CEP crê em menor interesse na política após S/A: ‘Sem o futebol, eleições ficam pouco atrativas’
Em entrevista exclusiva ao LANCE!, ex-presidente esclareceu dúvidas sobre como será feita a separação dos ativos do futebol do clube social após adoção do modelo clube-empresa
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O projeto "Botafogo S/A" promete resolver a situação financeira crítica vivida pelo Glorioso. Na última parte da entrevista exclusiva ao LANCE! do ex-presidente Carlos Eduardo Pereira, o dirigente esclareceu como ficará a situação do Botafogo Futebol e Regatas ao ser separado do esporte que tem a preferência nacional. Um dos responsáveis pela transição no modelo de gestão alvinegro, CEP esclareceu dúvidas de como se dará o processo de separação dos ativos do futebol (contratos, dívidas, Estádio Nilton Santos, futebol de base e CT) do clube social. O atual vice-presidente acredita que o interesse pela política interna vai diminuir consideravelmente após a conclusão de todo o processo.
– Os grupos políticos vão continuar existindo, não tenho a menor dúvida. Mas acho que as eleições de 2020 vão ser menos atrativas, porque sem o futebol e sem temas palpitantes, como a dívida, o debate vai ficar sobre o cloro da piscina, o guarda-sol, então vai ser um pouco diferente. Não vai ser tão apaixonante. Tirando a brincadeira, é importante olhar para o futuro. O clube tem que gerenciar bem esses recursos que vai receber, não pode bobear no sentido de deixar de pagar nada. Tem que trabalhar na quitação das dívidas e no acompanhamento do desempenho da S/A. É preciso estreitar o relacionamento com o investidor para que você possa saber como as coisas estão indo e para que não haja ruídos na relação.
A quitação das dívidas com o pagamento de royalties foi mencionada algumas vezes por Carlos Eduardo Pereira como um dos pontos altos do projeto. Segundo o plano de negócios apresentado na reunião do Conselho Deliberativo que aprovou a mudança, no mês passado, o Botafogo vive um cenário de crise financeira "dramática e terminal". Em razão de dívidas com atletas e funcionários, parte das receitas de transmissão de 2020 e de 2021 já penhoradas e sem recursos suficientes para continuar arcar com as despesas correntes, o Glorioso estaria sem crédito na praça e com um passivo que se aproxima de R$1 bilhão.
A solução apontada foi a separação do futebol, principal fonte de receita atual, e a chegada de investidores dispostos a adquirir as dívidas privadas do clube. Feito isso, a SPE (Botafogo S/A) que vai administrar o futebol, conseguiria ter dinheiro em caixa e pagar Royalties pelo uso da marca Botafogo e pelos ativos do futebol ao Botafogo Futebol e Regatas (clube-social). A ideia é quitar, dessa forma, todas as pendências trabalhistas e financeiras.
Além de receber Royalties pagos pela S/A, o clube-social vai se manter com a cobranças de taxas de manutenção, aluguéis e cessão de espaços, excedentes dos royalties, projetos incentivados e receitas de propaganda e publicidade. O dinheiro recebido pelo BRF de royalties, obrigatoriamente deverá ser destinado ao pagamento do Profut, dívidas renegociadas e créditos residuais.
– Dá para o clube social ficar de pé. Os royalites são exclusivos para pagar a dívida, eles vão ter destinação específica para pagar o Ato Trabalhista e o Profut, porque as dívidas cíveis devem ser negociadas diretamente com o grupo investidor. Excedentes do royalties seriam um percentual que o Botafogo venha a receber além do valor pago regularmente. Por exemplo, se a gente vender o Bochecha por R$200 milhões. Além do royalty mensal, o Botafogo terá direito a um percentual naquele momento da venda. É um dinheiro a mais que entra. É um excedente que vai para o caixa do clube social – explicou CEP.
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Como fica a situação dos esportes olímpicos?
- Todos os esportes olímpicos têm que buscar a autossuficiência com os projetos incentivados. Isso é fundamental. Todos eles. O basquete está trabalhando com isso, está tendo esta experiência agora. Esse é o caminho. Um projeto incentivado é uma forma de trazer recursos para o clube e desonerar as despesas do orçamento. É fundamental buscar captar projetos incentivados.
O clube vive uma crise interna entre os conselheiros?
- Pelo contrário, o Botafogo vive um momento bom e de muita consciência de que o que a gente precisa é o que está sendo feito. Todo mundo trabalha em conjunto, se esforça e se dedica. Quem não está consciente disto, está fora. Quem não entendeu que esse é o Botafogo, está fora. Se não saiu ainda, vai acabar saindo. O Botafogo não admite uma coisa diferente disso. O Botafogo precisa desse tipo de atuação, é o que ele espera de cada um de nós. É todo mundo remando na mesma direção para que a S/A dê certo e o clube volte a dar alegria para a torcida que trouxe o time no colo. O que a torcida fez nesse final de ano foi fantástico. É digno de todos os aplausos. Eu fico arrepiado de lembrar. Lembra os 21 anos de título que a gente ia torcer e nada e na próxima ia com mais vontade porque era o Botafogo que estava ali. Eles deram esse exemplo. O time perdia, mas eles mostraram que estavam com o Botafogo. Todos nós temos que seguir esse exemplo.
O que achou do fato do presidente Nelson Mufarrej abrir mão do seu "poder" pela adoção do modelo S/A?
- Esse momento é de todos nós. É um pouco da consciência comum de que você está envolvendo um outro ex-presidente, que é o Montenegro, que está muito envolvido nessa luta, e todos entendendo que é o melhor para o Botafogo. Chegou a um determinado estágio que não cabe mais você olhar divisões, grupos, outras separações ou vaidades. Efetivamente, todos pensamos no melhor para o Botafogo. Não tem mais aquela obrigatoriedade de cargo, não tem mais "você faz isso, o outro faz aquilo". Está todo mundo fazendo o que precisa ser feito, todo mundo colaborando e lutando para dar certo.
Em um grupo de e-mail com quase 300 sócios-proprietários, o ex-presidente do Conselho Fiscal Ricardo Wagner alfinetou a oposição após a conquista do título sul-americano de basquete. O que achou deste episódio?
- O Ricardo Wagner não enviou o e-mail ao Montenegro, tenho certeza que não. Foi para os opositores, o Godinho e o Thiago Pinheiro, que realmente faziam uma campanha exageradamente pesada contra o basquete, coisa que o Botafogo não precisa. O clube hoje precisa de uma atuação colaborativa. Não adianta, na hora que o barco está enfrentando uma tempestade, você atirar no capitão. Não faz sentido. Primeiro, tem que fazer o barco chegar ao destino, encontrar águas calmas. Depois, você reclama e cria as dificuldades. Não adianta viver fazendo acusações e usar um linguajar negativo em um momento como esses. Às vezes as pessoas estão em um pavio mais curto e se alteraram. Mas com certeza o Ricardo Wagner não fez nada contra o Montenegro e o título de basquete foi importante. Todo mundo ficou muito feliz, principalmente pelo Léo (Figueiró), é um grande batalhador.
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