omissão não acontece só no futebol. Em 2015, o gabinete nº 24 foi suprimido no Senado Federal e transformado em 26 sem qualquer explicação. Ambiente predominantemente masculino, com baixa representatividade, o fato destacou a institucionalização do preconceito. Com a troca de mandato, em 2019, a sequência das salas retornou à numeração normal.
Em setembro de 2019, o Bahia divulgou manifesto a favor da igualdade e respeito, dividindo seu público entre apoiadores e críticos:
"Diversas camadas de compreensão nos conduzem à conclusão de que futebol e sociedade se misturam. Portanto, não há equívoco em compreender nossas virtudes, limitações e desafios sociais a partir do futebol. No panorama social, a homofobia nos estádios é apenas uma pequena expressão do que acontece fora deles. A homofobia mata, oprime, deprime e provoca muitas feridas. Talvez essa realidade explique o afastamento das pessoas LGBTQI do ambiente do futebol"
O jogo desta terça-feira será contra o Imperatriz, do Maranhão, em Salvador, pela segunda rodada da Copa do Nordeste.
- O mito em torno do número 24 é uma grande bobagem que já passou da hora de ser ultrapassada. Precisamos desmistificar isso e aproveitar para debater o preconceito e a intolerância no futebol - disse o volante Flávio.
- O futebol é um canal que pode servir para acentuar o que há de pior na nossa sociedade, como o racismo, as agressões, a violência e a intolerância, mas também pode servir de uma forma diferente - para espalhar cultura, afeto, sensibilidade, melhoria das relações humanas. Achamos que os clubes têm de escolher se serão canais de amor ou ódio. Escolhemos o amor - afirmou Guilherme Bellintani, presidente do Bahia.
A ação não se limitará a essa partida e terá repetição em mais dois jogos do "Esquadrão de Aço" nesta semana: próxima quarta (29/1), contra o Bahia de Feira, e domingo (2/2), contra o Jacuipense, ambos pelo Campeonato Baiano.
A ação também serve como homenagem ao ídolo do basquete Kobe Bryant, falecido no último domingo em um acidente de helicóptero nos EUA. Ele atuava com a camisa 24 e se tornou uma lenda do esporte com ela.